FOLHA DE SP - 12/11
O balanço de 2012 mostra que o ano se destacou mais pelo mal evitado que pelo bem que se conseguiu fazer
O balanço de 2012 mostra que o ano se destaca mais pelo mal que se evitou do que pelo bem que se conseguiu fazer. É o que se vê nos três cenários decisivos do mundo: as eleições americanas, a crise europeia e a transição chinesa. Em todos eles há razões para satisfação relativa, melhor, porém, que as alternativas possíveis.
Uma vitória de Mitt Romney nos EUA ameaçaria agravar vários problemas explosivos. Representaria sério retrocesso histórico na questão do seguro de saúde e acentuaria a crescente desigualdade social da sociedade americana, polarizando ainda mais a vida política.
Abriria fase de turbulência de quatro ou cinco meses até a posse e atuação efetiva do novo governo, no momento em que a última coisa de que a economia mundial precisa é mais incerteza. Traria de volta à política externa alguns dos mais perigosos diplomatas da era Bush, aumentando o risco do desastre de um ataque ao Irã.
Na Europa, comparando este novembro com o do ano passado, quando o primeiro-ministro grego decidiu convocar o frustrado plebiscito sobre o ajuste, passaram-se 12 meses sem que se materializasse o anunciado colapso da Grécia ou a sua saída do euro.
A Itália e a Espanha lograram escapar do sufoco mais agudo e estão financiando a dívida a juros razoáveis. O anúncio do Banco Central Europeu, em outubro, de que bancará a compra da dívida dos países em aperto ajudou a normalizar os mercados. Com avanços e recuos, aos poucos toma forma a união bancária, que afastará ainda mais o perigo de um impasse financeiro.
Na China, a evolução para crescimento menos dependente do investimento e das exportações vem se configurando de modo controlado, e a economia evitou um pouso turbulento, estabilizando-se em torno de expansão entre 7% e 8 %. A transição de liderança se completa nestes dias sob bons auspícios; o discurso de Hu Jintao alertando que, se não for eliminada, a corrupção destruirá o domínio do partido serve para muitos outros, inclusive para o partido no poder no Brasil.
Na maioria das outras áreas, o juízo é semelhante. A substituição de Berlusconi por Monti foi melhor para a Itália e a de Sarkozy por Hollande, para a França; em ambos os casos, o mundo também ganhou. A Primavera Árabe não incendiou o Oriente Médio; gradualmente, com as dificuldades naturais, governos eleitos vão emergindo no Egito, na Tunísia, na Líbia. Não houve invasão ocidental da Síria ou do Irã.
É muito pouco? De fato, é. Os EUA não voltaram ao nível de produção e emprego de antes da crise nem promoveram a reforma profunda da financeirização da economia. A Europa não completou a unificação das políticas fiscais nem afastou de vez o risco do euro. A China está longe de progressos em democracia e direitos humanos correspondentes ao seu avanço econômico.
São desafios estruturais e penosos; demandam nível de consenso que as crises não produziram e talvez não produzam. Mas ter sabido evitar os desastres anunciados não é desprezível. Prova, ao menos, que aprendemos algo com a história e que a razão ainda é a melhor garantia contra a repetição dos erros.
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