domingo, janeiro 06, 2013
Corda esticada - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 06/01
A Carta do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas adverte para o risco de excessivo aquecimento do mercado de trabalho impedir o crescimento econômico mais elevado do que esses PIBs miseráveis obtidos nos dois últimos anos no Brasil.
Em artigo publicado no Estadão no dia 1.º, José Pastore, especialista em Economia do Trabalho, adverte que a disparada do custo da mão de obra tende a tirar ainda mais competitividade da indústria em 2013.
O governo Dilma festeja o pleno emprego, de causar inveja a tanto país avançado, especialmente agora que o nível de desocupação vai prostrando os Estados Unidos e, principalmente, a Europa. Mas não mostra prontidão em atacar os efeitos colaterais ruins. O único setor do governo que mostra preocupação com as consequências negativas daí provenientes é o Banco Central. Há meses vem advertindo que o mercado de trabalho esticado demais vem concorrendo para puxar os custos de produção e a inflação, porque não vem acompanhado por programas de aumento da produtividade. Mas o Banco Central para por aí; não dá sugestões para enfrentar o problema.
O segmento da economia que mais tem contribuído para o aumento de postos de trabalho no Brasil é o de serviços. É um setor de utilização intensiva de mão de obra. E também é o que abre maiores oportunidades para as atividades autônomas (trabalho por conta própria). Isso significa, observa a Carta do Ibre, que a desaceleração do setor de serviços (e também do PIB) pode estar associada à progressiva escassez de mão de obra. É uma situação que pode afetar, em especial, a indústria. Se precisar expandir seus quadros de pessoal, enfrentará em 2013 um problema adicional: o da baixa qualificação da mão de obra disponível.
Em outras palavras, a relativa escassez de mão de obra e sua baixa produtividade podem estar derrubando o potencial de crescimento da economia. Se esse diagnóstico estiver correto, ainda não será em 2013 que a presidente Dilma terá o seu tão almejado "pibão".
A expansão do mercado de trabalho tem de ser festejada, sim. É um dos principais objetivos da política econômica. Mas é necessário, ainda, enfrentar seus efeitos colaterais adversos.
São três as principais providências que podem ser tomadas para lidar com o problema. A primeira delas é dar mais atenção à qualidade do ensino e ao treinamento profissional, para que aumente substancialmente a produtividade do trabalho (mas é medida que produziria soluções apenas a longo prazo). Outra é induzir as empresas a investir em automação e em Tecnologia da Informação (outra iniciativa cujos resultados também surgiriam só em alguns anos).
A terceira providência, já mencionada por esta Coluna em outra oportunidade, é facilitar a imigração de mão de obra qualificada. Há enorme disponibilidade de profissionais preparados nos países industrializados, especialmente na Europa. Mas a legislação brasileira ainda desestimula a concessão de vistos a estrangeiros interessados em trabalhar no Brasil, porque pede papéis demais.
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