CORREIO BRAZILIENSE - 11/04/12
Ao criticar a política monetária dos países ricos, Dilma começa a criar uma espécie de seguro-popularidade: se a economia por aqui sofrer algum abalo mais forte, ela sempre poderá dizer que avisou sobre os problemas a que o Brasil estava exposto. E assim a culpa será dos outros e não responsabilidade dela ou de sua equipe
De volta ao Brasil, a presidente Dilma Rousseff traz na bolsa o discurso fechado para se algo falhar na economia brasileira, seu maior foco. Engana-se quem pensa que ela chegará pronta para reavaliar os problemas da base e distribuir ministérios para aqueles que reclamam por cargos. Ela pode até mudar de ideia, mas, pelo andar da carruagem, veremos chegar o Dia dos Namorados com o PDT, o PTB e o PR fazendo fila no Planalto em busca de um ministro para chamar de seu. E a presidente com cara de preguiça para essa turma sempre tem um problema mais urgente a resolver do que tratar dos cargos de cada dia. E o maior deles é a economia.
As notícias de que Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) cansou de esperar que o partido dele ganhe um nome mais orgânico no Ministério do Trabalho não fizeram sequer cosquinha sob os pés de Dilma. Do alto de seus 77% de popularidade, ela considera que um troca-troca na Esplanada hoje não lhe acrescentará um só voto no Congresso. E ela não deixa de ter razão, uma vez que o Código Florestal, o único projeto importante, transita ao largo dos partidos, numa batalha entre ruralistas e ambientalistas.
Vejamos o quadro dos partidos: o novo PSD foi “de graça” para a base do governo. O PMDB precisa continuar fiel para garantir a Presidência da Câmara e a do Senado sem sobressaltos. O PT não tem por que reclamar, afinal, tem a presidência da República e deve concordar com o seu governo e ponto. O PSB é aliado de primeira hora e, por querer fortalecer a imagem de que não negocia cargos em troca de votos, não pretende colocar a faca no peito da presidente Dilma. O PP já tem o Ministério das Cidades e é bom ficar pianinho. Se reclamar, perde. O PRB ganhou a Pesca.
Da nau dos sem-ministério, um grupo do PDT sempre votou contra o governo e não votará a favor se o ministro for o deputado Brizola Neto (RJ) ou quem mais chegar. O mesmo vale para o PTB de Roberto Jefferson, onde a parte que é governo continuará assim para não ver a CPI de Carlos Cachoeira bater à sua porta. Quanto ao PR, todos os dias espera um chamado. Na oposição, o combativo DEM anda amuado desde que o senador Demóstenes Torres (GO) perdeu seu peso político, e hoje quem ainda tem algum fôlego é só mesmo o PSDB.
Por falar em peso político…
Diante desse quadro, pintado com frieza dentro do Palácio do Planalto, a sensação é a de que Dilma não tem por que mudar sua equipe agora, embora os congressistas pensem diferente. Dentro do PMDB, por exemplo, há quem diga que Dilma deveria aproveitar a “onda boa” para mudar alguns ministros sem sobressaltos. Assim, ela se anteciparia às crises e escolheria, dentro de cada bancada, quem considerasse melhor, sem ser obrigada a engolir qualquer candidato a ministro que os partidos quisessem lhe impor em tempos de crise.
Ocorre que, na visão palaciana, não funciona assim. Se Dilma usar todo o poder de sua caneta agora, não terá tinta suficiente se vier uma crise. Hoje, ela paira acima dos partidos, até mesmo do PT. Há tempos não se vê uma base parlamentar tão grande. Na história recente, uma base desse tamanho só ocorreu no governo Sarney, nos áureos tempos do Plano Cruzado. Ali, os partidos viviam às turras, tinham suas divisões internas, e tudo funcionou até o momento que o Plano Cruzado vinagrou e, com ele, a popularidade presidencial terminou atolada em escândalos.
Com Dilma até agora parece ocorrer justamente o oposto do que houve nos tempos de naufrágio do Cruzado. A cada escândalo divulgado em seu governo, ela se fortalece. E, se a economia continuar tão bem quanto a popularidade da presidente, ela não terá por que colocar para dentro do governo mais um deputado aqui, outro ali. Pelo visto, a nau dos sem-ministros continuará no cais, esperando o tempo mudar. Só será chamada se as tempestades vierem.
Por falar em economia…
Ela sabe que seu calo está na seara econômica. Não por acaso Dilma tem aproveitado todas as suas viagens ao exterior para criticar a política monetária dos países ricos. Essas declarações têm tido mais efeito aqui dentro do que lá fora. Afinal, as críticas publicadas diariamente nos jornais e repetidas nas rádios e nos canais de tevê têm servido para criar um colchão de justificativas para qualquer abalo da economia brasileira. Para atentos observadores, ela está criando um seguro-popularidade: se algo der errado por aqui, Dilma poderá sempre dizer “eu avisei” e colocar a culpa nos países mais ricos. Pode estar aí o segredo para, numa eventual queda da economia, ela consiguir segurar seus 77% de aprovação, ou, no mínimo, não deixar que esse percentual derreta para menos de 50%. A conferir.
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