Crise e oportunidade
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/05/11
Brasília - O Brasil avança há alguns anos como um aspirante a "global player". A democracia é estável. A moeda, de verdade. Aí sempre vem um escândalo e nos alerta sobre como o país tem uma base institucional atrasada.O "patrimoniogate" de Antonio Palocci é um desses episódios. Deputado federal de 2007 a 2010, ele foi um próspero consultor de empresas. Não há lei ou regra no Brasil que impeça as duas atividades concomitantes. Se pode ter dois empregos, por que não três?
Em 2010, dava expediente na Câmara, era consultor e também ajudava a arrecadar fundos para Dilma Rousseff. Pelo menos uma empreiteira -com interesse no governo- foi cliente de Palocci e doadora da campanha presidencial petista.
E daí? Daí, nada. O ministro e o governo preferem permanecer em eloquente silêncio. É um direito inalienável. A resposta básica oferecida é a do legalismo: todas as atividades estão em conformidade com a norma vigente. Todos os impostos foram recolhidos.
O desfecho do imbróglio é indecifrável. A tática Armando "nada a declarar" Falcão será confrontada com fatos novos. Apesar dessa incerteza sobre o que vem por aí, a crise é uma excelente oportunidade para o Congresso e o Executivo refletirem sobre disciplinar o comportamento de agentes públicos.
Para começar, deputados e senadores podem exercer seus mandatos e prestar consultoria a empresas? Existem 273 nessa situação. Há um evidente conflito de interesses na praça. O ministro da Casa Civil transformou-se no epítome de algo generalizado e tolerado há décadas na política nacional.
Se Palocci prefere ficar em silêncio, joga-se o jogo. Ele estará na cadeira enquanto Dilma o desejar no cargo. Já a presidente da República pode responder de outra forma. Nada a impede de apresentar um projeto que no futuro elimine o vácuo institucional hoje preenchido por toda sorte de "consultoria".
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