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Denise Rothenburg | ||||
Correio Braziliense - 08/02/2010 | ||||
FHC tinha o Plano Real, o PT tem a popularidade de Lula. Resta saber se os petistas irão ceder aos desejos do PMDB como o PSDB fez para agradar ao PFL
Em sua convenção nesse fim de semana, os peemedebistas finalmente “saíram do armário”. Antes que você pense que se vestiram de mulher para participar de um bloco carnavalesco, é bom lembrar que o tema aqui é política. Com todo o respeito aos comandantes peemedebistas, o que se viu na convenção foi um partido assumido: é regional mesmo e ponto final. E, dentro do grande condomínio chamado PMDB, cada um fará o que puder para manter o seu apartamento de luxo, digo, governo, nos mais diversos estados. Vejamos, o Maranhão. Depois de um janeiro movimentado, marcado por ações políticas mais incisivas da ministra e pré-candidata Dilma Rousseff, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), usou a convenção para cercar o território da filha, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Para quem não se lembra, enquanto Lula cuidava da sua pressão, a ministra recebeu o PDT para um almoço em sua casa, onde o presidente do partido, Carlos Lupi, selou o apoio à candidatura dela, transformando o PDT no primeiro a fazer um gesto mais ostensivo de aliança eleitoral. Unidade Os pedetistas fizeram algumas exigências, entre elas, o apoio de Dilma a Jackson Lago no Maranhão que, ao que tudo indica, será candidato a governador contra Roseana. Sarney, na época, nada disse. Ontem, na convenção, estava combinado que, em prol tentativa de unidade em junho, ninguém avançaria o sinal falando da aliança com o PT, numa demonstração de respeito aos que são contra para, mais à frente, tentar agregar estados como o Rio Grande do Sul. Sarney quebrou o acordo e falou para os bons entendedores que apoiará Dilma Rousseff. A declaração de Sarney tem um objetivo claro: colocar-se no mesmo patamar que o PDT para, mais à frente, avisar ao PT para não “ficar de gracinha” contra Roseana, candidata à reeleição. E, para os sarneyzistas, essa “gracinha” é Dilma desfilar no palanque de Lago. Afinal, Roseana foi líder do governo. E seu pai hoje pode dizer que, desde a convenção do PMDB em que não era para falar de sucessão presidencial, ele apoiou Dilma. Até junho, data da convenção peemedebista que escolherá o caminho à Presidência da República, essa cobrança de apoio e exclusividade por parte do PMDB será voz corrente em diversos estados. Os políticos que analisam os movimentos do PMDB acreditam que ele está cada vez mais parecido com o PFL do início da década de 1990 — que fechou apoio ao então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Tucanos No início de 1994, o então presidente do PFL, Jorge Bornhausen, jogou o mapa das coligações sobre a mesa tucana e resmungou: “É assim que vocês querem que estejamos engajados na campanha presidencial?” Foi a senha para que o PSDB cedesse. Fernando Henrique viu-se obrigado a desfilar na Bahia com Antonio Carlos Magalhães, desprezando o próprio PSDB e antigos aliados. Talvez FHC não precisasse disso para ganhar a eleição. Mas o PFL então era forte, um grande partido de caciques regionais, sobretudo no Nordeste. O PSDB não quis correr o risco. Cobrança Agora, o PMDB faz a mesma cobrança em relação ao palanque de Dilma. E assim como FHC tinha o Plano Real embalando a campanha, o PT tem hoje a popularidade de Lula. Resta saber se os petistas irão para o sacrifício em nome da aliança para preservar o PMDB engajado na campanha como fizeram muitos tucanos em 94 para agradar ao PFL. Por enquanto, os petistas torcem pelo crescimento rápido dos índices pré-eleitorais de Dilma. Acreditam que, assim, não precisarão ceder muito. Afinal, aceitam o PMDB transformado num PFL, mas não querem que o aliado vire uma máquina poderosa e feroz agindo nos bastidores contra a ministra. Se isso vai ocorrer, só o tempo dirá. |
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