FOLHA DE SP - 18/12/11
Essas moças, que não são especialmente lindas, têm uma coisa invejável, que é o prazer de se divertir
Outro dia fui parar na Lapa, o lugar mais animado do Rio. Como a rua do Lavradio, onde se concentra a grande animação, é fechada aos carros, as mesas ficam nas calçadas e até no meio da rua, e às 8h da noite a festa já bombava (o carioca inventou uma moda ótima: agora as confraternizações de fim de ano começam nos primeiros dias de dezembro, e é festa o mês inteiro).
A Lapa é democrática; tem de tudo, mas a grande maioria -dá para ver- é de pessoas simples, que saem do trabalho e vão ali tomar um chope, se divertir, lá o que mais tem é alegria. E quando a música -ao vivo- ataca, as mulheres vão para a pista de dança, e se não tiverem com quem, dançam sozinhas.
Primeiro, o visual: quase nenhuma é magra, como ditam as modas.
Umas são bem gordinhas e não parecem estar minimamente preocupadas com o assunto. Usam roupas coladas ao corpo, grandes decotes, barrigas de fora, saias curtíssimas, não se importam nem um pouco de mostrar as pernas -com ou sem celulite- e os pneuzinhos de cada lado da cintura; elas não estão nem aí.
Essas moças, que não são especialmente lindas e devem viver de salário -um salário pequeno-, têm uma coisa invejável, que raramente se vê em moças magras, elegantes e ricas: a alegria de viver, o prazer de se divertir. E bom mesmo é ouvir as conversas, quando vão ao banheiro retocar a maquiagem.
Sempre sorrindo de orelha a orelha, elas falam: "ele que me aguarde, não estou nem aí, homem é o que não falta" é o mínimo que se escuta, e aí emendam com um "quando sair daqui, vou para um samba na Dutra".
Para quem não sabe, a Dutra é a estrada que vai do Rio a São Paulo, e o mantra dessas moças tão felizes parece ser o "não estou nem aí".
Conheço muitas jovens magras, elegantes e ricas, infelizes porque estão dois quilos mais gordas, porque o cabelo não foi cortado direito, porque o namorado sumiu e, por essas razões gravíssimas e outras, tão graves quanto, são inseguras.
Nos banheiros das casas noturnas chiques, o mais frequente é ouvir uma se lamentando, arrependida por não ter usado outro vestido (o que está usando engorda), outra contando que já marcou o dia de aumentar os seios, para curtir o verão, e todas, sempre, olhando o celular para ver se "ele" tinha aparecido; e segunda-feira, tome analista para se queixar da vida.
E nas praias? Que seja em Ipanema, Salvador ou Santos, se a maioria das frequentadoras desse importância a essas coisas, passaria o verão (e a vida) trancada num quarto escuro. O que mais se vê são moças fora de forma, segundo os conceitos atuais, mas totalmente à vontade, alegres e felizes, dando seus mergulhos e provavelmente achando Gisele Bündchen -quem mesmo?- uma magrela.
Esse "não estar nem aí" é a segurança que tantas procuram; elas não olham as páginas de moda, não sabem que uma mulher não pode -segundo foi decretado- ter mais de 90 cm de quadris, não sabem o que é fashion, nunca ouviram falar de dieta, nem sabem o que é a Daslu.
E como não sabem, têm a liberdade de usar short de lycra, unhas compridas com esmalte bem colorido, boca vermelha brilhando; e se o namorado sumiu, não estão nem aí, claro, pois o tempo que têm para se divertir é entre a noite de sexta e a manhã de segunda, quando acordam muito cedo para pegar no batente, então o lance é aproveitar a vida.
Não sei se elas são mais felizes do que as outras, mas que se divertem muito, mas muito mais, disso não tenho a menor dúvida.
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