Restaurantes japoneses
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/03/11
estão estocando produtos que importam do país devastado por um terremoto e um tsunami há duas semanas, e que agora convive com o fantasma da contaminação dos alimentos por radiação. Algas, arroz, saquê e ovas de salmão têm sido comprados em dobro para garantir que os cardápios de casas orientais renomadas de SP não sejam desfalcados. Importadores já temem que o Japão suspenda por completo as exportações para o Brasil.
Koji Yamasaki
gerente do Tanuki, na Vila Madalena, revelou à repórter Thais Bilenky que já gastou R$ 8.000 a mais do que costuma (R$ 20 mil) com produtos importados por mês. E diz que gastará ainda mais. Ele dobrou seu estoque, garantindo o abastecimento por cinco meses das massas Udon e Lamen, de arroz japonês, moluscos, algas e temperos feitos à base delas.
A tragédia
já provoca aumento de preços. O saquê Takashimizu, importado do Japão, sofreu reajuste de 30%: passou de R$ 70 a garrafa para R$ 90. O preço já foi repassado para a clientela.
Chefs e gerentes reclamam
O encarecimento do saquê, por exemplo, não se explicaria pela tragédia. O Takashimizu é fabricado no sul do Japão, a região menos afetada pelo desastre.
Lauro Suzuki
gerente da Yamato, uma das principais importadoras asiáticas em São Paulo, afirma que os preços podem subir ainda mais. A prioridade dos produtores japoneses hoje é o consumo interno. "O Japão vai ter que fechar um pouco o mercado. Pode até faltar produto para exportação."
Mercearias
tradicionais da Liberdade estão fazendo estoque. Famílias que costumavam comprar um litro de shoyu por lote na Yamato compraram seis. E os restaurantes pequenos que têm comprado acima de sua capacidade de estocagem estão pedindo à empresa que armazene para eles o excedente. O que a importadora tinha de saquê, farinha de tempurá e wasabi em pó guardado acabou. Os produtos vieram em contêineres que saíram do Japão em dezembro, antes da tragédia. Estão, portanto, imunes a eventuais contaminações. Mesmo assim, clientes dos restaurantes demonstram receio. Deoclecio Benicio, maître do restaurante Kinoshita, na Vila Nova Conceição, foi abordado por um freguês sobre o saquê. Teve que explicar que os produtos pós-tsunami ainda não haviam chegado ao Brasil.
O risco de desabastecimento existe
O vinagre de arroz japonês, por exemplo, já sumiu das prateleiras. "Tenho rodado a Liberdade e não acho", diz Kazuo Harada, chef do Kinu, no hotel Hyatt. No restaurante Hideki, em Pinheiros, o gerente Marcelo Mitiaki gastou R$ 4.000 em vez dos habituais R$ 2.000 em produtos como filhote de enguia e peixes marinados. Com isso, espera aguentar até quatro meses sem novas levas. Caso haja desabastecimento, o gerente diz que vai "apelar para "genéricos" nacionais, americanos, chilenos e europeus".
Já o Shintori
na alameda Campinas, triplicou a compra de macarrão Udon para se garantir até maio. E tem estoque de saquê Hakushika até junho. Luis Carlos Gomes, gerente administrativo da casa, diz que se, até lá, o abastecimento não for normalizado, importará a bebida da Califórnia.
Jun Sakamoto
em Pinheiros, segue linha oposta. O chef não quer comprar nada a mais do que costuma para que não faltem produtos no Japão, onde mora grande parte de sua família. "Não vou superestocar. Acho uma prática errada. Prefiro fechar o restaurante e esperar [o abastecimento] se restabelecer. Tenho uma hamburgueria [a Hamburgueria Nacional] que pode me sustentar por um tempo", afirma.
Uma amiga de Sakamoto que mora em Tóquio
contou a ele que, há alguns dias, estava no supermercado quando viu uma senhora carregando dois galões de água. Se ofereceu para ajudá-la se quisesse levar mais. Mas a senhora teria se recusado. "Muita gente vai precisar dessa água", respondeu. Sakamoto diz que vai seguir o exemplo: "Isso é o Japão".
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