Aumento de custos põe em xeque a agricultura brasileira
MARCOS FAVA NEVES
FOLHA DE SP - 10/09/11
ESTIMULADOS POR PREÇOS ALTOS E MENORES CUSTOS, NOSSOS COMPETIDORES PODEM IMPLANTAR PROJETOS EM VÁRIOS PRODUTOS
Na agricultura, as tradicionais vantagens do Brasil em relação a outras regiões do mundo vêm se erodindo rapidamente.
Em três anos, o preço da terra subiu 60%, os custos trabalhistas e de mão de obra crescem de maneira assustadora e sua disponibilidade cai seja pela competição com a construção civil ou outras áreas que demandam gente seja pelas bolsas governamentais que desestimulam o trabalho em algumas regiões.
Os custos de energia elétrica, do diesel, do transporte ineficiente e caro, os custos de capital recordes, os custos de licenciamentos e ambientais e os altos e complexos tributos sufocam cada vez mais as margens.
Produtores de frutas relatam que produzir no Peru representa 50% do custo no Brasil. Produtores de cana dizem que seus custos saltaram 40% desde 2005.
Na laranja, pomares das indústrias que tinham custo operacional de pouco mais de R$ 4 por caixa chegaram a R$ 8 em cinco anos. Idem para GRÃOS e carnes. O Brasil se tornou um país caro.
Os altos preços internacionais compensam os custos crescentes e o impacto do câmbio, permitindo que diversas cadeias apresentem lucro. Mas até quando essa situação perdurará?
De um lado, a demanda mundial por alimentos não mostra nenhum tipo de arrefecimento nos próximos anos, mas o risco é que os competidores do Brasil, estimulados por preços altos e menores custos de produção, implantem novos projetos em diversos produtos.
Não é difícil prever que, em poucos anos, novos e mais fortes concorrentes disputarão os mercados. Produtores de açúcar de beterraba, de suco de laranja, de outras frutas e GRÃOS se animam e investem em seus países.
Estratégias de redução de custo devem ser planejadas e implementadas. São ações privadas, mas principalmente, ações públicas.
Entre as privadas, ainda há uma chance de lipoaspiração na agricultura. Metade das propriedades tem baixo conteúdo tecnológico e baixa eficiência no uso da terra.
Se nas ações privadas é uma lipoaspiração, nas públicas o governo precisa é de uma cirurgia de redução de estômago, para perder entre 30% e 40% do seu peso e alocar melhor seus recursos na saúde, na educação, na infraestrutura, com qualidade e reduzir a carga tributária.
Mas não parece ser essa a direção, pois as "prioridades" do dia são a criação de um novo imposto para a saúde e o aumento salarial do Judiciário, com "efeito cascata" aos demais poderes.
Com esse projeto de curto prazo, mesmo setores com muita saúde, como a agricultura, perdem sua competitividade. O Brasil precisa pensar no médio e longo prazos.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP (Campus Ribeirão Preto-SP) e coordenador científico do Markestrat.
Na agricultura, as tradicionais vantagens do Brasil em relação a outras regiões do mundo vêm se erodindo rapidamente.
Em três anos, o preço da terra subiu 60%, os custos trabalhistas e de mão de obra crescem de maneira assustadora e sua disponibilidade cai seja pela competição com a construção civil ou outras áreas que demandam gente seja pelas bolsas governamentais que desestimulam o trabalho em algumas regiões.
Os custos de energia elétrica, do diesel, do transporte ineficiente e caro, os custos de capital recordes, os custos de licenciamentos e ambientais e os altos e complexos tributos sufocam cada vez mais as margens.
Produtores de frutas relatam que produzir no Peru representa 50% do custo no Brasil. Produtores de cana dizem que seus custos saltaram 40% desde 2005.
Na laranja, pomares das indústrias que tinham custo operacional de pouco mais de R$ 4 por caixa chegaram a R$ 8 em cinco anos. Idem para GRÃOS e carnes. O Brasil se tornou um país caro.
Os altos preços internacionais compensam os custos crescentes e o impacto do câmbio, permitindo que diversas cadeias apresentem lucro. Mas até quando essa situação perdurará?
De um lado, a demanda mundial por alimentos não mostra nenhum tipo de arrefecimento nos próximos anos, mas o risco é que os competidores do Brasil, estimulados por preços altos e menores custos de produção, implantem novos projetos em diversos produtos.
Não é difícil prever que, em poucos anos, novos e mais fortes concorrentes disputarão os mercados. Produtores de açúcar de beterraba, de suco de laranja, de outras frutas e GRÃOS se animam e investem em seus países.
Estratégias de redução de custo devem ser planejadas e implementadas. São ações privadas, mas principalmente, ações públicas.
Entre as privadas, ainda há uma chance de lipoaspiração na agricultura. Metade das propriedades tem baixo conteúdo tecnológico e baixa eficiência no uso da terra.
Se nas ações privadas é uma lipoaspiração, nas públicas o governo precisa é de uma cirurgia de redução de estômago, para perder entre 30% e 40% do seu peso e alocar melhor seus recursos na saúde, na educação, na infraestrutura, com qualidade e reduzir a carga tributária.
Mas não parece ser essa a direção, pois as "prioridades" do dia são a criação de um novo imposto para a saúde e o aumento salarial do Judiciário, com "efeito cascata" aos demais poderes.
Com esse projeto de curto prazo, mesmo setores com muita saúde, como a agricultura, perdem sua competitividade. O Brasil precisa pensar no médio e longo prazos.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP (Campus Ribeirão Preto-SP) e coordenador científico do Markestrat.
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