domingo, setembro 04, 2011

ANTERO GRECO - A grande lorota


A grande lorota
ANTERO GRECO
O Estado de S.Paulo - 04/09/11

Tem muito lero-lero no futebol. Parece que, sem uma conversa mole, ele perde a essência. A maior é quando chega técnico novo e se fala em projeto, tentativa de tornar solene ato corriqueiro de troca de comando. Dá urticária ouvir esse papo furado, que não passa de teatro mambembe, pois nenhum dos personagens acredita no que se diz. Com exceções, e bota exceção nisso!, a maioria dos "professores" estaciona um tempo no clube e leva um pé nos fundilhos tão logo acumule fileira de maus resultados. É convidado a cantar em outra freguesia, onde invariavelmente será apresentado como "o cara", até cair ali adiante. E a roda-viva segue a girar indefinidamente.

Só nesta semana houve três casos de saída de treinadores em clubes da Série A e dois alarmes falsos. O Atlético-PR perdeu Renato Gaúcho, o Cruzeiro mandou Joel Santana levantar o Fundo de Garantia e o Bahia disse "obrigado por tudo, passar bem" para René Simões. No Corinthians, se acenou com a possibilidade de defenestrar Tite e mesmo destino teria Abel Braga no Flu. Para alívio de ambos, suas equipes venceram. O motivo para quedas e ameaças é sempre o mesmo: o desempenho não agradava e os times escorregavam na tabela.

Convenhamos: trata-se de esculhambação danada, curso completo de falta de respeito. E uma contradição do tamanho de um bonde. Técnicos desembarcam a peso de ouro - salários de R$ 200 mil, 300 mil, 500 mil mensais parecem troco de cafezinho - com a missão de recolocar uma agremiação nos trilhos e de levá-la à glória, ao topo da classificação. Enquanto der certo, palmas e tapinhas nas costas. Começou a fazer água, bota-se o sujeito pra correr. Dispensas, na maior parte das vezes, ocorrem à noite e por telefone, de preferência o fixo para não aumentar a conta do celular.

Não se trata de demitir executivo que não atingiu metas, prática comum em empresas. Mas, tenho certeza, haveria mais critério nas escolhas dos gestores da bola. O festival de degolas acontece porque técnico não é levado a sério, noves fora as situações especiais. Os dirigentes os veem como mal necessário e não creem em sua capacidade e na importância da função. Na ótica deles, esses profissionais funcionam como motivadores de elenco. Por isso, lhes oferecem os tubos, que logo lhe são tirados.

Veja o caso do Cruzeiro. A largada em 2011 foi exuberante, sobretudo na Libertadores. Os adversários eram abatidos como moscas, a Raposa matreira despontava como candidata ao título. Até vir a eliminação. Cuca balançou, fez hora extra no Brasileiro até ver-se obrigado a limpar o armário. Recorreu-se à experiência e à verve de papai Joel Santana. Pronto, esse era o homem adequado para domar o elenco, com sua lábia e sua prancheta! O projeto durou 8 vitórias e 7 derrotas. E lá vem hoje o Cruzeiro de interino enfrentar o Palmeiras.

Quando procuraram Joel, os cartolas mineiros de fato tinham proposta de trabalho de longo prazo ou buscavam apenas apagar incêndio e oferecer resposta à torcida? Viro mico de circo, mas fico com a segunda hipótese, que serve para o Cruzeiro e para a maioria dos times, da Primeira Divisão aos catadões dos campeonatos internos das firmas. Cite sem vacilar exemplo atual no futebol brasileiro de projeto de fato em andamento sob a batuta de um treinador veterano de casa. Como é?! Não lembra? Também não me ocorre nenhum.

O desamor é recíproco, embora menos frequente. Técnico também se enche e pega o boné, como fez Renato Gaúcho sem nenhuma cerimônia. Notou que o panorama continuaria feio no Atlético-PR e saiu do olho do furacão, com a desculpa de que estava com saudade da família, instalada no Rio. Renato soltou a dica, logo ao chegar a Curitiba, pouco tempo atrás: avisou que nem desfaria as malas. Não era para menos, antes dele o clube despedira outros 4 em 2011.

Sei que é regra de ouro da selva do futebol despachar treinador aos primeiros sintomas de crise. Mas fará boa colheita aquele que tiver o peito de bancar técnico calejado e qualificado - tá certo, não são muitos - mesmo na turbulência. Esses podem gabar-se de ter projetos - e vão se dar bem.

E se? Não é delírio, mas o Brasileiro corre risco de ter novo líder hoje. Não é nenhum despautério o Coritiba em casa atravancar a vida do Corinthians (40 pontos) e o Vasco (38) bater o lanterna América-MG em Minas. Torneio maluco e emocionantes desses...

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