A crise de Felipão
EDUARDO MALUF
O Estado de S.Paulo - 16/09/11
Se fizermos um ranking de treinadores no Brasil e em Portugal em todos os tempos, certamente teremos Luiz Felipe Scolari nas primeiras posições. Felipão alcançou feitos históricos nos dois países, ganhou fama internacional e, merecidamente, construiu um patrimônio respeitável. Hoje, no Palmeiras, esse supercampeão vive o pior momento da carreira - ou dos últimos 20 anos. Muitas vezes nem parece aquele técnico vibrante de épocas recentes.
A torcida alviverde, que ultimamente se tornou bem mais paciente, não resistiu à derrota de domingo, contra o Inter, no Pacaembu, e protestou. Alguns até pediram a saída de Felipão. Mas a maioria o apoia. De fato, não se pode jogar a culpa nesse gaúcho de 62 anos. O clube teve grandes nomes nos últimos 11 anos, como Luxemburgo e Muricy, e ganhou o quê? Um Paulistão, em 2008.
A responsabilidade principal não é dos treinadores, mas da falta de estrutura em alguns departamentos, da lentidão para a reestruturação depois da saída da Parmalat, em 2000, das brigas políticas e de uma série de investimentos equivocados, que resultaram em dívidas e salários atrasados.
Ainda com todos esses problemas, o torcedor viu uma luz no fim do túnel quando o então presidente Luiz Gonzaga Belluzzo anunciou o retorno de Luiz Felipe, na metade de 2010. Ambiente instável, pressão por conquistas, elenco limitado, falta de dinheiro para contratações de peso... Nada disso, no sonho dos palmeirenses, seria empecilho para um superastro como Big Phil, apelido recebido em sua fase áurea na Europa. O que seria impossível para quem ganhou tanto, consertou times desarrumados e levou equipes desacreditadas ao topo?
Às vezes, não damos tanta atenção a seu currículo, dos mais incríveis do futebol: vencedor da Copa do Brasil com o Criciúma (em 1991), finalista da Eurocopa-2004 e semifinalista do Mundial de 2006 com Portugal, campeão mundial com a seleção brasileira em 2002, campeão da Libertadores com Grêmio e Palmeiras. E ainda levou a Copa do Brasil outras duas vezes, a Mercosul, o Brasileiro, o Torneio Rio-São Paulo... Seu momento mais difícil, até agora, havia sido no Chelsea, da Inglaterra, onde não esperaram completar uma temporada (em 2008/2009) para dispensá-lo, mais por questões internas do que pelos resultados.
Felipão desembarcou no Palestra Itália há 14 meses e desmitificou algo de que eu tinha dúvida: também é falível e de carne e osso, como todos nós. Nem ele foi capaz de pôr o Palmeiras nos trilhos, levá-lo a finais, recarregar as esperanças do torcedor de que é possível acreditar em títulos grandiosos, como o da Libertadores, conquistado justamente sob seu comando, em 99.
Assumiu o time em meados do Brasileiro do ano passado e não conseguiu levá-lo a colocação honrosa na competição. Na Sul-Americana, o clube acabou eliminado de forma surpreendente pelo Goiás nas semifinais. Em 2011, a equipe fracassou no Paulistão e na Copa do Brasil, competição em que sofreu uma de suas grandes derrotas: 6 a 0 diante do Coritiba.
A expectativa era de que as coisas melhorassem no Campeonato Brasileiro. O Palmeiras fez boas partidas, mostrou solidez na defesa e manteve regularidade em boa parte das rodadas. A instabilidade de alguns atletas e a ineficiência do ataque, no entanto, o derrubaram para o oitavo lugar e o afastaram da liderança.
Hoje fica difícil apostar numa classificação para a Libertadores. Não tanto pela tabela, mas pelo futebol praticado e o aparente desânimo de Felipão. Não tenho dúvidas de que tem feito de tudo para reverter o panorama. Cada vez mais, porém, parece resignado, conformado, desiludido. Não consigo enxergar aquele técnico do fim dos anos 90, que dava volta olímpica e jogava a camisa para o torcedor alviverde depois de vitórias épicas. Ou o que fazia substituições ousadas na equipe para tentar mudar placares adversos. O Palmeiras não lhe dá motivos nem opções para estar confiante. Seu esforço não tem dado resultado. E mais um ano está indo embora.
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