FOLHA DE SP - 02/04/12
SÃO PAULO - Orador imbatível e campeão da democracia, Demóstenes combatia tiranos e oligarcas. Caiu ao ser enredado num escândalo de suborno na Grécia, no quarto século antes de Cristo.
Demóstenes Torres, senador pelo DEM, enfrenta o maior drama de sua vida pública. Duríssimo opositor do governo petista, paladino da conduta irretocável, surge agora, em investigações policiais, como fantoche de um capo da jogatina.
Diante de uma sinuca que ameaçava sua carreira, acusado pelo fracasso militar ateniense contra a investida macedônia, o Demóstenes grego compôs o célebre discurso "Sobre a Coroa", clássico universal da retórica. Virou o jogo no gogó.
Esperemos a defesa de Torres.
Deixando de lado o aspecto judicial, o problema do senador foi ter criado um personagem em confronto com suas práticas. Mas será que da análise dos casos que o envolvem surge um fato novo sobre a atuação dos políticos no país? Dificilmente.
A relação entre um senador e seus patrocinadores -aqueles que sustentam, informal ou formalmente, a sua carreira- pode diferir apenas em grau, não em gênero, do que o caso Cachoeira/Demóstenes informa. Abrir portas em autarquias, pedir atenção para casos de interesse, influir em legislações que favorecem o patrono, atuar como informante privilegiado, beneficiar-se de mimos. Nada de novo no front.
As democracias modernas não conseguiram sanar esse defeito, que concede a detentores de poder econômico acesso privilegiado à esfera das decisões estatais. Implantaram, quando muito, meios de controlar tal influência, os mais efetivos exigindo prestação detalhada de contas acerca da vida pública e privada dos detentores de mandato.
Se o Demóstenes da Antiguidade enfrentava sobretudo os inimigos externos da democracia, o caso em torno do homônimo brasileiro nos lembra de suas fraquezas internas.
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