sábado, janeiro 12, 2013

Crise de confiança na economia - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 12/01


Terceiro ano de inflação alta, câmbio ‘tabelado’ , manipulação em dados fiscais e incertezas na energia não ajudam na retomada dos investimentos



Poderia ser melhor o início da segunda metade do mandato da presidente Dilma. Inflação em patamar elevado, pelo terceiro ano consecutivo, conjugada com baixo crescimento, é preocupante, principalmente numa economia em que ainda existem mecanismos de indexação, capazes de criar fortes barreiras de resistência à queda de preços depois de um certo limite de alta e que persista durante algum tempo. O IPCA fechou o ano passado em 5,84%, mais uma vez distante do centro da meta (4,5%). Nos dois anos anteriores, 6,5% (2011), no limite superior da meta, e 5,91% (2010). Enquanto isso, os juros básicos, instrumento à disposição do Banco Central para conter a inflação, se mantêm no nível histórico mais baixo: 7,25%.

O BC aproveitou de maneira competente a “janela” aberta pelo agravamento da crise europeia e fez um substancial corte nas taxas, o que parecia impossível. Deu certo, mas a questão mais ampla da economia — retomar o crescimento em bases equilibradas — continua em aberto. Não é apenas a conjugação indigesta de crescimento na faixa de 1% e inflação alta que alimenta desconfianças. O conjunto da obra é que preocupa. Afinal, qual mesmo a política econômica em curso?

Quando Lula assumiu, em 2003, e manteve a estratégia do tripé — metas de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante —, houve um alívio geral, e, com aquilo, ele garantiu que o país pudesse aproveitar ao menos parte da onda de crescimento sincronizado das grandes economias mundiais, puxado pela China.

Hoje, há quem tema que esta política tenha sido revogada sem anúncio formal — o que aumenta a insegurança. O centro da meta de inflação, por exemplo, parece ter deixado de ser um alvo prioritário. Se o objetivo era baixar os juros, que assim fosse. Tudo em nome do crescimento — que não veio. Ficou claro, então, o limite da política monetária como ferramenta de indução do crescimento. O mundo, hoje, está repleto de exemplos deste tipo

O câmbio, ao flutuar, compensa choques externos. Como, além dos juros, o câmbio foi identificado como outra barreira para a indústria competir no mundo, e como há amplas reservas externas, parece ter havido um “tabelamento”: o câmbio deve ficar acima dos R$ 2.

A desvalorização do real, porém, gerou pressões inflacionárias — o país depende muito mais de componentes importados do que quando o câmbio era instrumento de política industrial, na ditadura —, e a produção não reagiu como o governo imaginava. Enquanto isso, os salários continuam a subir acima da produtividade, mau sinal.

Já a outra perna do tripé, a responsabilidade fiscal, acaba de ser vítima da trapalhada em alta dose da manipulação de dados para embonecar o superávit fiscal do ano passado.

Some-se tudo com as incertezas energéticas para se ter uma ideia das dificuldades que enfrenta o investidor privado na tentativa de enxergar algum horizonte claro para seu negócio.


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