domingo, dezembro 04, 2011
A maracutaia da vez: chips nos carros - ELIO GASPARI
O GLOBO - 04/12/11
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), e o suplente de senador João Faustino (PSDB-RN) estão encrencados com o Ministério Público por conta de contratos milionários assinados com donatarias de inspeções veiculares. É o escândalo da vez. Mais adiante virá o dos chips. Em 2006, a resolução 212 do Conselho Nacional de Trânsito mandou que, até meados de 2010, nenhum veículo pudesse ser licenciado sem que nele houvesse um chip. Ele transmitiria dados para dezenas de milhares de antenas, que os remeteriam a centenas de centrais de processamento. Repetindo: nenhum veículo seria licenciado sem chip, nem em São Paulo, onde havia 4,5 milhões de carros e caminhões, nem em Uiramutã (RR), na fronteira com a Venezuela, onde existiam dois carros, um caminhão e duas motocicletas.
A traquitana custaria algo como R$ 4 bilhões. Diziam que serviria para reprimir os furtos. Lorota, pois o ladrão arranca o chip e leva o veículo ao desmanche. Diziam também que os donos de carro não pagariam nada. Quem pagaria? Todo mundo, mesmo a patuleia pedestre. Serviria, na melhor das hipóteses, para fechar grandes contratos. Na pior, para criar pedágios urbanos.
A resolução de 2006 deu em nada. Em 2008 (ano de campanha eleitoral), anunciou-se que a negociação dos contratos seria reanimada, mas o assunto saiu da agenda. No ano seguinte, a resolução foi reescrita e o início da festa foi transferido para junho de 2011, tanto em São Paulo como em Roraima. Novamente, deu em nada. Em julho deste ano, decidiu-se que a festa dos contratos começará no dia 1 de janeiro de 2012 (ano de campanha eleitoral).
Nenhum país do mundo tem sistema semelhante, porque em país algum apareceram fornecedores de equipamentos com tanta ousadia. Ninguém quer vender antenas para Uiramutã, onde só há um serviço de emergência pediátrica. O filé está na venda de equipamentos para grandes cidades, igualzinho ao que ocorreu com as inspeções veiculares.
No Sírio
De quem já viu elefante em aquário:
"O futuro da política brasileira está nos prontuários médicos do hospital Sírio-Libanês".
O pacificador
O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, quer pacificar a pesquisa acadêmica do economista Daniel Cerqueira, do Ipea. Ela mostrou que, pela base de dados do Ministério da Saúde, enquanto os homicídios na cidade caíram de 13 para dez mortos para cada 100 mil habitantes entre 2007 e 2009, deu-se um aumento de mortes atribuídas a "causas indeterminadas", de 20 para 22 no mesmo grupo. Beltrame disse que estuda a possibilidade de processar o economista. Nas suas palavras: "O documento fala em escamoteamento de informações, má-fé e ocultação".
Não fica bem para um secretário de Segurança dizer que "estuda" a possibilidade de abrir um processo. Parece ameaça. Se o número de homicídios registrados caiu e aumentaram os mortos por "causas indeterminada", alguma coisa oculta havia. Quanto ao uso da expressão "má-fé", quem está sendo falsamente acusado é Cerqueira, pois em seu trabalho não escreveu essas duas palavras. É ele quem pode processar Beltrame.
Uma verificação estatística divulgada há dias pelo Instituto de Segurança Pública do governo do Rio jogou luz na discussão. Revelou que 91,6% dos "indeterminados" de 2009 eram casos de homicídio. Com isso, a taxa pacificada de assassinatos, que teria caído em 28,6%, caíra apenas 3,6%.
O doutor Beltrame confirmou sua presença numa audiência pública que se realizará amanhã na Assembleia do Rio. Cerqueira também.
Celso Amorim, 28 X Barão do Rio Branco, 7
A Fundação Alexandre de Gusmão, do Itamaraty, acaba de editar um bonito livro, em edição bilíngue, intitulado "Imagens da Diplomacia Brasileira". São 248 páginas ilustradas com centenas de mapas, retratos e fotografias documentando os principais personagens da política externa brasileira, do Conde da Barca, ministro de D. João VI, aos titulares recentes. O trabalho vem assinado por Amado Luiz Cervo e Carlos Cabral, apoiados por uma equipe de dez pessoas.
Do jeito que está, servirá para uma boa reedição. Tratando-se de um livro interessado em resgatar o passado, traz sete fotografias do Barão do Rio Branco e 28 do embaixador Celso Amorim.
Até aí, poderia ser uma glorificação de um passado ainda presente. Num lance de cirurgia bolchevique, relegou-se à condição de simples figurante o chanceler Azeredo da Silveira (1974-1979), um diplomata que marcou a História da Casa. Silveira era dotado de grande desembaraço cenográfico, jamais sumiria por acaso. Coisas desse tipo mostram como estava certo o presidente Garrastazu Médici quando disse, em 1974, que "no Itamaraty todos se destroem uns aos outros".
Dois enganos, corrigíveis numa eventual reimpressão: o general que aparece numa foto ao lado do então chanceler Magalhães Pinto é Aurélio de Lyra Tavares, não "Aureliano". Mico irrelevante. O outro é constrangedor: o sujeito que está com o chanceler Ramiro Guerreiro num encontro ocorrido no Itamaraty, em maio de 1979, não é "o vice-primeiro-ministro Zhou Enlai". Por três motivos: o poderoso Zhou nunca foi vice-primeiro-ministro, nunca veio ao Brasil e morreu em 1976. Nesses dias, quem esteve em Brasília foi o vice-premiê Kang Shien.
PMDB x PT
Fechou o tempo entre as facções do PMDB e do PT que coabitam nos programas federais de habitação popular.
O pomo da discórdia é o vigoroso desempenho da Fenae Corretora na contratação de seguros de contratos do programa Minha Casa, Minha Vida. A empresa é ligada à Federação Nacional de Associações do Pessoal da Caixa Econômica, a Fenae, filiada à CUT.
Para os cavalcantis, que ganham na corretagem, o negócio vai bem. Para os cavalgados, com renda de até R$ 1,6 mil, que até 2014 deveriam ter acesso a 2 milhões de imóveis, o programa revela-se uma empulhação. Até novembro, a Caixa só contratou 34 mil unidades.
Empate
Feitas as contas, a doutora Dilma e sua equipe do Planalto sentem-se bem porque Fernando Haddad deixará o Ministério da Educação. A recíproca é verdadeira.
Eremildo é um idiota
Eremildo é um idiota. Em 1996, ele disputou, e perdeu, uma vaga de funcionário comissionado no gabinete do presidente (malufista) da Câmara de Vereadores de São Paulo. O lugar foi para o então secretário-geral do PT, atual líder dos companheiros na Câmara. Agora ele viu o doutor Vaccarezza defender a boquinha do ministro Carlos Lupi, que foi funcionário-fantasma da Câmara dos Deputados, argumentando que a maioria dos fantasmas "jamais pisou" na Câmara.
Tudo bem, porque era esse tipo de emprego que o idiota queria e Vaccarezza obteve. Ao saber que Lupi acumulou a fantasmagoria de Brasília com outra, na Câmara Municipal do Rio, Eremildo exultou. Ele agora pleiteia 5.591 boquinhas, uma em cada município e Assembleia estadual.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário