As portas de 2013 se abrem para a política com algumas apostas — ou quem sabe blefes — bastante ousadas. A maior delas vem da ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. A perspectiva de montar um partido e, em torno dele, algumas teses, como a da Nova Política, prometem provocar solavancos nas carroças e reorganizar as melancias. Para onde ela se mover, seja no plano nacional, seja numa candidatura ao Governo do Distrito Federal, tende a balançar as estruturas pré-fabricadas para 2014. Vamos ao histórico: Marina obteve 19.636.359 votos, 19,33 % do total (votos válidos) na eleição presidencial de 2010. Dois anos depois, apesar das poucas aparições em campanhas municipais, fechou a última pesquisa eleitoral de 2012 com 18% das intenções de voto para presidente da República.
Esse percentual de eleitores não é nada desprezível. No caso do DF, como bem demonstrou a repórter Karla Correia na edição de sexta-feira do Correio Braziliense, foram 611 mil votos, 41% dos votos válidos, percentual acima de Dilma Rousseff e de José Serra. Se conseguir emplacar uma candidatura, ela tem tudo para chegar ao segundo turno.
Mas há uma equação que não fecha. Marina quer ter um partido próprio. E quem quer montar um partido, tendo 18% das intenções de voto para presidente da República, tende a optar pela disputa nacional. Ok, Marina pode ser diferente, mas vamos aos fatos de hoje: falta à ex-ministra o principal nessa história toda — o partido, de forma a garantir presença na temporada eleitoral de 2014.
A legislação exige que qualquer candidato esteja filiado um ano antes do pleito. E, agora, todos os prazos correm contra ela. Um partido, para ser criado precisa obter registro em, pelo menos, nove estados e, no mínimo, 490 mil assinaturas de eleitores que devem ser conferidas. Para se ter uma ideia de como esse serviço dá trabalho, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab começou a trabalhar o PSD logo depois da eleição de 2010. Seu partido “nasceu” apenas em setembro de 2011, dentro do prazo para concorrer às eleições municipais do ano passado. E olha que o PSD chegou com cara de adulto, com 55 deputados federais, dois governadores, seis vice-governadores e a prefeitura de São Paulo, que corresponde ao terceiro orçamento do país. Marina não chegaria sequer com metade dessa estrutura.
Se Kassab demorou quase dois anos e o parto se deu próximo à marca dos 45 minutos do segundo tempo, as apostas são de que Marina dificilmente conseguirá montar esse partido dentro do prazo legal. Imagine, então, leitor, a seguinte situação: Marina percorre o país formando a sua legenda ao longo do primeiro semestre. Corre daqui, vai acolá, colhe as assinaturas e… o partido não sai por conta do prazo. Seus seguidores dirão que ela foi perseguida, que “as elites” não deixaram Marina formar uma sigla a tempo de ser candidata. Então, com ares de vítima, ela terá que se filiar às pressas se quiser concorrer a qualquer mandato eletivo.
É esse problema que está segurando os deputados federais interessados em seguir para o partido de Marina. Ninguém quer arriscar ficar sem o direito de concorrer a um novo mandato. Ainda mais sair de um partido médio, com tempo de TV, para um menor, hipótese bastante provável, especialmente se alguns desistirem em cima da hora de mudar de legenda. Por isso, há quem diga que esse novo partido de Marina pode ser a alavanca para impor um novo projeto a uma das legendas existentes. Vamos aguardar.
Enquanto isso, no DF...
Por aqui, há uma profusão de partidos ainda sem candidato a governador que surja como “aquela promessa”. O PDT, por exemplo, no plano nacional, tem o ministro do Trabalho (Brizola Neto), aliado de Dilma, mas está dividido sobre apoiá-la no futuro. No DF, tem o deputado José Antonio Reguffe e o senador Cristovam Buarque. Cristovam já disse que não concorre contra o PT, e ao que tudo indica, o governador Agnelo Queiroz será candidato à reeleição. Reguffe não saiu da toca.
As declarações de Cristovam soam como um sinal de “olha eu aqui”. Se o novo partido sair e Marina declinar da disputa presidencial para concorrer ao DF (o que muitos hoje não acreditam), a vaga de presidenciável estaria aberta. E nada impede que esse aliado seja Cristovam. Nunca é demais lembrar que ele deixou o PT para concorrer à Presidência contra Lula em 2006. Marina fez o mesmo para disputar contra Dilma em 2010. E ninguém descarta que ele repita a dose em 2014, na hipótese de um novo partido. Seriam dois ex-ministros de Lula juntos contra Dilma. Não é à toa que a presença de Marina balança estruturas. Resta saber se dentro de um novo partido ou fora dele. E esse partido, a depender do andar da carruagem, pode perfeitamente ser o PDT. Por isso, leitor, faça suas apostas, mas cuidado com os blefes. Nessa temporada de ano pré-eleitoral, blefes surgem nos quatro cantos da política.
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