Algum dia você largou seu freio de mão mental e deixou sua imaginação livre como deve ser?
Quando uma mulher e um homem se veem pela primeira vez, pode acontecer uma faísca; é quando bate.
Ela surge de uma imediata e inconsciente avaliação de parte a parte; pode ser com o cunhado, o feirante, o padre, o marido da maior amiga, e independe de beleza, charme ou classe social.
Essa estranha sensação pode não dar em nada, mas quanto mais intimidade você tiver com você mesma -e com seus pensamentos-, mais rapidamente vai perceber o que está acontecendo, o que, aliás, é raro; a maioria das pessoas não identifica o que sente, até porque essa avaliação passa por uma fina peneira de censuras mentais -morais e sociais.
Desde que a pessoa seja do outro sexo -ou do sexo que lhe interessa-, perigo existe. É difícil botar em palavras sensações, mas tudo parte dessa faísca ser positiva ou não.
Se ela não acontece, nem se pensa no assunto; mas se é positiva e se tem tempo e coragem para brincar, a fantasia pode ir longe. Se estiver tomando uma bebida, aí então ela é ilimitada.
Algum dia você largou seu freio de mão mental e deixou sua imaginação livre, como devem ser as imaginações? Vamos admitir: é difícil.
E as convenções sociais, e os preconceitos, e o medo? Como aprendemos que se peca até em pensamentos, brecamos a maioria deles e depois não sabemos por que nossa cabeça é um nó. Mas se deixarmos eles correrem soltos, será que as coisas ficam mais fáceis? Há quem diga que sim.
Logo no primeiro olhar fica definido se o outro é ou não possível. A sensação não precisa ser recíproca, mas quando acontece, é imediatamente percebida pelos dois. Estabelece-se então uma energia que faz com que esse momento seja diferente, especial; o corpo fica tenso, o olho brilha, e você sente o prazer supremo, que é o de se saber viva.
Para alguns isso nunca acontece, e existe quem nunca soube, nem nunca vai saber, do que se trata.
Já com outros, acontece até no leito de morte; basta entrar uma enfermeira gostosa, que a corrente se estabelece.
Atenção: essa eletricidade é contagiosa, por isso tantos passam a vida sendo desejados, enquanto outros sofrem de um incurável desinteresse do sexo oposto.
Os mais corajosos, quando têm consciência do que está acontecendo, se deixam levar; aí começa o perigo, que para a mulher é sempre maior. Um homem que segue seu impulso e arrasta com ele alguém de classe inferior, digamos, é sempre compreendido -até porque eles sabem até onde podem ir.
Já se a mulher tiver um caso com um motorista de caminhão, será um escândalo (fora que elas têm a mania de se apaixonar, o que faz toda a diferença).
Aliás, pense nas coisas que devem acontecer na vida de nossos amigos mais íntimos e que nem podemos imaginar.
O tema é interessante, aliás, interessantíssimo, e vale sempre a pena saber a quantas se anda; se está viva ou se respira ligada nos aparelhos, que são a educação, a moral, a religião e os bons costumes.
Sendo assim, por mais que uma mulher seja um poço de virtudes, é temerário que ela fique perto de qualquer homem, porque homem e mulher, quando se juntam, ninguém sabe o que pode acontecer.
Esse é o perigo, e a graça. É a pulsão da vida.
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