terça-feira, novembro 13, 2012

O descarte de Kassab - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 13/11

Primeiro, foi o PMDB. Depois, o PSB. Agora, chegou a vez do PSD. A presidente Dilma Rousseff, aos poucos, vai tentando alinhavar acordos para permitir que os projetos do governo caminhem no Congresso sem sustos. No caso do PSD, trata-se do ingresso de novos atores no governo e na base aliada. Embora o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, declare seu partido independente, está cada vez mais claro que ele prefere jogar ao lado da presidente do que da oposição. E, assim, a dois meses de deixar o mandato, Gilberto Kassab consegue a façanha de “migrar” do governo do PSDB para o do PT. Sem escalas.

Embora exista em alguns setores uma certa má vontade para com o PSD, é bom que se deixe claro que o partido não é nada desprezível. Foi criado a menos de dois anos e hoje é a quarta maior bancada da Câmara. Obviamente, contou com a sorte de ter sido o primeiro a surgir no cenário em um momento em que o DEM abrigava um grupo interessado em sair da postura de oposição ferrenha ao governo. Ainda que tenha sido “sorte”, soube ousar na hora certa. E agora o partido está aí e será um dos jogadores a se prestar atenção nas composições a curto e médio prazos. E nem o fato de deixar a prefeitura paulistana daqui a dois meses pode ser visto como um fator que tire esse caráter de um partido a ser observado.

Nesse sentido, embora a sucessão presidencial ainda esteja distante — ainda temos um ano e oito meses até o início oficial da próxima campanha para presidente da República —, já é possível saber para onde tende o olhar do quase ex-prefeito de São Paulo. Kassab e sua bancada estão hoje bem mais próximos de Dilma, com quem o prefeito jantou ontem, do que do PSDB. Portanto, a dúvida dos pessedistas não é nem se vale a pena apoiar o governo ou a oposição daqui a menos de dois anos. O que passa pela cabeça dos aliados de Kassab é escolher entre seguir com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, caso ele seja mesmo candidato, ou ocupar o lugar do PSB na base de Dilma, o que não pode ser descartado. Isso porque o partido de Kassab ficou maior do que o próprio PSB.

Como ainda é impossível fechar desde já um caminho seguro rumo a 2014, porque ainda faltam alguns fatores, o prefeito vai tratando de juntar algumas cartas, mas solta outras. Até agora, a única carta que ele descartou foi a que tem a figura do ex-governador de São Paulo José Serra. Embora, há alguns meses, tenha se mencionado a hipótese de Serra sair do PSDB para concorrer à Presidência da República pelo PSD, esse momento passou. Entre os aliados de Kassab, ninguém cogita hoje essa hipótese.

Por causa da baixa avaliação com que deixará o governo de São Paulo, há, dentro do partido, quem considere essa aproximação com o governo Dilma — com a perspectiva de ocupar um ministério — uma boa vitrine para se somar ao governo de Santa Catarina capitaneado por Raimundo Colombo, o posto de maior visibilidade do partido hoje.

Ao mesmo tempo em que participa de jantar com Dilma, Kassab não perde o contato com o governador de Pernambuco, a quem considera um dos políticos mais talentosos da sua geração. Mas o prefeito paulistano não é tão fiel a Campos neste momento ao ponto de deixar trincar sua recém-construída relação com o Palácio do Planalto. Por isso, ele mantém a tendência do PSD de apoiar a candidatura de Henrique Eduardo Alves a presidente da Câmara. Nesse sentido, está cada vez mais claro que, enquanto 2014 for uma réstia de luz que muitos partidos começam a ver no horizonte, sem contornos definidos, Kassab continuará com essas duas cartas em mãos. E, se a mesa rodar e Serra continuar solto, ele pode inclusive resgatá-lo ali na frente. Afinal, como ouvi de um experiente político recentemente, quem conhece dessa arte não despreza aliados, não transforma adversários em inimigos e nem age com o fígado. Kassab, pelo visto, reza por essa cartilha. Afinal, depois de todos os ataques que sofreu do PT na campanha eleitoral, lá está ele ao lado de Dilma.

Enquanto isso, no Planalto…

Três eventos com destaque aos nordestinos em menos de duas semanas. Primeiro, foi a presença maciça de cantores da região na Ordem do Mérito Cultural. Depois, foi a vez de enaltecer o governador do Ceará, Cid Gomes, no lançamento do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa. E hoje, para completar, o programa Mais Irrigação, no valor de R$ 3 bilhões. Sinal de que o governo começa a cercar a região para evitar que o PSB de Eduardo Campos, criado no frevo, ganhe ainda mais fôlego.

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