Déficit não assusta, mas vai pesar no câmbio
O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/01/10
Saiu na semana passada o resultado oficial das contas correntes em 2009. Déficit de US$ 5,94 bilhões em dezembro. Não assusta, 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Neste ano pode chegar a 2,5%, mesmo assim controlável nos próximos anos.
Mas acende um sinal de alerta. Estamos dependendo cada vez mais da entrada de recursos externos e menos das exportações, que não se animam apesar da leve recuperação do comércio mundial, nos últimos meses.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, junta-se aos seus colegas ao afirmar que está preocupado, não com o que o ocorre agora, mas com os números que virão nos próximos anos e os efeitos desfavoráveis sobre a economia.
"2010 é financiável, não é problema. Estimamos um déficit em US$ 53 bilhões, um valor alto, mas ainda plenamente financiável. O problema é que a perspectiva é de que ele deve aumentar nos próximos anos", afirma.
NÃO É SÓ O CÂMBIO
A questão relevante aqui não é o câmbio. Não é um ajuste na taxa de câmbio que irá reverter essa trajetória de aumento do déficit nas contas externas. A diferença é que vamos crescer mais do que a média mundial, ao contrário do que aconteceu entre 2003 e 2008. Nesse período, principalmente nos primeiro anos do período, a brasileira avançou relativamente menos.
"Como esperamos que o mundo cresça pouco nos próximos anos, por achar que a crise ainda restringirá consumo nos países desenvolvidos, e pelas perspectivas de crescimento positivas de nossa economia, a trajetória da conta corrente será inversa ao da bonança que tivemos entre 2003-2008. Naquele momento o câmbio apreciou continuamente e isso não evitou a balança comercial de continuar elevada", diz.
Fomos beneficiados também pelo aumento dos preços das commodities decorrente da própria expansão da economia mundial.
"Por conta disso, essa perspectiva de déficit em conta corrente elevado vai ter seu impacto muito claro no câmbio. Na verdade, isso já começou a acontecer", diz Sergio Vale.
Mais do que a ameaça do governo de colocar mais IOF ou não na entrada de recursos externos, que não é central para mudar a trajetória do câmbio, é a tendência do déficit em conta corrente que fará esse trabalho para a taxa de câmbio. A questão é evitar que isso gere inflação, num momento de crescimento forte e eleição disputada.
O NOVO GOVERNO
Ele não acredita que possa haver grandes mudanças na política na política e monetária e cambial econômica do novo governo. E isso mesmo porque já se pode sentir uma tendência de mudança, neste ano "o que já acalmará o ânimo dos candidatos."
A grande diferença para impedir que o déficit em conta corrente se transforme num problema será fazer um ajuste fiscal relevante. Isso aumentaria a poupança, permitiria juros menores e aumentaria a perspectiva de gastos com infraestrutura e não gastos correntes.
Mas ele acha "impossível um mais forte, em 2011, quando o novo governo assume mais fragilizado. Quem ganhar, deve ganhar por pouco, com margem mais fraca no Congresso, e depois de anos de gastança. Vai ser difícil mudar a cabeça dos congressistas".
CAI SOBRE O CÂMBIO
Por isso, diz ele, o ajuste acabará sendo pela taxa de câmbio, o que vai exigir um novo ciclo de alta de juros e crescimento econômico mais baixo. Não será um "voo de galinha, com crescimento zero, mas temos que contar com a hipótese de crescimento de 3% a 4% já em 2011".
Enquanto a poupança e o investimento não aumentarem significativamente não temos a menor chance de crescer sem poupança externa. E se tentarmos crescer vamos esbarrar novamente na restrição externa.
E Sergio Vale conclui: "Tinha-se a impressão de que esse tipo de restrição já estivesse superado, que não haveria mais problemas dessa ordem no País, mas a verdade é que ela ainda é um desafio decorrente de políticas erradas feitas nos últimos dois anos.
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