REVISTA VEJA
Marx escreveu com Friedrich Engels (1820-1895) uma das mais brilhantes análises da evolução do sistema de mercado, que é a expressão sinônima de capitalismo. Seu Manifesto Comunista (1848) começa afirmando que a história das sociedades até então existentes era "a história da luta de classes", que se tornaria o mote do marxismo. A burguesia - que havia posto fim ao feudalismo - daria lugar à classe do proletariado como fonte de poder. O comunismo substituiria o capitalismo. Grande ironia, o comunismo sucumbiu à superioridade do capitalismo.
O comunismo viabilizou dois inéditos experimentos econômicos controlados: nas duas Alemanhas e nas duas Coreias. Em cada um dos grupos havia a mesma cultura, a mesma língua, a mesma história e o mesmo sistema de valores, mas a prosperidade foi privilégio de quem adotou o capitalismo: a Alemanha Ocidental e a Coreia do Sul.
O capitalismo, que deve seu nome à obra essencial de Marx, O Capital, mostrou que é a melhor forma de organização econômica. Suas primeiras manifestações teriam aparecido por volta de 6000 anos antes de Cristo, na Mesopotâmia. O advento da especialização e das trocas 4000 anos antes, na era neolítica, teria sido seu impulso inicial. Os comerciantes expulsos do templo por Jesus Cristo praticavam uma forma primitiva de capitalismo.
O moderno capitalismo começou a se enraizar com o Iluminismo, entre os séculos XVII e XVIII, na esteira da evolução da ciência, do comércio internacional. do sistema financeiro e das instituições que garantem direitos de propriedade e respeito aos contratos. Os avanços da tecnologia e das inovações nesses dois séculos forjaram as bases da Revolução Industrial. Novidade: o desenvolvimento podia ser construído com políticas públicas geradoras do ambiente institucional propício ao florescimento capitalista.
Adam Smith (1723-1790) evidenciou o papel do mercado, o qual, guiado por uma mão invisível, coordenava inúmeros interesses em favor do bem comum. Desde então, o capitalismo se renovou ao longo de crises e de mutações da realidade. Bancos centrais foram criados para regular o sistema financeiro e lidar com crises bancárias. Leis antitruste surgiram nos Estados Unidos para coibir o domínio dos mercados por monopólios e oligopólios. O advento da energia elétrica e das telecomunicações exigiu a ação regulatória do estado. Os sindicatos combateram os abusos do capitalismo e asseguraram aos trabalhadores parte substancial dos ganhos de produtividade. Na segunda metade do século XX, vieram os programas sociais para combater a tendência à concentração de renda inerente ao capitalismo.
A crise financeira global, como todas as anteriores, nasceu essencialmente de falhas de regulação, da assunção irresponsável de riscos pelo sistema financeiro e de políticas públicas equivocadas. Tal como antes, euforias típicas de períodos de prosperidade contribuíram para a leniência diante dos riscos e para o desastre.
Desde Adam Smith, o capitalismo se reinventou. Não será diferente desta vez. Os desafios incluem a reforma dos marcos regulatórios e ações para reverter a concentração de renda de alguns países ricos. Dificilmente a renovação virá sob a forma do capitalismo de estado da China e de países emergentes ou do capitalismo de compadres, que se nutre da escolha de vencedores pela burocracia e da concessão de benefícios aos amigos do rei.
As vantagens do capitalismo superam largamente os seus defeitos. Nenhum outro regime econômico será capaz de substituí-lo com sucesso. Está provado.
Um comentário:
Assim exposto, parece que a história recente aconteceu apenas pelas magnânimas qualidades do capitalismo.
Pergunto: O que dizer das intervenções e as ingerências dos serviços secretos?, os crimes econômicos (como os recentes)?, e a coação e as guerras de invasão?As decisões unilaterais atropelando o Conselho de Segurança?, a manipulação da OMC...os subterrâneos da mão invisivel não tiveram nem tem nenhuma significância na análise (isenta?). Sei não!
Postar um comentário