FOLHA DE SP - 12/01
Ninguém precisa ser meteorologista para prever que a mudança do clima produzirá um dilúvio de notícias em 2013, após a estiagem criada pela alta pressão conservadora. O debate vai trovoar porque começam a reunir-se os fatores para uma tempestade perfeita.
Com exceção de 1998, os dez anos mais quentes da história foram registrados neste século. O de 2012 foi o mais escaldante dos EUA, castigado pelo furacão Sandy em outubro. Em setembro, o oceano Ártico bateu o recorde de menor extensão da calota de gelo em sua superfície.
Ganha impulso a guerrilha ideológica contra o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima). O colegiado de centenas de cientistas apresentará em setembro seu quinto relatório de avaliação (AR5), com o estado da arte das previsões para o aquecimento global.
Sua credibilidade sofreu baixas localizadas, como a polêmica sobre as geleiras do Himalaia. No quarto relatório (AR4, de 2007), redatores do IPCC haviam incluído relatórios de ONGs -e não trabalhos acadêmicos- como evidência de sua suposta retração.
Agora, houve o vazamento de capítulos do AR5, documento ainda sigiloso porque em fase de revisão. O texto foi divulgado no blog da jornalista canadense Donna Laframboise, que acusa o painel de reincidir no erro ao citar trabalhos da ONG WWF.
Isso não é proibido pelas diretrizes do IPCC, mas, de fato, parece imprudente. De qualquer maneira, as referências ainda podem ser expurgadas pelos revisores do texto, por ora um rascunho. A versão final sai em oito meses.
A mudança de ventos na negociação mundial sobre o clima, porém, depende menos do IPCC do que das oscilações de temperatura nos países que contam.
Nos EUA, Barack Obama, em seu segundo mandato, poderá animar-se a retomar o tema negligenciado no primeiro. Bom sinal foi ter escolhido para secretário de Estado o senador John Kerry -cuja mulher, Teresa Heinz, é pródiga apoiadora da causa ambiental.
Obama e Kerry ainda enfrentam um Congresso disposto a deitar gasolina no fogo (nunca a imagem foi tão apropriada). Mas logo ganharão um argumento para moderar o patriotismo petroleiro dos congressistas.
Economias como China, Índia e Brasil devem crescer com mais vigor neste ano e, em breve, contribuirão mais que o mundo rico para agravar o esfeito estufa. Será obrigatória sua participação, como exigem os ianques, em qualquer esforço para domar o aquecimento global.
Isso, claro, se nenhum raio lançar esses países, ou a economia mundial, nas trevas.
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