PERTO DE Altamira, no Pará, o rio Xingu desenha uma grande curva, semelhante a uma ferradura. Nessa região, conhecida como Volta Grande do Xingu, está prevista a polêmica construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, cuja licença prévia acaba de ser concedida pelo Ibama.
A obra tem proporções gigantescas. A quantidade de terra e pedra a ser retirada é quase comparável ao que foi removido na construção do canal do Panamá. Pelo leito do rio passa uma vazão, no período de cheia, correspondente a quatro vezes a vazão das cataratas do Iguaçu.
Os impactos socioambientais terão a mesma ordem de grandeza.
Apenas a eficiência energética da usina não será tão grande. Uma obra que deverá chegar a R$ 30 bilhões -somado o custo da transmissão-, terá capacidade instalada para gerar, em média, 4.428 MW. E não os 11.223 MW anunciados. A energia média efetiva entregue ao sistema será de 39% da capacidade máxima de geração, enquanto a recomendação técnica é de pelo menos 55%.
Para isso, seria preciso construir outras três usinas na bacia do Xingu, com a função de regularizar a vazão do rio. Foram descartadas pelo governo porque estão projetadas para o coração da bacia, onde 40% das terras são indígenas. Mas há forte desconfiança de que acabarão sendo feitas.
A população indígena ficará prensada nas cabeceiras dos rios da bacia, em processo acelerado de exploração econômica e desmatamento. O plano de condicionantes nem menciona a regularização das terras Parakanã e Arara, já bastante ameaçadas. E a barragem, além de interromper o fluxo migratório de várias espécies, vai alterar as características de vazão do rio.
É incrível que um empreendimento com tal impacto não tenha planejamento adequado para o uso e ocupação do território. A obra deverá atrair mais de 100 mil pessoas para a região. Como dar conta de tal adensamento populacional no meio da floresta amazônica, sem um bom Plano de Desenvolvimento Sustentável?
O Brasil tem importante potencial hidrelétrico. Mas a indisposição em discutir a sustentabilidade das obras de infraestrutura na Amazônia, somada à percepção de que o governo não faz o suficiente para melhorar a eficiência do sistema como um todo e investir em energias alternativas, acaba por produzir conflitos agudos e processos equivocados, que poderiam ser evitados.
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