O Estado de S.Paulo - 15/01
Não são confortáveis, seja qual for o ângulo de avaliação, as perspectivas para a inflação, neste ano que está começando. O IPCA, índice de preços ao consumidor que serve de baliza para o sistema de metas de inflação, fechou mal 2012 e dá sinais de que começará mal 2013.
Mais do que a variação forte em dezembro, alcançando 0,79%, acima das expectativas do mercado, chamou a atenção a persistência do índice de difusão, que sinaliza o quanto as pressões dos preços estão disseminadas pelos itens que compõem o IPCA. Em dezembro passado, 70% deles registraram altas de preços, configurando o maior espalhamento em quatro anos.
Assim como em 2011, o mais provável é que, no acumulado em 12 meses, a variação do IPCA, mês a mês, supere os 6,5% do teto do intervalo da meta de inflação definida para 2013. Analistas só esperam um alívio a partir do quarto trimestre do ano, com a eventual distensão liderada pelos alimentos.
É esse alívio que faz a mediana das projeções do momento, coletadas pelo Boletim Focus, do Banco Central, apontar para uma evolução de 5,6%, no fechamento do ano, abaixo do registrado em 2012 e 2011. Se confirmada a estimativa, o índice terá ficado dentro do intervalo das metas, mas acima do seu centro, como ocorrido em 12 dos 15 anos de vigência do sistema.
As pressões inflacionárias mais importantes, em 2012, como no ano anterior, vieram dos alimentos e do setor de serviços. Os alimentos produziram, a partir de meados do ano, choques de oferta, com origem principal em aumentos de cotações internacionais, que refletiram quebras de safras nos Estados Unidos, em razão de uma seca forte e prolongada. As altas nos serviços, de seu lado, espelham as dinâmicas do mercado de trabalho e estas continuam favoráveis a pressionar os preços, como, aliás, ocorre há pelo menos cinco anos.
Safras mais abundantes, tanto no Brasil como no mercado internacional, tendem a reduzir, este ano, o peso dos alimentos no IPCA. Os componentes dos serviços, no entanto, continuarão com forte presença nas altas de preços, evoluindo acima da média dos outros setores. Como eles respondem por cerca de um terço do índice, seu impacto negativo sobre o ritmo de convergência da inflação para o centro da meta será relevante.
Não daria muito trabalho listar uma série de outros preços importantes para os quais se projetam efeitos positivos e negativos sobre os índices de inflação, em 2013, com potencial para uns compensarem outros, neutralizando variações para cima ou para baixo. Ao previsível aumento dos preços dos combustíveis, por exemplo, pode-se contrapor a previsível redução das tarifas de energia elétrica.
Altas em tarifas de transportes urbanos e nos preços de automóveis e eletrodomésticos, represados em 2012, do mesmo modo, podem ser compensadas pelo reajuste menor do salário mínimo. E por aí vai, sem falar na dinâmica de variáveis macroeconômicas, tais como os efeitos deflacionários de uma previsível estabilização da taxa de câmbio ou de ligeira apreciação cambial, neutralizáveis, por sua vez, pelos impactos inflacionários de um também possível ritmo melhor de crescimento da economia.
No balanço das pressões entre opostos nas tendências da inflação, sobressai a necessidade de redobrar cautelas e cuidados nas projeções das variações dos índices de preços, diante do ambiente volátil em que eles devem evoluir. Seria arriscado, em resumo, tanto apostar em descontrole das taxas de inflação quanto cravar fichas numa convergência rápida para o centro da meta.
Não há risco quase nenhum, contudo, em projetar a trajetória do IPCA em 2013 - e possivelmente em 2014 - em patamares desconfortavelmente altos. Nem em considerar que, em razão da difusão das pressões inflacionárias, encolheu o intervalo de manobra da política econômica.
Um conjunto acima do normal de "trade offs" - jargão dos economistas para designar escolhas conflitantes, em que a solução de um problema pode causar outro - assombrará, neste ano, a ação econômica do governo. Um dos mais evidentes, embora nem de longe o único, é o que envolve a política cambial.
Desvalorizar a taxa de câmbio teria, certamente, impacto benéfico sobre os investimentos, a variável crucial da equação econômica do momento, e a competitividade geral da abalada indústria brasileira. Mas sua consequência deletéria sobre uma inflação já pressionada inviabiliza completamente a alternativa.
Mais do que a variação forte em dezembro, alcançando 0,79%, acima das expectativas do mercado, chamou a atenção a persistência do índice de difusão, que sinaliza o quanto as pressões dos preços estão disseminadas pelos itens que compõem o IPCA. Em dezembro passado, 70% deles registraram altas de preços, configurando o maior espalhamento em quatro anos.
Assim como em 2011, o mais provável é que, no acumulado em 12 meses, a variação do IPCA, mês a mês, supere os 6,5% do teto do intervalo da meta de inflação definida para 2013. Analistas só esperam um alívio a partir do quarto trimestre do ano, com a eventual distensão liderada pelos alimentos.
É esse alívio que faz a mediana das projeções do momento, coletadas pelo Boletim Focus, do Banco Central, apontar para uma evolução de 5,6%, no fechamento do ano, abaixo do registrado em 2012 e 2011. Se confirmada a estimativa, o índice terá ficado dentro do intervalo das metas, mas acima do seu centro, como ocorrido em 12 dos 15 anos de vigência do sistema.
As pressões inflacionárias mais importantes, em 2012, como no ano anterior, vieram dos alimentos e do setor de serviços. Os alimentos produziram, a partir de meados do ano, choques de oferta, com origem principal em aumentos de cotações internacionais, que refletiram quebras de safras nos Estados Unidos, em razão de uma seca forte e prolongada. As altas nos serviços, de seu lado, espelham as dinâmicas do mercado de trabalho e estas continuam favoráveis a pressionar os preços, como, aliás, ocorre há pelo menos cinco anos.
Safras mais abundantes, tanto no Brasil como no mercado internacional, tendem a reduzir, este ano, o peso dos alimentos no IPCA. Os componentes dos serviços, no entanto, continuarão com forte presença nas altas de preços, evoluindo acima da média dos outros setores. Como eles respondem por cerca de um terço do índice, seu impacto negativo sobre o ritmo de convergência da inflação para o centro da meta será relevante.
Não daria muito trabalho listar uma série de outros preços importantes para os quais se projetam efeitos positivos e negativos sobre os índices de inflação, em 2013, com potencial para uns compensarem outros, neutralizando variações para cima ou para baixo. Ao previsível aumento dos preços dos combustíveis, por exemplo, pode-se contrapor a previsível redução das tarifas de energia elétrica.
Altas em tarifas de transportes urbanos e nos preços de automóveis e eletrodomésticos, represados em 2012, do mesmo modo, podem ser compensadas pelo reajuste menor do salário mínimo. E por aí vai, sem falar na dinâmica de variáveis macroeconômicas, tais como os efeitos deflacionários de uma previsível estabilização da taxa de câmbio ou de ligeira apreciação cambial, neutralizáveis, por sua vez, pelos impactos inflacionários de um também possível ritmo melhor de crescimento da economia.
No balanço das pressões entre opostos nas tendências da inflação, sobressai a necessidade de redobrar cautelas e cuidados nas projeções das variações dos índices de preços, diante do ambiente volátil em que eles devem evoluir. Seria arriscado, em resumo, tanto apostar em descontrole das taxas de inflação quanto cravar fichas numa convergência rápida para o centro da meta.
Não há risco quase nenhum, contudo, em projetar a trajetória do IPCA em 2013 - e possivelmente em 2014 - em patamares desconfortavelmente altos. Nem em considerar que, em razão da difusão das pressões inflacionárias, encolheu o intervalo de manobra da política econômica.
Um conjunto acima do normal de "trade offs" - jargão dos economistas para designar escolhas conflitantes, em que a solução de um problema pode causar outro - assombrará, neste ano, a ação econômica do governo. Um dos mais evidentes, embora nem de longe o único, é o que envolve a política cambial.
Desvalorizar a taxa de câmbio teria, certamente, impacto benéfico sobre os investimentos, a variável crucial da equação econômica do momento, e a competitividade geral da abalada indústria brasileira. Mas sua consequência deletéria sobre uma inflação já pressionada inviabiliza completamente a alternativa.
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