Um homem é julgado por quem o substitui, argumentou Paulo
Márcia deixou Paulo por outro homem. Paulo não gostou, mas se resignou. Márcia era uma mulher livre. Uma mulher independente. E o namoro dos dois já estava mesmo na hora de acabar. As amigas comentaram que, para tirar a Márcia do Paulo, o outro teria que ser um homem e tanto.
O Paulo era bonito, inteligente, simpático, bem educado, bem-humorado, atencioso e elegante, além de compreensivo. Cozinhava bem, ajudava na decoração, tinha bom gosto, boa voz, bom ouvido e nisso todas concordavam era muito bom de cama.
A grande curiosidade de todos passou a ser quem era o outro. O que o outro tinha que o Paulo, que era perfeito, não tinha? Por isso houve um choque generalizado quando a Márcia apareceu com um gordinho chamado Pires e o apresentou como “meu namorado”, dando um tapinha na sua careca, que batia no seu ombro.
Ninguém ficou mais chocado do que o Paulo. Na primeira oportunidade, chamou Márcia para uma conversa.
– Marcinha, você não pode fazer isto comigo.
– O que eu fiz?
– Me trocou por esse Pires. Pense no que vão dizer.
– De quem? – De mim!
Um homem é julgado por quem o substitui, argumentou Paulo.
– Acho que eu tenho direito a uma explicação.
– Nós nos amamos. – O que ele tem que eu não tenho?
– Nada.
– É cama, acertei? Ele é um animal na cama. Quando apaga a luz, se transforma numa máquina de sexo. Melhor do que eu. É isso?
– Não sei. – Como, não sabe?
– Nós ainda não transamos. Ele diz que só depois do casamento.
– Vocês vão se casar?!
E aconteceu o seguinte. Paulo começou a espalhar informações falsas sobre o Pires. A caluniá-lo ao contrário, inventando qualidades que o tornavam irresistível às mulheres. Ele era uma máquina de sexo.
Também era uma potência intelectual, um nome respeitadíssimo no mundo da pesquisa molecular com vários trabalhos publicados, talvez o brasileiro com maiores possibilidades de ganhar o Nobel num futuro próximo. E era riquíssimo, embora não gostasse de ostentar sua riqueza. Um homem e tanto.
Pires perguntou para a Márcia se deveria processar o Paulo quando este sugeriu seu nome como candidato à Academia Brasileira de Letras e (por que não?) a um cargo eletivo, já que a politica nacional precisava de alguém com seus dotes extraordinários, talvez até na presidência.
Mas processar como, se ele não estava sendo difamado? Decidiram esperar que o ego do Paulo esfriasse.
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