O unobtainium é nosso
O GLOBO - 24/01/10
É um trabalho à prova de contradições.
Cameron confia tanto no poder embasbacador do seu filme que não se dá o trabalho de entrar em detalhes. Nunca se fica sabendo o que os habitantes de Pandora e os avatares respiram através daqueles narizes achatados, já que oxigênio não é. E nunca fica claro por que o tal mineral “unobtainium” é tão importante para os invasores terrenos, a ponto de justificar o massacre dos nativos. Como o mineral não é identificado, fica-se autorizado a substituir “unobtainium” por “petróleo” para reforçar a analogia anti-imperialista. E para não haver dúvidas, no filme há uma rápida referência a outra invasão americana quando alguém compara a tática que será usada contra a resistência nativa ao choque e espanto, “shock and awe”, nome dado às primeiras operações no Iraque. Os vilões do filme não são exatamente as forças armadas
americanas, são mercenários pagos por empresários predadores para fazer seu trabalho sujo. Os vilões são a estupidez de uns e a ganância dos outros. Vilões conhecidos. Fora a tecnologia sofisticada, diz o filme, o século 23 repete o século 20. Pensando bem, repete todos os séculos de conquistas imperiais desde o 16º.
Jake Sully, o avatar que adere à resistência nativa e acaba liderando-a, é um herói também à antiga. Não falta, na sua exortação ao seu novo povo, o punho levantado e a frase dessa fiadora “Esta terra é nossa”. Só faltou, mesmo, dizer “O unobtainium é nosso!”.
O que eu achei do filme? Achei sensacional.
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