Galinho garnisé
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/01/10
BRASÍLIA - Lula e Serra riem e discutem Palmeiras e Corinthians em público enquanto o PT e o PSDB se perdem em bate-bocas e bate-notas. É esse tipo de idiossincrasia, tão própria da política, que ocorre agora entre os governos Obama e Lula em torno do Haiti.
As curiosas relações Brasil-EUA também se revelam em dois planos: em Porto Príncipe, generais, coronéis e soldados brasileiros tentam disputar nacos da tragédia com os americanos, mas, em Brasília e em Washington, a conversa é outra.
No cenário de devastação, enfileiram-se bandeiras, tanques e sacolas com sardinha, sal e açúcar brasileiros, numa competição insana com os superaviões e os navios-hospitais da potência. Raia o ridículo.
Mas, no conforto da diplomacia, os dois países tentam articular uma parceria humanitária no Haiti para acertar o passo.
Obama, Hillary e Bill Clinton dão prioridade ao Haiti. Veem ali a chance de suavizar a imagem dos EUA, tão endurecida pelas guerras à revelia da ONU e sob pretextos inacreditavelmente forjados -como na invasão do Iraque.
Já o Brasil assumiu o comando da Minustah (força da ONU no Haiti) para se habilitar a voos altos internacionais e habilitar o seu Exército para voos rasos na violência urbana. Com o terremoto, Lula, Jobim e Amorim -que passou por Porto Príncipe a caminho da reunião dos "amigos do Haiti", amanhã, no Canadá- têm a opção de disputar ou de somar com os EUA; perder contra eles ou ganhar com eles.
A primeira é infantil e suicida, porque bater de frente com os gigantescos recursos norte-americanos é reduzir o Brasil a uma formiguinha a mais na ajuda humanitária. A segunda é adulta e consequente, porque atuar em parceria com os EUA no Haiti significa projeção de liderança regional e alavanca para alianças futuras que sobrevivam a terremotos e marolas.
É pegar ou largar, enquanto seu Obama não vem.
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