O tripé macroeconômico, composto por meta de inflação, câmbio flexível e equilíbrio fiscal, não existe mais como antigamente. Outros objetivos do governo entraram em conflito com o seu funcionamento. A tendência é que a situação piore.
No que se refere à meta de inflação, pode parecer que não houve alteração. Afinal, é possível que em 2013, como em 2011 e 2012, a inflação não ultrapasse o teto da meta (6,5%). Além do mais, a crise internacional justificaria uma flexibilização, com o Banco Central usando o espaço de manobra permitido pelas bandas do regime -a margem de dois pontos percentuais para mais ou menos, a partir do centro da meta (4,5%).
Um olhar mais cuidadoso, no entanto, mostra outra realidade. Não parece existir uma estratégia por parte do BC de guiar as expectativas de mercado, e por conseguinte a inflação, para o centro da meta num horizonte futuro, como se espera da atuação da autoridade monetária em um regime de metas de inflação.
O nível de atividade da economia brasileira se recupera agora, em um momento em que a taxa de desemprego está em um dos patamares mais baixos. A pressão por aumento de salários deve bater mais forte na inflação quando Dilma estiver se preparando para a sua reeleição.
Assim, será difícil que o BC suba a taxa de juros na magnitude necessária para levar a inflação para 4,5% em 2014. Principalmente depois que a presidenta gastou o seu capital político para alterar a remuneração da poupança e entrou em disputa com os bancos para reduzirem os juros. E tal ação entraria em conflito com seu objetivo de crescimento econômico de curto prazo.
O mais provável então é que, nos anos do governo Dilma, a inflação não chegue perto nem apresente convergência para o centro da meta. Mesmo com o governo utilizando métodos pouco convencionais para controlar a inflação, como segurar o preço da gasolina, com consequências negativas sobre a capacidade de investimento da Petrobras.
Quanto à segunda perna do tripé, taxa de câmbio flexível, não existe dúvida de que o governo simplesmente a abandonou. Está satisfeito com o patamar de R$ 2 por dólar.
É aí que o objetivo do governo, de defesa da indústria, prejudica o funcionamento do tripé. Ao intervir, diretamente e verbalmente, no mercado de câmbio, a equipe econômica impede uma valorização cambial que reduziria a competitividade dos nossos produtos industriais.
É claro que o governo consegue manter o câmbio fixo temporariamente. Mas essa política compromete o trabalho do BC de atingir a meta de inflação. Quando ocorrer uma recuperação mais forte da economia mundial, com uma maior pressão para valorização do câmbio, esse conflito ficará mais evidente.
Por fim, a última ponta do tripé, o equilíbrio fiscal. Ele sempre foi entendido como a gestão das contas públicas para evitar o descontrole da dívida -daí as metas para o déficit primário (diferença entre receitas e despesas não financeiras).
É verdade que o governo reconheceu que não cumprirá a meta para este ano, como já ocorreu em 2009 e 2010. Como antes, a justificativa dada é a crise internacional: redução de impostos e aumento dos gastos para ativar a economia. De fato, não há risco no horizonte de uma explosão no endividamento do governo.
O que preocupa, neste componente do tripé, são os subsídios para o setor privado que são feitos pelos bancos oficiais. É uma política feita sem aprovação do Congresso e vendida como se não gerasse desequilíbrio fiscal. Se não limitarmos essa estratégia, ela colocará em risco a estabilidade macroeconômica.
Metas para o câmbio, juros e crescimento de curto prazo não são compatíveis com o tripé macro. O governo parece já ter feito a sua escolha.
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