FOLHA DE SP - 12/11
SÃO PAULO - A transição em curso no Partido Comunista da China talvez seja a mais importante desde a ascensão de Deng Xiaoping, no final dos anos 1970.
A partir de Deng, a ditadura chinesa jogou fora toda prescrição socialista e maoísta para a condução da economia. Pôs-se a perseguir a acumulação industrial de capitais, numa obsessiva competição global.
A farta fonte de mão de obra, aliada à repressão dos gastos sociais, pode produzir o terceiro grande prodígio do moderno "modo de produção asiático". Com receita similar e sem dispensar o despotismo na fase inicial, há os casos do Japão, a partir do final do século 19, e da Coreia do Sul, na derradeira metade do seguinte.
A década passada marcou o auge do arranque chinês. O país desenvolveu várias corporações industriais gigantescas, enquanto o volume da força de trabalho se aproximava do máximo histórico. Converteu-se, também nesse período, numa nação de maioria urbana.
Diante da crise americana, e de uma lenta revolução tecnológica fabril, os conglomerados chineses dificilmente serão financiados no exterior na mesma escala. Produzir no México ou nos EUA deixou de ser desvantajoso em muitos casos.
Doravante a população da China passará a envelhecer, e a sair do mercado de trabalho, num ritmo bastante acelerado. Ainda assim, 300 milhões devem migrar do campo para a cidade até 2030.
Um dos segredos da manutenção do poder no Partido Comunista foi o papel central da indústria no processo. O controle político de (e por meio de) um punhado de empresas paquidérmicas fica facilitado.
Mas a sequência da prosperidade chinesa requer retração relativa do polo industrial. A contrapartida seria o florescimento de comércio e serviços, pulverizados em dezenas de milhões de empreendedores.
A ditadura das chaminés será, no mínimo, obrigada a se reinventar.
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