domingo, junho 10, 2012

O futuro da medicina - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 10/06


SÃO PAULO - A revista britânica "The Economist" da semana passada trouxe interessante reportagem sobre o futuro da medicina. De acordo com o periódico, com o envelhecimento da população e o aumento da prevalência das doenças crônicas, vai ser impossível formar tantos médicos quantos seriam necessários pelos padrões do século 20.
A solução, assevera o hebdomadário, passa por modificar esses padrões, melhorando a produtividade da saúde. Isso significa que a medicina não poderá mais ser tão centrada na figura do médico, cuja formação é proibitivamente cara.
No Brasil, são seis anos de graduação em regime integral em cursos que exigem, além de aulas expositivas, laboratórios, cadáveres etc. Depois, são dois anos de residência. Uma especialização pode requerer dois ou três anos adicionais. E tudo é muito fugaz. Um especialista que passe um ano sem abrir um "journal" estará mortalmente defasado.
É contraproducente colocar médicos nos quais se investiu tanto para desempenhar tarefas menos complexas para as quais outros profissionais podem ser treinados. É mais do que razoável que um optometrista prescreva receitas de óculos, que enfermeiras realizem partos de baixo risco e que fonoaudiólogos diagnostiquem e tratem distúrbios da fala.
É claro que, de vez em quando, haverá problemas que exigirão a intervenção de um médico, mas, para cada parto que se complica, há centenas ou mesmo milhares de casos que se resolvem sem dificuldade.
Em países onde o descompasso entre oferta e demanda é maior, como a Índia, até os momentos menos delicados de cirurgias já estão sendo realizados por outros profissionais.
Os médicos, porém, em vez de procurarem adaptar-se aos novos tempos e dominar cada vez melhor as tarefas que não podem ser delegadas, obstinam-se em lutar por uma reserva de mercado socialmente custosa e demograficamente insustentável.

Um comentário:

Jorge Ohana disse...

Acho que Helio Shwartsman já se trata com um optometrista, coerente que é com sua teoria. A consequência é essa visão míope do problema da atenção à saude. Vou abster-me de outros tipos de comentários pois penso que cada um tem o médico que merece. Não se trata de reserva de mecardo, mas sim de respeito com a saúde de nossos semelhantes. Você levaria seu cachorro num profissional que não fosse o veterinário? Eu não. Dois ditados antigos: "cada macaco no seu galho" e "não vá o sapateiro além do sapato".