quarta-feira, abril 11, 2012

Mudança de estação na finança - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 11/04/12


Faz uma semana que os donos do dinheiro grosso no mundo "realizam lucros", pelo menos nas Bolsas maiores. Ou seja, vendem papéis valorizados na euforia do primeiro trimestre do ano, euforia graciosa embora indiretamente financiada pelo Banco Central Europeu, o BCE.

O que houve de novo? Umas poucas notícias ruins, embora pontuais, sobre o estado da economia americana e sobre os riscos de naufrágio do barco espanhol.

Em março, o número de novos empregos criados nos Estados Unidos decepcionou os rapazes previsores do mercado. Mas o número ruim de apenas um mês não faz um inverno, assim como as estatísticas boas de dois meses não faziam um verão, a não ser na propaganda oficial, de governo ou "otimistas" do mercado.

Mesmo o banco central dos Estados Unidos, o Fed, observa mensalmente que a recuperação do mercado de trabalho é frágil. O número de pessoas empregadas cresce pouco, os salários médios não crescem, o desemprego cai em parte (50%) porque muita gente desistiu de procurar trabalho, aposentou-se etc.

Nas últimas semanas, ficou mais claro o tamanho que terá a recessão espanhola neste ano (talvez de uns 2%), e o desemprego foi a 23%.

Isto é, caiu a ficha de que o governo da Espanha pode não arrecadar o suficiente para atingir suas metas fiscais (superavit) e pode, talvez, entrar na UTI financeira onde vivem Grécia, Portugal e Irlanda. Mas a gente sabe que a situação espanhola é preocupante faz tempo.

Mas os povos do mercado estavam se aproveitando de algumas notícias de fato boas (mas não muito) nos Estados Unidos e do grande despejo de dinheiro do Banco Central Europeu, que desde dezembro emprestou € 1 trilhão para os bancos da eurozona a taxas de juros reais negativas (ou seja, deu dinheiro para os bancos).

O dinheiro do BCE azeitou um pouquinho o enferrujado mercado financeiro europeu, baixou o nível de tensão e, assim, incentivou mais gente a colocar dinheiro para rodar nas praças financeiras do mundo.

Aliás, diga-se de passagem, era e é uma tolice dizer que o "dinheiro do tsunami financeiro" europeu não havia circulado pelo mundo ainda. O presente do BCE para os bancos desencadeou uma reação em cadeia que reabriu pelo menos em parte as comportas da liquidez (dinheirama) mundial.

Porém, o problema de fundo, endividamento excessivo de governos e de famílias, permanece e é saliente em países como a Espanha, "grande demais para quebrar". Decerto a situação não é tão crítica como o era no ano passado. Talvez seja crônica, remediada.

No fim das contas, a elite europeia se desdisse e tomou providências para atenuar a crise. Lembre-se que, a partir do fim de 2009, a União Europeia dizia que não haveria socorro para países falidos (houve), que o BCE não compraria títulos de governos problemáticos (comprou), que não haveria calote de país endividado (houve), para ficar apenas nas maiores contradições.

Mas os problemas de base continuam. Como os EUA vão crescer bem sem emprego e bons salários, sem novo ciclo de investimentos? Com uma bolha nova? Quando vai acabar o ciclo recessivo talvez deflacionário na Europa? Quando acabar, os países "periféricos" serão mais produtivos?

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