Mar de burocracia
GEORGE VIDOR
O GLOBO - 29/08/11
O sistema portuário brasileiro voltou a receber investimentos (Santos deve triplicar seu movimento até 2025, enquanto se espera que o Rio salte dos atuais 400 mil para dois milhões de contêineres anuais nesta década) e agora está tentando vencer a burocracia. Os usuários podem levar mais de cinco dias desembaraçando a papelada. O objetivo é reduzir o prazo para 1,7 dia.
E o aliado dos portos em tal batalha é a tecnologia da informação. Santos, Rio de Janeiro e Vitória já estão conectados ao chamado "porto sem papel", pelo qual as informações são fornecidas, antes mesmo de os navios atracarem, para um banco de dados, gerenciado pelo Serpro, disponível em tempo real apenas para alguns órgãos oficiais (Receita, Polícia Federal, Vigilância Sanitária, Capitania dos Portos, Ministério da Agricultura, por exemplo), e somente no que diz respeito à alçada de cada um deles. Além de informações repetitivas e rotineiras, a papelada para desembaraço de mercadorias movimentadas nos portos geralmente envolvia o preenchimento manual de 975 dados diferentes. Pelo computador, o processo se agiliza.
A ideia é que até o fim deste ano, o sistema portuário brasileiro esteja quase todo conectado ao "porto sem papel".
Não só no Brasil, em todo o mundo os portos herdaram estruturas antigas, com leis, normas e convenções que ainda refletem uma realidade de 150 anos atrás.
O governo estadual, a prefeitura do Rio e o Exército estão em entendimento para remanejar algumas unidades militares, abrindo espaço para instalação de centros de pesquisa e de empresas nessas áreas. Na Ilha do Bom Jesus, hoje integrada à Ilha do Fundão, o Exército pretendia construir uma vila para oficiais. A Prefeitura cederá outro local mais apropriado, e para a Ilha do Bom Jesus devem ir centros de pesquisa atraídos para o desenvolvimento da exploração e produção de petróleo no pré-sal, como é o caso da GE.
Alvo também de interesse é a unidade do Exército no Caju. Para lá poderá ir o Moinho Fluminense (Bunge), que hoje funciona na região do Porto Maravilha. O moinho recebe trigo direto do porto por meio de um duto, e o transforma em farinha que serve de matéria-prima para indústrias de alimentos e padarias no Rio.
A ideia é que no lugar do atual moinho se construa um shopping center, que serviria como mais um atrativo para os turistas que desembarcam no Porto do Rio, em centenas de cruzeiros marítimos. No passado, essa era uma área de armazéns e até de indústria e tende a se transformar em zona comercial. Em troca do espaço do Caju - vizinho dos terminais de carga do porto - o Exército receberia terrenos para a construção de casas e edifícios para abrigar oficiais. O valor dos aluguéis no Rio tem desmotivado oficiais de outros estados a se transferirem com a família para a cidade.
Nesses tempos de dificuldades para indústrias de calçados, a Di Santinni resolveu montar uma fábrica de sapatos, em Xerém, Duque de Caxias (Baixada Fluminense), além de um centro de distribuição. Caxias já congrega um razoável número de pequenas indústrias calçadistas.
A nova fábrica atenderá essencialmente às próprias lojas da Di Santinni no Rio e mais as vendas por internet e telefone.
A arquiteta Denise Portella Rosa trabalhou anos em Brasília, no governo, como pesquisadora do antigo Ministério do Desenvolvimento Urbano e do Ipea. Especializou-se na Itália na recuperação de monumentos e centros históricos, e depois fez doutorado em engenharia de transportes. Como resultado dessa miscelânea enveredou, em 2005, para o ramo de projetos e consultoria, focados especialmente em áreas portuárias. A empresa de Denise foi uma das que concorreram ao concurso internacional do futuro Pólo Olímpico, que ficará no lugar do atual Autódromo do Rio. Mas é o pré-sal que agora concentra suas atenções. A arquiteta e urbanista diz que Macaé conseguiu atender satisfatoriamente à demanda da indústria do petróleo na Bacia de Campos, mas está no limite de sua capacidade. Para o pré-sal da Bacia de Santos, na opinião de Denise, um outro corredor logístico terá de surgir. Onde? Por enquanto ela guarda segredo...
Junto com o Comperj, em Itaboraí/São Gonçalo, Denise acredita que o pré-sal terá como impacto direto um aumento populacional de um milhão de pessoas.
Por meio de sua fábrica em Jacarepaguá, a Nestlé vai treinar cem pessoas da Cidade de Deus para que eles possam se tornar pequenos distribuidores de sorvetes. Vários já vendem sacolés, sorvetes de fundo de quintal, de preço baixo mas qualidade duvidosa. A intenção é que possam se tornar distribuidores formais de fabricantes convencionais, ganhando mais dinheiro com isso. É uma iniciativa que possivelmente será estendida a outras comunidades pacificadas.
Uma parte da retroárea do porto do Açu (Eike Batista) que foi adquirida pela Codin (órgão estadual) está sendo avaliada por um novo fabricante de equipamentos para usinas de energia eólica. As pás dos moinhos de vento estão cada vez maiores e fica mais rápido transportar esses equipamentos por via marítima, pois quase sempre as usinas eólicas se instalam junto ao litoral. No último leilão de energia, algumas dessas surpreenderam com as tarifas que ofereceram, bem abaixo das médias anteriores. Sinal de que o setor está conseguindo reduzir custos. Pela primeira vez, a tarifa saiu na faixa de US$60.
A Carvalho Hosken, uma das maiores incorporadoras de imóveis do Rio, completou 60 anos. Desde que foi criada é comandada por Carlos Fernando de Carvalho, cujo ritmo de trabalho continua difícil de ser acompanhado, "queixam-se" seus colaboradores mais próximos (Carlos costuma "descansar" visitando obras). Nos anos 70, ele vislumbrou o enorme potencial de crescimento na região da Barra da Tijuca e adquiriu uma companhia que possuía áreas totalizando 10 milhões de metros quadrados. Desde então, não parou de criar minibairros e condomínios na Barra. Agora, ele será o empreendedor responsável pela futura vila olímpica, que ficará, obviamente, na Barra.
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