"Só não será se não quiser"
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 24/08/11
SÃO PAULO - Semana sim, semana não -quando não é semana sim, outra também-, Lula aparece em público para afirmar que a candidata à sucessão de Dilma Rousseff se chama Dilma Rousseff. "Ela só não será se não quiser", disse, ainda outro dia, a uma plateia petista.Ninguém acredita no ex-presidente. A começar por ele próprio. Notícia seria se ele dissesse que Dilma não será candidata. Mas a insistência com que se dedica a repetir o que seria natural (mas não é) reforça a desconfiança de que Lula jamais deixou de se comportar como o senhor da sucessão de 2014. "Ela só não será se (eu) não quiser", ou se "eu quiser ser" -essa é a mensagem política subliminar que Lula dissemina entre petistas e aliados.
É por isso que no PT muita gente graúda já admite, reservadamente (ma non troppo), que a campanha pelo retorno de Lula já está em campo, capitaneada por ele mesmo.
Mais até do que a insatisfação da politicada com o estilo pouco oferecido da presidente, é a deterioração das expectativas econômicas que torna plausível esse tipo de especulação. A média anual de crescimento dos anos FHC foi de 2,3%. No segundo mandato de Lula, a média foi de 4,5%, apesar da crise.
Confirmando-se, para os próximos anos, um desempenho intermediário entre essas duas marcas, teríamos, com Dilma, uma gestão medíocre -nem desastrosa, nem exuberante. Seria o melhor cenário para que engrossasse o caldo de cultura a favor do retorno de Lula.
Muita água ainda vai rolar, é certo. Mas, oito meses depois de deixar o cargo, Lula só fez o contrário do que havia prometido. Quem ia "dar uma lição de como se comporta um ex-presidente" se permite cobrar resultados do ministro da Educação como se ainda fosse seu chefe. Quem ia se ocupar da fome no mundo e ter preocupações internacionais está enfiado até o pescoço nos arranjos da política municipal. Se agora já é assim, depois das eleições de 2012 a tendência é piorar. O cara não deixa a mulher trabalhar.
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