O ACM do PT
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 24/08/11
BRASÍLIA - Tomada pelo valor de face, faz todo sentido a tática eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a cidade de São Paulo. O PT enfrenta resistências históricas entre paulistas em geral. Para superar o obstáculo, precisa renovar seus quadros. Apresentar um discurso diferente. Portanto, pela lógica lulista, o atual ministro da Educação, o jovial Fernando Haddad, deve ser o nome do PT na disputa paulistana em 2012.Como Lula já se convenceu desse raciocínio -de fato arguto-, toda a cúpula petista fica obrigada a se submeter e a bater continência. Os outros pré-candidatos do PT estão sendo convidados a sair de cena. Principal opositora da ideia, a ex-prefeita Marta Suplicy tem chance mínima de forçar a realização de uma eleição prévia interna.
Esse processo não está errado. Só revela o estágio de degradação do sistema partidário nacional. Bem ou mal, o PT era a única sigla de grande porte propensa a ter alguma democracia na hora de escolher seus candidatos. Lula teve de se submeter a uma eleição prévia contra Eduardo Suplicy, em 2002, antes de entrar na corrida presidencial daquele ano.
Ao impor o seu dedaço (já houve Dilma Rousseff), Lula se consolida como o sinhozinho do partido. É o ACM do PT. A partir da sua cadeira no Instituto Lula, nhonhô recebe ministros de Dilma. Cobra execução de projetos. Fala com candidatos a prefeito de São Paulo. Determina qual é o caminho a seguir.
O Brasil tem 27 partidos. Seria injusto cobrar democracia interna apenas do PT. Mas as outras siglas relevantes da política nacional já são há muito tempo um caso perdido nesse quesito. E os petistas sempre se jactaram de seu sistema aberto à militância. Não mais.
É evidente que a bruxaria lulista pensada para São Paulo pode ser o atalho mais curto para a legenda retornar ao poder na capital paulista. Mas ao preço de o partido mimetizar "con gusto" os demais.
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