Fla-Flu mental
O GLOBO - 20/11/09
Lobão, Marina, Caetano, Azeredo
Contudo, vamos trocar de metáfora esportiva.
Semana passada, era corrida maluca. Nesta, é futebol. O apagão do Lula acirrou os ânimos de um dos embates mais estúpidos do Campeonato Brasileiro de Política: o Fla-Flu mental. Parecia a velha piada sobre as obras paralisadas do metrô em Copacabana: “O buraco é do Brizola ou o buraco é do Moreira?” Foi constrangedor ver Edison Lobão, ministro das Minas e Energia, incapaz de trocar pilha em lanterna, censurando um técnico do Inpe sob a alegação de que o tal não tem conhecimento de causa para falar do sistema elétrico brasileiro. Foi igualmente constrangedor ver Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado, declarar que o apagão em 18 estados é que foi o verdadeiro racionamento a fim de defender, hã, a poupança compulsória de energia no Governo FH, sem nem mesmo se dar ao trabalho de consultar um dicionário.
A rejeição in totum do Governo FH pelo time do PT atrás é obtusa. Quando Lula assumiu, só se queixava da “herança maldita”, mas foi esperto o bastante para se apoderar das conquistas do antecessor. Agora, a rejeição in totum do Governo Lula pelo time do PSDB não é menos tapada. Renegá-lo é, de certa forma, renegar a si próprio.
Não se trata de, daqui da cabine, perseguir a imparcialidade jornalística, que, aliás, nem concerne a um cronista, mas é ululante a continuidade do futebol praticado por PSDB e PT.
Partir para o tudo ou o nada ofende a inteligência.
A principal diferença é que tucanos foram tímidos na defesa do social, e petistas foram desinibidos no ataque à ética.
E aí, em meio ao clássico do maniqueísmo pátrio, Marina invadiu o campo. Ela assinalou um tento, levantou a camisa verde e, por baixo, apareceu outra, com a frase “Sou de Jesus”.
O efeito nos bancos adversários foi imediato.
Além de Marina, já confirmaram presença na conferência sobre o clima o tucano Serra e a “petista” Dilma. Serra sempre foi verde.
Basta olhar. Dilma achava que Copenhague era só o nome de uma chocolataria.
A propósito de “Marina”, dois personagens escreveram em busca de reparação. Por ordem de surgimento no texto da semana passada, Caetano Veloso e Eduardo Azeredo. Seguemse, então, cada trecho em questão, os emails deles e as respostas que lhes enviei.
Trecho: “Porém, ao contrário de Caetano, que em temporadas passadas já se desmanchara em elogios a Antônio Carlos Magalhães, a Mangabeira Unger e ao próprio Ciro, o cronista até hoje não chegou a nenhuma conclusão sobre a tímida Marina.” E-mail: “Dapieve, em meio ao cansaço diante da grita por causa de uma manchete do ‘Estadão’ e da fanfarronada do Segundo Caderno sobre Woody Allen (extraída de entrevista autobiográfica dada a pequena revista cultural de João Pessoa), me deparei com você, de quem gosto, afirmando que apoiei ou louvei Antônio Carlos Magalhães. A verdade é que fiz oposição sistemática a esse político durante toda a sua vida pública, tendo recebido dele respostas pela imprensa (‘Caetano quer ser diferente’, ‘Ele não gosta de mim mas a mãe dele gosta’). Subi nos palanques de Waldir Pires e Lídice da Mata contra ACM. Disse repetidas vezes que ele representava um tipo de político de que a Bahia deveria poder se livrar. E que ninguém era meu dono. Portanto, minha declaração de voto a Marina Silva não pode ser emoldurada por informações descuidadas e irresponsáveis. Minhas ideias são ideias de artista: complexas e maleáveis. Se um dia você quiser saber as nuances de minha apreciação de ACM, podemos conversar. Mas minha oposição pública a ele foi clara e teimosa. Peço que você corrija a informação.
Obrigado. Caetano Veloso.” Resposta: “Caro Caetano, agradeço seu apreço e sua mensagem. Concordo, sim, que o que escrevi pode dar a entender que você ou apoiou ou louvou Antônio Carlos Magalhães. Isso não está correto, nem na minha memória, e será corrigido na coluna. Dada a repercussão do tema Marina junto ao (e)leitorado, acho que voltarei ao assunto na próximo sexta. Seja como for, não era apoio ou louvação ao político que eu tinha em mente — tanto que escrevi ‘elogios’, algo bem mais genérico — e sim alguma frase sobre a beleza física do ACM ou coisa parecida. Mas não pretendo polemizar, imagino como deva ser cansativo mesmo. Se você se sentiu ofendido, cabeme apenas ponderar isso e reproduzir a sua queixa. Será sempre um prazer conversar, sobre ACM ou Regina Spektor. Abraço.” Trecho II: “Contudo, o texto (de Fernando Henrique) era tanto ataque ao governo quanto ao próprio PSDB, incapaz de fazer qualquer oposição, inclusive pelo rabo preso no ‘mensalão mineiro’ de seu ex-presidente Eduardo Azeredo.” E-mail II: “Prezado cronista Arthur Dapieve, não tenho nenhum ‘rabo preso’. Sou vítima, inclusive, de falsificadores. E não desejo a ninguém que também sofra com ilações, suposições e montagens. A questão está sub judice, e pessoas responsáveis não deveriam, neste momento, fazer afirmações precipitadas. Obrigado pela atenção. Senador Eduardo Azeredo.” Resposta II: “Prezado senador Eduardo Azeredo, agradeço sua mensagem, mas não afirmei que o senhor tem ‘rabo preso’ — e sim que o PSDB tem ‘rabo preso’ por sentir-se tolhido nas críticas, pelas acusações contra o senhor e/ou a sua campanha. Não tenho mesmo como julgar o mérito delas, mas para mim está claro que tais acusações constrangem o seu partido ao jogá-lo no mesmo saco do PT, inclusive no que tange ao andamento do processo no STF. Processo no qual desejo-lhe sucesso.
Cordialmente.” E fim de papo no Maraca. Até a próxima rodada do Brasileirão 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário