sexta-feira, setembro 16, 2011

PAULO SANT’ANA - Gosto que me enrosco

Gosto que me enrosco 
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 16/09/11

Existem as coisas de que eu gosto e as coisas de que não gosto. Existem as coisas que me dão prazer, as coisas que detesto e até as que me provocam asco.

Entre as primeiras coisas de que gosto, indico o espaguete, não sei por quê. Gosto ao sugo e adoro o à carbonara. O melhor espaguete à carbonara que existia em Porto Alegre era o daquela cantina que ficava lá no fim da Bordini. Foi inesquecível.

Hoje, o melhor é no La Tana, um restaurante que fica perto do Shopping Iguatemi e cujo endereço não forneço porque, se o fizer, vou lotar o restaurante e isso me trará dificuldades.

Outra coisa de que gosto muito é melancia. Gosto tanto, que como até as melancias de inverno, que de um tempo para cá, não sei de que jeito, começaram a ser comercializadas.

Morangos, não gosto. Como, mas não gosto. Cerejas, não gosto. Não gosto e não como, a menos que elas venham encimando um sorvete e se encaixem num clima de clímax.

Fui perceber só nos últimos anos que adoro panqueca. Mas eu gosto da panqueca tradicional, aquela enrolada e comprida. Passo, às vezes, por uma panquecaria que fica na Avenida Carlos Gomes e vive lotada de frequentadores e de carros estacionados.

Mas um dia fui lá para saborear uma panqueca e me dei mal: não era a comprida e enrolada que gosto de comer misturada ao arroz, era uma panqueca em tabletes, mas todo mundo comia avidamente. Assim, em tabletes, não gostei da panqueca.

Gosto de lombinho de cordeiro, que como na melhor churrascaria de Porto Alegre, a Churrascaria Porto Alegrense, da Avenida Pará.

Antes, o proprietário se dava ao ótimo desplante de servir o lombinho de cordeiro sem o osso.

Fui saber então que o lombinho é a chuleta de cordeiro desossada. Hoje, deve ser de preguiça, o dono da churrascaria serve o lombinho com osso, que vem a ser o carrê, se eu não estiver fazendo confusão.

Mesmo assim, é sensacional com osso, o lombinho, e na churrascaria de que falo o preço sai muito bem em conta.

Outra coisa de que gosto e como também na mesma churrascaria é sagu com creme. E sabem como é que peço? Peço assim: me dê mais creme do que sagu. Vêm numa taça boiando aqueles caviares de sagu envoltos no creme de baunilha. É o maior prazer da minha vida.

Agora arrolo coisas de que não gosto. A primeira é telefone celular. Tanto quando eu o estou manobrando, quando não sei nem receber torpedo quanto mais passá-lo, quanto quando o celular está nas mãos das pessoas que estão comigo. Aí, então, irrompe em mim uma raiva de aparência sanguinária.

Descobri por que me irrita assim, até o ódio, o telefone celular nas mãos de quem está junto de mim: é que toda ligação que recebem ou fazem interrompe a minha relação com as minhas pessoas contíguas. Concluo, assim, que o telefone celular traz um componente forte de separação entre as pessoas. O telefone celular, que foi inventado para unir as pessoas, na verdade as separa.

E não gosto de nabo. Pior que ele, só rabanete, que além de tudo tem cheiro péssimo.

Não gosto de todas as verduras, com exceção da alface. E um tal de radite me causa engulhos.

E não gosto de quem é reajustado todos os anos em seu salário e ainda por cima vive pressionando por ganhos ainda maiores. Detesto esses glutões.

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