domingo, janeiro 06, 2013
Em busca de caminhos - ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 06/01
Ganha força entre os analistas a tese que o modelo de crescimento baseado no mercado interno de esgotou. Vai continuar dando o que já deu, e é muito, mas o recuo de outros setores de atividade econômica, revelado pelo PIB de 1%, este ano, mostra suas limitações. Há sempre espaço para aumentar o consumo, há o novo salario mínimo que injetará R$ 32 bilhões na economia, mas os outros setores não só não reagem, alguns recuam. A exceção é o automobilístico, aumento de 4,65% em 2013, mas por causa de incentivos provisório, com prazos para terminar. A produção geral da indústria diminuiu nos últimos meses apesar dos estímulos fiscais do governo.
Dos quatro grandes componentes da demanda interna, consumo privado e gasto geral do governo continuaram crescendo, mas os outros dois, investimento privado e exportação recuaram.
Em vários artigos publicados no Estado de economistas de expressão, entre os quais Luciano Coutinho e José Roberto Mendonça de Barros, a coluna dá especial atenção, ao diagnóstico unânime: a economia só volta a crescer se houver investimento. Poderíamos até dizer que ela recuou quando os investimentos caíram cinco meses consecutivos. Ninguém mais duvida, ninguém mais contesta, mas fica a pergunta: por que nem o setor privado nem o governo reagiram e investiram este ano?
Governo sem rumo. A impressão que vem de Brasília é que a equipe econômica está ainda em busca do caminho. Não sabe por onde seguir. Tentou muito, não deu certo. Os empresários relutam diante das incertezas mais internas do que externas. Falta confiança e há preocupação com as sucessivas intervenções no governo, tornando as regras menos claras e menos seguras. Há insegurança.
O ultimo relatório de inflação do Banco Central foi incisivo e diz textualmente: "A lenta recuperação da confiança (dos empresários) contribuiu para que os investimentos ainda não mostrassem reação após estímulos introduzidos na economia". Há sem dúvida outros fatores, câmbio, juros ainda mais altos do que os praticados pelos nossos competidores, subsídios, crédito generoso que eles oferecem à produção interna e exportação - mas certamente a falta de confiança do empresário tem sido o fator decisivo. Enquanto isso, ele prefere continuar utilizando a seu favor aqueles mesmos benefícios que os nossos competidores, principalmente a China, oferecem aos seus produtores e passam a importar a preços menores para atender à demanda interna. Ela cresce, sim, mas, ironicamente, acaba beneficiando nossos exportadores. Não é um fato novo, que deixou de levantar no correr do ano fortes protestos contra a desindustrialização de importantes setores. Agora pouco se fala disso. E produtores e consumidores continuam comprando produtos importados a preços menores, o que até ajuda a conter a inflação.
O que se espera. Até agora, pouco se sabe sobre o que a equipe econômica está preparando em Brasília. A presidente Dilma Rousseff afirmou que vamos iniciar o ano investindo, destravou o que poderia impedir a liberalização de recursos oficiais, fez mais dois apelos para que o setor privado confie e invista. O governo vai convocar reunião com os bancos e instituições financeiras para que ofereçam mais crédito - mas permanece a questão se haverá demanda para esses empréstimos nas condições atuais suficiente para reanimar a atividade econômica.
Há a ideia do que se poderia chamar novo modelo econômico baseada em juro menor e ideia de cambio, à qual o Banco Central reage porque real muito acima de R$ 2 - a indústria pede R$ 2,4 - acaba pressionando a inflação e anulando os benefícios do câmbio. O Banco Central manteve o dólar em torno de R$ 2 nos últimos dias do ano.
É este o cenário no início de um ano que vai ser difícil, com o Brasil tendo armado todas as condições para se defender da crise e da recessão externa, mas não dá ainda sinais de estar preparado para crescer. Como afirma o colega Rolf Kuntz, competente colunista econômico da imprensa brasileira, em artigo no do último dia 2, é preciso "mais voluntarismo" do governo, mais decisões.
Mas, para a coluna, parece que a equipe econômica está ainda em busca de caminhos.
Projeções do mercado mostraram poucas alterações no encerramento do ano passado, com o consenso para 2013 apontando para taxa de juros estável, câmbio praticamente constante, Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 3,3%, e acelerando em relação ao ano passado, e IPCA subindo 5,47%, de acordo com o Relatório Focus - divulgado na última segunda-feira pelo Banco Central, com estimativas coletadas até o dia 28 de dezembro. A mediana das expectativas para o IPCA mostrou leve ajuste de alta para 2012, passando de 5,69% para 5,71%, ficando estável em 5,47% para 2013. Ao mesmo tempo, a estimativa de crescimento do PIB novamente recuou de 1% para 0,98% para 2012 e seguiu em 3,3% em 2013. A mediana da projeção para a taxa Selic ficou inalterada em 7,25% para este ano. Por fim, as projeções para a taxa de câmbio em 2013 apontaram para discreta desvalorização, passando de R$ 2,08 o dólar para R$ 2,09, considerando a expectativa para final de período.
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