Não param de chegar
CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 24/08/11
No período de 12 meses terminado em 31 de julho, os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) somaram US$ 72,2 bilhões (veja o gráfico ao lado), o equivalente a 3,17% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
As projeções do Banco Central para todo este ano se mantêm nos US$ 55 bilhões, bem aquém do que será o IED em 2011. Ontem, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, avisou que o recorde de julho (US$ 5,97 bilhões) não deve ser tomado como tendência do comportamento da rubrica IED, por incorporar uma grande aquisição internacional - o controle acionário da cervejaria Schincariol pelo grupo japonês Kirin.
Esse é um alerta pouco significativo. Em junho, quando não houve uma negociação assim tão relevante, a entrada de IED foi só um pouco menor: US$ 5,5 bilhões. De mais a mais, compras importantes de posições acionárias brasileiras por estrangeiros já não são tão excepcionais como sugeriu Maciel - e devem ser ainda mais frequentes daqui em diante.
De todo modo, a entrada desses investimentos estrangeiros está tão robusta neste ano a ponto de suscitar suspeitas de que disfarçam a entrada de capitais destinados, na verdade, a aplicações em renda fixa, com o objetivo de burlar a cobrança de impostos. Vale lembrar que, desde outubro de 2010, aplicações em renda fixa estão taxadas com IOF de 6%.
O Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) defendeu no boletim Conjuntura em Foco (agosto de 2011) essa visão, baseado no forte aumento da volatilidade na entrada do IED a partir de dezembro de 2010, logo após a imposição do IOF.
Disfarçado ou não, o capital estrangeiro para investimentos (e não somente de curto prazo) tem um punhado de razões para tomar o rumo do Brasil. A primeira é a impressionante abundância de recursos parados ou com baixa aplicação nos países ricos. Uma boa fatia desse capital sempre acabará desembarcando por aqui.
O segundo motivo é a boa figura que o País faz na foto geral da crise, em que aparecem tantas economias cambaleantes. E o terceiro é a excelente perspectiva que apresentam as atividades ligadas a commodities no Brasil, especialmente na área do petróleo, independentemente do desempenho da economia global.
A entrada de moeda estrangeira pelo IED corresponde hoje a algo entre três e quatro vezes ao ocorrido pelo saldo comercial. As receitas em dólares por meio da balança comercial (exportações menos importações) não têm todo esse poder de valorizar o real, portanto, de provocar a tão falada doença holandesa. Muito mais significativas vêm sendo as entradas de capital, sobretudo pelo IED.
Por temerem a excessiva valorização do real e a perda de competitividade da indústria nacional, alguns economistas vêm insistindo em que o governo controle também a entrada de investimentos estrangeiros. É um recurso que, se necessário, pode ser acionado. No entanto, o Brasil não pode esnobar capital estrangeiro. É tão grande a necessidade de capitais destinados a dar cobertura a investimentos em infraestrutura e em capacidade de produção, que qualquer iniciativa desse tipo seria vista como falta de interesse pelo desenvolvimento nacional.
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