A sede chinesa - LUIZ FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 10/06
Paris – Antes eram só japoneses, hoje é difícil distinguir entre as etnias orientais que fazem fila para entrar na Vuitton e outras lojas caras de Paris, mas a maioria é certamente chinesa. O mercado do luxo não sente a crise em nenhuma circunstância, mas chineses com dinheiro estão movimentando o setor acima do normal. Os chineses estão comprando a França, ou pelo menos aquela França que a gente só vislumbra nas vitrines das lojas de nome e na propaganda das grandes grifes, no maravilhoso mundo dos recursos ilimitados. E o que não podem levar para casa os chineses compram e deixam por aqui. Por exemplo: vinhedos. Há dias li no Le Monde que mais de vinte “chateaux” da grande região
vinícola de Bordeaux pertencem hoje a chineses, entre proprietários privados e consórcios.
Nada muda nos métodos de produção ou, imagino, no pessoal dos “chateaux”, os chineses apenas passam a importar vinhos deles mesmos. A sede de vinho é tamanha na China que um dos problemas no seu comércio com produtores franceses era a falsificação. Há alguns anos descobriram que tinham sido vendidas mais garrafas de Chateau Lafite-Rothschild 1982 na China do que produzidas na França. A partir de 2008 os chineses começaram a comprar seus próprios “chateaux”. Segundo o Le Monde, além das compras já feitas, existem mais quinze sendo negociadas.
É conhecida a história do enólogo francês contratado para estabelecer uma indústria de vinhos na Califórnia. O francês orientou todo o processo, desde a compra e preparação da terra até a escolha das vinhas e o método de plantio e colheita e armazenamento, e quando completou seu trabalho e a Califórnia estava tecnicamente preparada para fazer um vinho igual ao francês, o enólogo declarou:
– Pronto, agora é só esperar 300 anos.
A história é inventada, claro. A Califórnia demorou um pouco, mas não precisou esperar 300 anos para fazer um vinho respeitável. Mas mais práticos estão sendo os chineses. Compram logo os 300 anos.
Branqueada
Era um amistoso Brasil x França, no Estade de France. O Reali Júnior estava do meu lado e me chamou a atenção: fora o goleiro, todos os jogadores do time francês em campo eram negros. O atual treinador da França (chamado Blanc) deu uma entrevista controvertida quando assumiu, meio que sugerindo que a proporção étnica ia mudar. Coincidência
ou consequência das persistentes tensões raciais na França, a seleção francesa que participa do atual campeonato europeu sofreu uma branqueada generalizada. Prefiro pensar que foi coincidência.
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