Os jornais dizem que no Japão as moças não querem mais se casar, muito menos ter filhos. Elas preferem a liberdade e a independência financeira proporcionadas pela carreira profissional. O resultado dessa escolha é que as taxas de natalidade do país estão desabando. A cada ano morre mais gente do que nasce. Virou um drama nacional. Logo, logo o Japão terá de importar bebês, como hoje importa ferro e petróleo.
No Brasil não temos nenhum dos dois problemas, pelo contrário. As moças brasileiras ainda querem casar e ter filhos. Um pouco mais tarde do que antes, mas querem. Na minha geração, na classe média, a pressão para casar (ou simplesmente morar junto), começava no fim da faculdade, ali pelos 22 anos. Partia, quase invariavelmente, das mulheres. Agora, tenho a impressão de que elas começam a falar do assunto alguns anos mais tarde. Mas a iniciativa ainda costuma ser delas, e certamente se manifesta antes que façam 30.
Nem sempre as mulheres lidam com esse assunto de uma forma equilibrada, porém. Tenho uma amiga que depois de apenas seis meses de namoro já está em desespero com a recusa do parceiro em se casar. Seis meses... Ela tem 26 anos e o cara tem 30, mas quem escuta ela falar do assunto imagina que ambos têm 10 ou 15 anos a mais. Minha sensação é que a história não vai acabar bem. Diante do comportamento de afogada dela, o sujeito tende a cair fora, e talvez seja melhor assim.
Há poucas coisas que atrapalham mais a vida dos casais do que a sensação de que alguém foi forçado ao casamento. Se você tem pouco mais de 20 anos e sua namorada tenta lhe aplicar uma chave de braço – “ou casamos agora ou vai cada um para o seu lado” – a resposta razoável seria “ainda não estou pronto, meu amor”. Mas não. Muitos cedem à pressão, mesmo cheios de dúvida, mesmo intuindo que essa não é a coisa certa a se fazer. Logo depois do casamento, quem foi posto na parede vai começar a se sentir infeliz, e rapidamente arrumará um jeito de fazer com que o outro se sinta da mesma forma. É o que o escritor americano Philip Roth chamou de “aquele casamento ruim que a gente faz aos 20 anos”. Era mais comum na minha geração, mas ainda existe por aí.
Apesar desse descompasso, é preciso manter a calma.A frustração feminina diante de dificuldade de fazer com que os homens assumam compromissos não acontece apenas quando eles têm 20 anos, e certamente não é somente brasileira. Recebi outro dia um livro chamado Por que você não se casou... ainda, escrito pela roteirista de TV americana Tracy McMillan. Com três casamentos e três divórcios no currículo, além de um filho de 14 anos, ela jura que entende os homens. Diz que sabe o que eles desejam e o que buscam numa mulher para casar. Ficou interessada? Pois a resposta dela é simples: os homens querem mulheres legais.
“Ser legal é ser suave, divertida, gentil e, aham, penetrável”, escreve a casamenteira americana. “Uma garota pode ser gostosa, sexy, poderosa, inteligente, dinâmica e interessante, mas, se não for meiga, a maioria dos homens não vai querer casar com ela.” O contrário da mulher legal, com quem segundo Tracy todos os homens estão loucos para casar, seria a megera, aquele tipo controladora, brava e sarcástica, que assusta os homens com a sua atitude hostil. Como parte dos homens que eu conheço está casada ou foi casada com megeras controladoras, acho essa receita discutível, mas eu posso estar errado.
Minha impressão é que no Brasil de 2013 se vive um problema que vai um bocadinho além das fórmulas de auto-ajuda. Os homens estão ariscos diante do casamento porque a situação dos jovens atraentes (aqueles com quem boa parte das mulheres quer se casar) é extremamente confortável. Sobra sexo, sobram experiências emocionais interessantes, por que ter pressa em trocar isso pela monogamia e pelos prazeres estafantes da vida familiar? É uma questão real e complicada, meio inversa àquela que acontece no Japão. Não sei se as estatísticas captam isso, mas a sensação que tenho nas conversas é que muitos homens estão adiando a decisão de casar para um futuro distante, o que significa pensar no assunto depois dos 30 anos. Isso faz sentido para eles, mas não combina com o relógio biológico das mulheres. Se elas começarem a pensar em casamento muito depois dos 30, pode faltar óvulos para fazer uma família. A história de que os 50 são os novos 30 ainda não vale para a biologia.
Há muitos homens por aí dispostos a se apaixonar e assumir compromissos, mas talvez nenhum deles seja aquele bonitão sexy e másculo que está pegando todas as suas amigas. Esse pode não estar disponível, e escolher bem ajuda a não ficar sozinha. Depois tem a negociação. Morar junto ou casar sempre implica em algum tipo de disputa, mas ela precisa ser conduzida sem desespero e sem truques. Pressionar e iludir pode produzir resultados imediatos, mas explode logo ali na frente. Cativar, envolver e tomar parte funciona melhor, eu acho. Há que ter alguma paciência também. Todo mundo procura uma cara metade, mas as pessoas precisam perceber isso por conta própria. Há gente, porém, que nunca vai perceber - e um dos segredos da existência é saber dar meia volta e renunciar ao se deparar com uma pessoa dessas. Quem quer ser feliz com um parceiro não pode se dar ao luxo de se apaixonar por um drama e gastar anos preciosos da vida correndo atrás de um amor impossível.
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