CORREIO BRAZILIENSE - 15/01
Bastou passar a primeira quinzena de janeiro para que jornais e revistas deflagrassem uma onda de reportagens envolvendo o candidato a presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Ele não irá desistir da candidatura por causa das denúncias de que suas emendas beneficiaram a empresa de um assessor. A ordem é tentar atravessar o tiroteio torcendo para que esses 20 dias até a eleição passem depressa de forma a não contaminar as bancadas a ponto de deixar uma maioria disposta a rever apoios declarados a Henrique em dezembro.
A equação, entretanto, não é tão simples assim. O Brasil mudou. E o Congresso não é mais aquela corrente de deputados contra a imprensa. Uma coisa é um deputado envolvido em caso semelhante a esse receber a solidariedade dos colegas num pronunciamento em que tenta explicar um imbróglio, seja qual for. Outra coisa é votar para presidente da Casa, fazendo do parlamentar em questão a imagem da Câmara. E já tem gente nos bastidores fazendo esse discurso.
Além disso, se Henrique chegar ao ponto de ter que ficar se explicando o tempo todo, nada impede que o PT se assanhe e tente romper o acordo com o PMDB. Vale lembrar que, antes da eleição municipal, houve um discreto movimento em prol de Arlindo Chinaglia (PT-SP), atual líder do governo. A movimentação não prosperou e não foi apenas por conta do acordo entre PT e PMDB para o rodízio entre os dois partidos no governo Dilma.
O que deu errado para os petistas ali foi o resultado da eleição municipal, quando o PSB de Eduardo Campos “engrossou o pescoço” para sustentar uma possível cabeça de chapa ao Planalto. De bate pronto, a estratégia petista foi se voltar ao PMDB e garantir o cumprimento do acordo assinado no fim de 2010 entre os comandantes José Eduardo Dutra, do PT, e Michel Temer, do PMDB. Foi então que Henrique Eduardo Alves se consolidou como candidato a presidente da Casa.
Para evitar que esse acordo se rompa na hipótese de um enfraquecimento maior de Henrique, alguns deputados têm procurado a vice-presidente da Casa, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), uma das candidatas a comandante da Câmara. Para os peemedebistas, o pior cenário seria a Presidência da Câmara terminar nas mãos do quarto-secretário, o deputado Júlio Delgado, do PSB de Minas Gerais.
Uma vitória de Delgado fortalece Eduardo Campos e, a depender dos horizontes e possibilidades futuras, pode comprometer a manutenção de Michel Temer na vice de Dilma no que vem. A opção por Rose não abala os planos do PMDB de fazer de Michel Temer candidato a vice na chapa da presidente Dilma Rousseff, enquanto Júlio Delgado fortalece o nome de Eduardo Campos, do PSB. O PMDB registrou o convite de Dilma para o almoço em Salvador e a audiência ontem em Brasília, onde Eduardo e Dilma acertaram uma viagem da presidente a Pernambuco em 18 de fevereiro.
Nos próximos dias, vale acompanhar de perto as movimentações de Rose de Freitas e de Júlio Delgado. Afinal, com as denúncias a respeito de Henrique Alves, tanto Rose quanto Júlio ganham um discurso para buscar votos justamente nesta reta final. Enquanto isso, caberá a Henrique Alves, em vez de buscar votos, tecer explicações e se desviar da pancadaria que caracteriza esse corredor polonês que ele atravessa a fim de chegar um pouco mais forte logo ali, em 4 de fevereiro.
Enquanto isso, no Senado...
Em um corredor paralelo ao que Henrique atravessa está o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Candidato a presidente do Senado, Renan passou os últimos dias sob uma capa de invisibilidade e viu seu nome lembrado apenas a titulo de memória sobre os maus bocados que passou em 2009, como um apêndice às notícias sobre Henrique Alves. Seus aliados torcem para que a situação não se inverta até 1º de fevereiro, data da eleição do comandante da Casa.
Até aqui, Renan ficou invisível porque o Regimento do Senado estabelece que a Presidência cabe ao maior partido, no caso, o PMDB. E nenhum outro nome da legenda tem a preferência da maioria, pelo menos, até agora. Henrique Eduardo Alves não teve a mesma sorte. Precisou se apresentar e fazer campanha com o PT, o PSB e parte do PMDB em seu encalço. Agora, ainda vêm as denúncias. Não é à toa que muitos comparam o Senado ao céu. Ali, até corredor polonês pode parecer um passeio.
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