quinta-feira, agosto 29, 2013

Médicos cubanos - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

O Estado de S.Paulo - 29/08

A preferência da presidente Dilma Rousseff pelos regimes bolivarianos é inequívoca. Basta comparar a forma como tratou o Paraguai - onde a democracia é constitucionalmente mais moderna, por adotar mecanismos próprios do sistema parlamentar (recall presidencial) - ao afastá-lo do Mercosul e como trata a mais sangrenta ditadura latino-americana, que é a de Cuba.

A presidente do Brasil financia o regime cubano com dinheiro que melhor poderia ser utilizado para atender às necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), dando-lhe maior eficiência em estrutura e incentivos.

Em período pré-eleitoral, Dilma Rousseff decidiu trazer médicos de outros países para atender a população do interior do Brasil, sem oferecer, todavia, as condições indispensáveis para que tenham essas regiões carentes hospitais e equipamentos. Empresta dinheiro a Cuba e a outros países bolivarianos, mas não aplica no nosso país o necessário para que haja assistência gratuita, no mínimo, civilizada.

O cúmulo dessa irracional política, contudo, parece ocorrer na admissão de 4 mil agentes cubanos, que se dizem médicos - são servidores do Estado e recebem daquela ditadura o que ela deseja pagar-lhes -, para os instalar em áreas desfavorecidas do Brasil, sem que sejam obrigados a revalidar seus títulos nos únicos órgãos que podem fazê-lo, ou seja, os Conselhos de Medicina.

Dessa forma, trata desigualmente os médicos brasileiros, todos sujeitos a ter a validade de sua profissão reconhecida pelos Conselhos Regionais, e os estrangeiros que estão autorizados exclusivamente pelo governo federal a exercer aqui a medicina.

O tratamento diferencial fere drasticamente o princípio da isonomia constitucional (artigo 5.º, caput e inciso I), sobre escancarar a nítida preferência por um regime que, no passado, assassinou milhares de pessoas contrárias a Fidel Castro em "paredóns", sem julgamento, e que, no presente, não permite às pessoas livremente entrarem e saírem de seu país, salvo sob rígido controle. Pior que isso, remunerará os médicos cubanos que trabalharem no Brasil em valores consideravelmente inferiores aos dos outros médicos que aqui estão. É que o governo brasileiro financiará, por intermédio deles, o próprio governo de Cuba, o qual se apropriará de mais da metade de seu salário.

Portanto, a meu ver, tal tratamento diferencial fere a legislação trabalhista, pois médicos exercendo a mesma função não poderão ter salários diversos. O inciso XXX do artigo 7.º da Constituição federal também proíbe a distinção de remuneração no exercício de função.

Acontece que pretende o Estado brasileiro esquivar-se do tratamento isonômico alegando que acordo internacional lhe permite pagar diretamente a Cuba, que remunerará seus médicos com 25% ou 40% do valor que os outros médicos, brasileiros ou não, aqui receberão.

É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) de que os tratados entram em nosso ordenamento jurídico como lei ordinária especial, vale dizer, não podem sobrepor-se à Constituição da República, a não ser na hipótese de terem sido aprovados em dois turnos, nas duas Casas Legislativas do Congresso Nacional, por três quintos dos parlamentares (parágrafo 3.º do artigo 5.º da nossa Lei Maior).

Ora, à evidência, o acordo realizado pelo governo brasileiro não tem o condão de prevalecer sobre a nossa Carta Magna, por ter força de lei ordinária especial, sendo, pois, de manifesta inconstitucionalidade. Francisco Rezek, quando ministro do STF, certa vez, a respeito da denominada "fumaça do bom direito", que justifica a concessão de liminares contra atos ou leis inconstitucionais, declarou, em caso de gritante inconstitucionalidade, que a fumaça do bom direito era tão grande que não conseguia vislumbrar o rosto de seus pares colocados na bancada da frente. Para a manifesta inconstitucionalidade do ato a imagem do eminente jurista mineiro calha como uma luva. O tratado do Brasil com a ditadura cubana fere o artigo 7.º, inciso XXX, da Constituição federal.

O que me preocupa, no entanto, é como uma pequena ilha pode dispor de um número enorme de "médicos exportáveis", que, se fossem bons, não deveriam correr nenhum risco ao serem avaliados por médicos brasileiros dos Conselhos Regionais, e não por funcionários do governo federal.

Pergunto-me se tais servidores cubanos não terão outros objetivos que não apenas aqueles de cuidar da saúde pública. Afinal quando foram para a Venezuela, esse país se tornou gradativamente uma semiditadura, na qual as oposições e a imprensa são sempre reprimidas.

E a hipótese que levanto me preocupa mais ainda porque foi a presidente guerrilheira e muitos de seus companheiros de então haviam sido treinados em Cuba e pretendiam impor um governo semelhante no Brasil, como alguns deles afirmaram publicamente.

Tenho a presidente Dilma Rousseff por mulher honesta e trabalhadora, embora com manifestos equívocos em sua política geradora de alta inflação, baixo produto interno bruto (PIB), descontrole cambial e déficit na balança comercial e nas contas externas. O certo, contudo, é que a sua preferência pelos regimes bolivarianos e a sua aversão ao lucros das empresas talvez estejam na essência de seu comportamento na linha ora adotada.

Respeito a presidente da República eleita pelo povo, mas tenho receio de que suas preferências ideológicas estejam na raiz dos problemas que vivemos, incluída a importação de agentes públicos de Cuba que se intitulam médicos.

Crise existencial - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 29/08

SÃO PAULO - Embora os tucanos tentem minimizar o assunto, a crise existencial de José Serra (deixar ou não deixar o PSDB?) tem grande potencial de estrago para a candidatura Aécio Neves e para o futuro do próprio partido.

O ex-governador paulista cogita sair do PSDB porque deseja disputar pela terceira vez o Palácio do Planalto, seu único e obsessivo projeto de vida, mas nem mesmo seus velhos companheiros o respaldam. FHC, por exemplo, já declarou que Serra precisa ser "realista".

O tucano tem hoje uma rejeição altíssima, de 36%, quase o dobro da que possuía nesta mesma época da última corrida presidencial (19%, em dezembro de 2009), e fracassou ao se candidatar à Prefeitura de São Paulo, no ano passado, na sua principal base política. Perdeu para o "segundo poste" de Lula.

Apesar da ínfima chance de sucesso, a sua eventual candidatura por outro partido (o PPS) pode representar um significativo problema para o ex-governador mineiro. Serra, evidentemente, transita na mesma faixa do eleitorado de Aécio e lhe tiraria bons votos, sobretudo em São Paulo, o que pode ser perigoso para alguém que poderá enfrentar uma disputa difícil pela segunda vaga no turno final da eleição com Marina Silva e, talvez, com Eduardo Campos.

Mas Serra não é um transtorno apenas para Aécio. Representa também um fator a mais de risco para o próprio PSDB, que tem se mantido como a principal voz da oposição no país, muito embora tenha conseguido dizer pouca coisa realmente útil nos últimos anos.

O que será do partido se ficar de fora do segundo turno da disputa presidencial e não eleger uma bancada parlamentar razoável? Se no início do governo FHC o ministro Sérgio Motta dizia que o projeto do PSDB era ficar no poder por pelo menos 20 anos, duas décadas depois o partido terá, antes de tudo, de tomar cuidado para não virar um figurante na política nacional.

A politização da AGU - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 29/08

No mesmo dia em que a presidente Dilma Rousseff substituiu o titular do Ministério das Relações Exteriores, sem esconder seu descontentamento com a forma como o senador boliviano Roger Pinto Molina foi trazido da Bolívia para o País, o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, anunciou que Molina teria de formular novo pedido de asilo. Segundo Adams, o asilo concedido só o autorizava a permanecer na embaixada brasileira em La Paz, não lhe assegurando o direito de permanecer em território nacional. "Asilo diplomático é um asilo provisório, não é um asilo político. O asilo político é territorial e ele ainda não tem", afirmou o advogado-geral da União.

A afirmação de Adams foi na mesma linha ideológica das críticas de Dilma ao diplomata Eduardo Saboia, que trouxe Molina para o Brasil sem autorização do Itamaraty. Mas, do ponto de vista jurídico, ela é tão absurda que o vice-presidente da República, Michel Temer, interveio para evitar mais confusão. Jurista de profissão, Temer explicou que, pelo direito internacional, as embaixadas brasileiras são extensão do território nacional. Disse que o asilo concedido a Molina é válido para sua permanência no Brasil. E, apesar de reconhecer que a AGU "poderá examinar a questão", afirmou que isso, de fato, cabe à diplomacia.

Essa não foi a primeira vez que Adams procurou dar fundamentos jurídicos a polêmicas decisões políticas do governo. Na semana passada, quando a oposição criticou o acordo para a vinda de 4 mil médicos cubanos, Adams disse que eles não poderão "desertar", pois o Brasil não lhes dará direito de asilo. "Esses médicos vêm como profissionais. Veem em cima de um acordo, de uma relação de trabalho. Não me parece que sejam detentores de condição de permanência no País", alegou, esquecendo-se de que o asilo é o verso de uma moeda cujo reverso são os direitos humanos.

Por coincidência, dias antes de fazer essas declarações, Adams anunciou que o projeto da Lei Orgânica da AGU será submetido em setembro a uma consulta pública entre os advogados do órgão. Enviado ao Congresso há um ano, o projeto foi criticado por entidades de procuradores da Fazenda, da Previdência Social, do Banco do Brasil e de procuradores lotados em autarquias e Ministérios, que acusaram Adams e Dilma de tentar aparelhar a AGU, colocando-a a serviço do PT. E acrescentaram que o projeto foi elaborado por Adams na surdina, para criar uma situação de fato.

O projeto tem vários pontos polêmicos. Pela legislação em vigor, apenas o advogado-geral da União pode ser de fora do quadro de profissionais do órgão. Os demais cargos são exclusivos de servidores escolhidos por meio de concurso público de provas e títulos. Pelo projeto, os postos de procurador-geral da União, procurador-geral federal, procurador-geral da Fazenda, procurador-geral do Banco Central, consultor-geral e consultores jurídicos dos Ministérios passam a ser de livre indicação do chefe da CGU, que, por sua vez, exerce um cargo de confiança do chefe do Executivo.

O projeto também esvazia parte das competências dos advogados públicos concursados, concentrando-as no gabinete do chefe da AGU, que poderia avocar pareceres e processos em andamento e decidir unilateralmente. Além disso, o projeto tipifica como infração funcional o parecer do advogado público que contrariar ordens de superiores hierárquicos.

Assim, a vontade dos procuradores-chefes, indicados com base em conveniências políticas, prevaleceria sobre o entendimento técnico dos advogados públicos de carreira, o que comprometeria a autonomia funcional e a independência jurídica da corporação, possibilitando intervenção política em licitações, convênios e acordos.

As entidades de procuradores do Poder Executivo atribuem ao projeto elaborado por Adams a intenção de converter a AGU num órgão de assessoria jurídica dos interesses políticos e ideológicos do Planalto e do PT. Acima de tudo, a AGU é um órgão de Estado.

Respeito aos médicos - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR  - 29/08

As críticas – pertinentes – ao programa Mais Médicos e, especialmente, à maneira como foram contratados os médicos cubanos não justificam cenas de hostilidade como as vistas em Fortaleza



Os primeiros médicos cubanos que chegaram a Fortaleza, no Ceará, foram recepcionados de duas formas bastante diferentes. No aeroporto, uma claque festejava com jurássicos bordões segundo os quais “a América Latina vai ser toda socialista”. Mas, na segunda-feira, primeiro dia do curso pelo qual os estrangeiros têm de passar antes de assumir seus postos, dezenas de médicos cearenses hostilizaram os cubanos com vaias, insultos, gritos de “Revalida!” (em referência ao exame exigido de médicos de outros países interessados em trabalhar no Brasil, e que não será exigido dos participantes do Mais Médicos), pedidos para que voltem a Cuba e referências à escravidão. No dia seguinte, o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), José Maria Pontes, tentou consertar a situação, dizendo que as vaias eram para os gestores brasileiros. “Não temos nada contra os colegas cubanos”, afirmou. No entanto, é difícil conciliar sua explicação com o teor dos gritos de guerra – uma reação desproporcional, e ainda por cima direcionada às pessoas erradas.

“Vamos ocupar lugares aonde eles não vão”, disse um dos cubanos, referindo-se aos médicos brasileiros. A frase sucinta explica corretamente por que nenhum dos estrangeiros – cubanos ou não – que participam do Mais Médicos veio tirar o emprego dos brasileiros. Assim, a única queixa razoável que permanece é aquela referente ao Revalida. Como a Gazeta do Povo afirmou na semana passada, se por um lado é preciso aproveitar o interesse dos estrangeiros em trabalhar no Brasil, por outro há de se garantir a qualidade desses profissionais, e por isso seria interessante que os integrantes do Mais Médicos passassem pelo Revalida (uma exigência que poderia ser levantada em circunstâncias extremas, mas que a nosso ver não se apresentam no Brasil atual). No entanto, essa reivindicação não justifica a agressividade vista em Fortaleza.

Não faz o menor sentido tratar dessa maneira pessoas genuinamente interessadas em melhorar as condições de saúde dos brasileiros, e seria absurdo pensar que entre os cubanos não haja vários médicos imbuídos dessa preocupação. Não se pode ignorar a possibilidade de que haja profissionais que não tiveram escolha, forçados a vir trabalhar no Brasil – também esses merecem nossa compreensão. E, por último, não se deveria descartar a hipótese de haver alguns cuja formação médica é mero pretexto para o proselitismo político nas comunidades onde ficarão – em se tratando de Cuba, tudo é possível. Como o governo cubano impõe restrições de todo tipo aos seus médicos (restrições, aliás, que desrespeitam direitos básicos garantidos pela Constituição brasileira, o que o governo Dilma aparentemente ignora), só saberemos a verdade quando eles começarem a trabalhar, ou se algum deles tiver êxito em escapar das garras da vigilância castrista. Mas, nas circunstâncias atuais, todos eles merecem o respeito devido a um profissional que vem trabalhar no Brasil, especialmente nos locais que os próprios médicos brasileiros não escolheram para atuar. Situação diferente ocorrerá se começarem a surgir casos de imperícia, ou denúncias de ação política, casos em que será preciso agir com presteza, mas que nem assim permitiriam a hostilidade contra todo um grupo.

A Gazeta do Povo já manifestou, neste espaço, suas restrições ao programa Mais Médicos, e especialmente à maneira como os profissionais cubanos estão vindo ao Brasil. Mas quem pretende protestar contra sua vinda precisa direcionar as críticas aos verdadeiros responsáveis: o governo cubano, que impõe a seus médicos um cabresto, impede que as famílias venham com eles, e exige ser o intermediário do pagamento dos profissionais, embolsando boa parte do dinheiro; e o governo brasileiro, que concorda com tudo isso, permite uma relação de trabalho precária e incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro, em que os cubanos são colocados em posição de inferioridade em relação aos demais estrangeiros do programa, financia a ditadura cruel dos irmãos Castro e nega antecipadamente (como disse o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams) o direito de asilo àqueles que porventura o solicitarem. Já os médicos são indivíduos dignos de nosso respeito; por mais boa vontade que tenham, até prova em contrário eles são os elos fracos do imbróglio.

Novo desafio policial - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 29/08

Parecem restar poucas dúvidas de que foi enfim debelada a onda de violência que atingiu o Estado de São Paulo a partir de meados do ano passado.

De agosto de 2012 a março de 2013, foram oito meses consecutivos em que as taxas de homicídio doloso (com intenção de matar) subiram em relação ao mesmo período do ano anterior.

Em abril, a sequência nefasta foi interrompida, mas não era possível concluir, com base no registro de apenas 30 dias, se a população paulista via-se diante de uma simples trégua ou se esse tipo de crime voltava ao seu patamar --em São Paulo, a taxa de assassinatos mantém-se próxima de 11 por 100 mil habitantes, abaixo da média nacional, de 27,1 por 100 mil, segundo estudos recentes.

Os dados positivos repetiram-se em maio, junho e, agora se sabe, também em julho. São quatro meses seguidos de queda na violência, aos quais se somam janeiro, fevereiro e março, quando ainda houve crescimento do número de assassinatos, mas em proporções bem menores que as verificadas no final de 2012.

Tem razão, portanto, o secretário da Segurança, Fernando Grella Vieira, ao afirmar que o segundo semestre do ano passado foi atípico. O enfrentamento prolongado entre policiais militares e criminosos organizados resultou em uma disparada dos índices de assassinatos em todo o Estado.

O próprio Grella chegou ao cargo em novembro, em meio à crise, para tentar reparar os danos e recuperar a confiança na polícia.

O secretário sabe, no entanto, que ele precisará, a partir de agora, enfrentar outro problema de sua área. Se os homicídios estão em queda, os roubos estão em alta.

Em julho, na comparação com o mesmo mês de 2012, houve elevação de 14,5% no índice de roubos no Estado --de 20.052 casos para 22.954. Tanto pior, em junho já havia sido registrado aumento de 9%.

Trata-se de uma contradição, e o governo do Estado precisará não só explicá-la como envidar esforços para que a segurança pública melhore em todas as suas dimensões.

O ensaio de nova tragédia - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 29/08
Ditadores são, por princípio, violadores de toda espécie de direito. Mas o que dizer de chefes de governos e de Estados democráticos que, sob o pretexto de punir tais violações, se postam acima da jurisprudência internacional? A prática, contrária ao concerto das nações e ao cânone diplomático, vem perigosamente sendo incorporada pelas potências mundiais. Sem constrangimento ou acanhamento por precedentes - mais do que malsucedidos - desastrosos, passa-se por cima até mesmo do fechado clube do Conselho de Segurança (CS) da ONU, com poder de veto, restrito a cinco países: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia.
À revelia desse fórum mundial, coalizão liderada por Washington e Londres invadiu o Iraque em 2003. A desculpa era destruir suposto arsenal de armas de destruição em massa, inclusive químicas, jamais encontrado. Derrubado o regime de Saddam Hussein e enforcado o ditador ao custo da vida de mais de uma centena de milhares de civis e da destruição de boa parte da infraestrutura nacional, o país, uma década depois de iniciada a ofensiva, é o signo da instabilidade. Disputas étnicas e religiosas se radicalizaram e atentados terroristas estão integrados ao cotidiano de completa insegurança.

Mesmo assim, novamente se fala numa invasão unilateral, sem o endosso das Nações Unidas e por causa de suposto uso de armas químicas. Desta vez, o alvo é a Síria, que tem como aliados dois dos membros permanentes do CS: a China e a Rússia. Mais uma vez, a orquestração do ataque parte dos Estados Unidos e do Reino Unido. Com a diferença de que já não são George W. Bush e Tony Blair os ocupantes da Casa Branca e de Downing Street, mas Barack Obama e David Cameron. Grave sinal de que a política internacional imperalista não é questão de governo, mas de Estado. Muda-se o presidente e o primeiro-ministro, mantém-se o modus operandi.

É razoável supor que agora haja de fato um tirano sanguinário fazendo uso de armas químicas contra populações civis. Mas o massacre da semana passada na periferia de Damasco segue sob investigação e ainda não foi possível determinar se teve a condução de forças leais ao presidente sírio, Bashar Al-Assad, ou de rebeldes que lutam para tirá-lo do poder. De todo modo, as consequências de uma intervenção externa são previsíveis. Primeiro, a ONU estaria mais uma vez desmoralizada. Segundo, a morte de inocentes é mais do que uma probabilidade, uma certeza diante da hipótese de ataque. Terceiro, o recrudescimento da ira de grupos terroristas, com a disseminação de atentados mundo afora, é evidência irrefutável.

A falta de bom senso no encaminhamento da solução bélica é tamanha que, na lista de pelo menos 50 alvos em poder do comando militar americano, segundo admitiu fonte do Pentágono ao New York Times, não constam depósitos de arsenal tóxico. Ora, não seriam as armas químicas a razão do ataque? E, por óbvio, não seriam elas detonadas com disparos de foguetes, causando o desastre humanitário e ambiental que justamente se diz querer evitar? Os riscos da estupidez de uma ação armada crescem na exata medida em que ela vai se tornando iminente. O uso da força não deve ser descartado a priori. Mas a montagem do teatro da guerra não pode ir além de ensaio destinado a dissuadir a Síria a aceitar a saída diplomática.

Economia mundial é atingida em ataque a Síria - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 29/08

Energia mais cara e turbulência cambial afetaria emergentes, que já recebem menos investimentos por conta da futura mudança na política monetária dos EUA



A perspectiva de um iminente ataque militar à Síria já fez vítimas no mercado mundial. O preço do petróleo, que já vinha em alta de 15% nos últimos três meses por conta da situação em Egito e Síria, saiu de US$ 107 o barril para US$ 112 ontem. Uma ação militar no Oriente Médio poderia ter impacto diferente nas diversas regiões. A economia dos EUA, que se recupera lentamente, poderia ganhar algum impulso pelas encomendas à indústria de armamentos, mas nada que compense algum impacto negativo de fora. Já a Europa, que engatinha para sair do fundo poço em que se meteu, poderá sofrer com o aumento do custo da energia.

Não são boas as perspectivas para os países emergentes, entre eles o Brasil, que já sentiam os efeitos da desaceleração da China — o importador universal — e da mudança do fluxo financeiro planetário. Durante a crise mundial, os emergentes receberam muito capital em fuga dos baixos rendimentos em EUA e Europa, por conta da política de afrouxamento monetário adotada. Com o anúncio, pelo Fed (BC americano), de que esse recurso para deprimir juros e facilitar a recuperação econômica tende a ser descontinuado a partir de setembro, muitos investidores começaram a “repatriar” seus recursos, em busca do aumento de ganhos nos mercados mais tradicionais. Outros buscam refúgios clássicos, como o ouro.

As ameaças aos emergentes com o provável ataque à Síria começa pelo aumento do custo da energia e passa pela turbulência nos mercados cambiais — as moedas se desvalorizam frente ao dólar, barateando as exportações, mas encarecendo as importações, que tendem a cair e também gerar inflação.

O Brasil é exemplo de emergente em apuros. Se não é tão atingido na área energética diante do aumento da produção nacional (a não ser o caixa da Petrobras, que compra combustível no mercado externo mais caro do que vende no país), sofre com o elevado custo Brasil (excesso de burocracia, legislação confusa e Estado paquidérmico, consumidor de recursos que deveriam ser aplicados em infraestrutura, Saúde, Educação) num momento de volatilidade dos fluxos de capitais.

Ação militar na Síria, para punir uma ditadura que mata com armas químicas, enviaria ondas de choque a uma região conturbada, com muito petróleo e interesses conflitantes dos diversos atores e alianças que se entrecruzam. Zbigniew Brzezinski, assessor de segurança nacional do presidente Jimmy Carter, aconselha, em artigo no “Financial Times”, que é esta a hora de mobilizar a opinião pública mundial contra a guerra sectária na Síria; e de medidas abrangentes para evitar uma explosão no Oriente Médio.

Se a comunidade internacional concluir que não existe solução fora do ataque punitivo, pelo menos que ele seja o mais breve possível.

GOSTOSA - MENGÃO 1 x 0 cruzeiro


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“O governo brasileiro não aprova essa atitude”
Ministro Gilberto Carvalho sobre o diplomata que salvou a vida do senador boliviano


CONSELHO PERSEGUE RELATOR DA MP ‘MAIS MÉDICOS’

A ousadia de aceitar a relatoria da medida provisória 621, que institui o programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde, rendeu ao deputado Rogério Carvalho (PT-SE) uma perseguição inesperada: o Conselho Regional de Medicina paulista (Cremesp), onde trabalha como médico fiscal, “interrompeu” sua licença sem vencimentos, que solicitara para exercer o mandato, e por telegrama o intimou a reassumir em 30 dias.

INTIMIDAÇÃO

Rogério Carvalho, que teve a solidariedade da presidente Dilma, tachou a medida do Cremesp de “arbitrária e vergonhosa”.

PRETEXTO

O Cremesp informou que a suspensão da licença do deputado, prevista na Constituição, tem caráter “administrativo”. Ah, bom.

REJEIÇÃO MENOR

Em encontro ontem com líderes do PT, PSB, PCdoB e PDT, Dilma disse haver diminuído a rejeição ao programa Mais Médicos.

ASAS DA LIBERDADE

De 2006 a 2011, foram 21 os médicos de Cuba que trabalhavam no Brasil e pediram asilo aos EUA, segundo seu Serviço de Imigração.

ARMÍNIO FRAGA JÁ ASSESSORA BERNARDINHO, NO RIO

Economistas de peso no tucanato como Helena Landau, ex-diretora do BNDES, e Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, já atuam na assessoria do treinador de vôlei carioca Barnardinho, provável novidade do PSDB na disputa pelo governo do Rio de Janeiro, em 2014. Fraga e Landau prestam assessoria voluntária. Ele ainda não bateu o martelo, mas o PSDB avalia que sua candidatura nasce forte.

O HOMEM CERTO

Aécio Neves é um entusiasta. Acha Bernardinho “a própria tradução de seriedade, fibra, determinação e honestidade. E é um grande carioca”.

A HORA CERTA

Bernardinho pode ser beneficiado pela vontade de renovação radical da classe política, atestada nas manifestações e pesquisas qualitativas.

BEM FEITO

Antonio Patriota é vítima do próprio veneno: terá de viver em Nova York ganhando menos, após elogiar a redução salarial dos embaixadores.

NOVELA

Com medo de protestos, o Itamaraty ouviu em local secreto em Brasília o depoimento do embaixador Américo Fontenelle, acusado de assédio moral e sexual no consulado-geral do Brasil em Sidney, Austrália.

ACONCHEGO PATRIÓTICO

O clã Patriota está quase completo na ONU em Nova York: além do irmão Guilherme, seu número 2, e da cunhada conselheira Erika, o ex-chanceler Antonio Patriota terá a companhia da mulher, Tania Cooper, que já trabalha na ONU. Falta o filho, aspone no governo Dilma.

A ARTE DA PALAVRA

Os petistas acusam “preconceito” nas manifestações contra os médicos de Cuba. Contra a blogueira dissidente Yoani Sánchez, que quase apanhou no Brasil, talvez tenha sido preconceito contra a democracia.

PEQUENEZ

A atitude foi à (pequena) altura do ex-chanceler Antonio Patriota, que só depois de confirmado na Missão do Brasil na ONU, assumiu ontem a vergonhosa barafunda diplomática que envolveu o Brasil na Bolívia.

SOB INTERVENÇÃO

Diplomatas consideram uma intervenção brutal no Itamaraty a inclusão “forasteira” da Controladoria Geral da União na comissão para investigar a atitude do diplomata Eduardo Sabóia. Por isso, os primeiros dois diplomatas não aceitaram integrar esse tribunal de inquisição.

DONADON DE AMANHÃ

Petistas ligados aos mensaleiros José Genoino e João Paulo Cunha pediram votos contra a cassação do deputado Natan Donadon, deputado ladrão transitado em julgado. Alegam ser “injustiça”.

ESVAZIADO

Realizada às pressas, a cerimônia de posse ontem do chanceler Luiz Alberto Figueiredo – que substituiu o submisso Antonio Patriota – foi esvaziada de políticos e de representantes de missões diplomáticas.

MÁSCARA CAIU

Ex-assessor da Casa Civil acusado de estupro de menores, Eduardo André Gaievski recebeu no Facebook: “Talvez tu nem lembre de mim, mas era vc que eu encontrava nos debates de “Direitos e deveres das crianças e dos adolescentes”... “É assim que defende as criancinhas?”.

PERGUNTA NO ESCURO

Tinha engenheiro cubano testando o forno de micro-ondas quando a luz apagou ontem no Nordeste?


PODER SEM PUDOR

ÁGUA QUE PASSARINHO BEBE

Damião Feliciano (PB) era candidato a deputado federal, em 1998, quando visitou o município de Curimataú. O chefe político local, ofereceu-lhe um copo de sua "fonte de água mineral", de que muito orgulhava. Médico, Damião desconfiou que a água estava contaminada e acabaria doente, mas não a recusou. Fez mais: pediu outro copo para o pobre assessor, Jota Sales, que, sob o sol de 40 graus, aceitou a "generosa" oferta do chefe. Mas ninguém adoeceu, Damião foi eleito e o coitado do assessor manteve o emprego.

QUINTA NOS JORNAIS

Globo: Não deu para gargalhar – Fogo causa 9º apagão de Dilma
Folha: Câmara livra de cassação deputado condenado e preso
Estadão: Toffoli relata ações de banco no qual obteve empréstimo
Correio: Sua excelência, o presidiário
Valor: Fazenda quer frear crédito da Caixa a grande empresa
Estado de Minas: Federais antecipam cotas
- Jornal do Commercio: Nordeste apaga outra vez
- Zero Hora: Câmara não cassa o deputado presidiário
- Brasil Econômico: Queimada deixa Nordeste sem luz

quarta-feira, agosto 28, 2013

Todos os motivos do mundo - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 28/08

Da série “Morro e não vejo tudo”: 165 mil pessoas de mais de 120 países se inscreveram para participar do programa de assentamento em Marte, projeto elaborado pela organização holandesa Mars One. Os brasileiros estão em terceiro lugar em número de inscritos: 8.686 – perdem apenas para americanos e chineses. No próximo sábado, encerram-se as inscrições.

A empresa pretende desembarcar quatro voluntários em 2023, e depois novos cosmonautas a cada dois anos, a um custo de US$ 6 bilhões, parte financiada por um reality show sobre os primeiros anos de existência da colônia. Idade mínima: 18. Taxa de inscrição: de US$ 5 a US$ 75, dependendo da nacionalidade do cidadão, que deve enviar também um vídeo de um minuto falando sobre os motivos de querer viver em Marte para sempre.

Um minuto de motivos? Cronometre aí.

“Desatentos” que continuam jogando lixo na rua – multa para todos, não só para os cariocas. O custo de vida. Fraudes em licitações. Corrupção em todos os setores da sociedade. A demora em concluir obras. A péssima qualidade dos serviços públicos. Gente levando tiro dentro de hospital. Crianças sendo violentadas por parentes. Policiais envolvidos em crimes. Irresponsáveis dirigindo a 150 km/h. Fanáticos religiosos. Impostos que são verdadeiros assaltos.

Burocracia que impede a agilidade de novos negócios. Calçadas em péssimas condições. Estradas que ficam intransitáveis aos primeiros cinco minutos de chuva. Irregularidades em contratos. Violência urbana sem controle. Professores mal pagos. Funcionários mal treinados. Ruas sem placas de identificação. Tornozeleiras eletrônicas que não funcionam. Enchentes a cada temporal. O quê? Já passou um minuto?

Nem deu tempo de falar do que acontece fora do Brasil, como utilização de armas químicas na Síria, os índices de mortalidade na África, o fundamentalismo islâmico, a recessão europeia etc. etc.

E tem ainda as crises pessoais. O que não falta por aí são pessoas desmotivadas, devendo dinheiro, administrando fracassos, sem perspectiva de crescimento, amargando dores de cotovelo, entediados com a vida, aborrecidos crônicos, sem fé no futuro. A oportunidade de em 10 anos partirem em uma expedição inédita e eternizarem seu nome através de um projeto sem precedentes na história da humanidade daria a eles um sentido pra vida. Colonizar Marte – e com cobertura da imprensa!

A viagem durará alguns meses. A espaçonave é estreita. De alimentação, apenas produtos liofilizados e enlatados. Banho, só com toalha úmida. Desistir no meio do caminho está fora de cogitação. Pedir para descer, nem pensar. E a passagem é só de ida.

Ainda assim, 165 mil pessoas se inscreveram, o que me faz chegar a duas conclusões: que a vida na Terra, definitivamente, não está para brincadeira. E que Marte deve ter wifi grátis.

Um mundo transparente - ROBERTO DaMATTA

O Estado de S.Paulo - 28/08

Li uma vez uma lenda na qual se contava o seguinte:

Um gênio descobriu o poder da comunicação pelo pensamento. No início, foi uma delícia poder falar sem sons - sem gemidos, lágrimas, sussurros e sorrisos. Como no cinema mudo, as pessoas exultavam com o fato de comunicar-se pelo cérebro. Bastava pensar numa pessoa e, pronto! - fazia-se o contato. Mas logo os homens, com sua habitual incongruência e, como disse Machado de Assis, sua sistemática ingratidão, ficaram infelizes. Pois descobriram o vazio do silêncio (que só existe quando há barulho) e viram como ele era não apenas grato, mas essencial. Se não era fácil viver num mundo ruidoso, no qual os sentimentos e as palavras de ordem superavam a compreensão, não era fácil viver num universo no qual a comunicação era radical, completa e transparente. Pois, com o pensamento, nada ficava oculto, nada permanecia escondido e os mal-entendidos que inventam os ódios e os amores; a fé que produz os milagres e os poemas; os primitivos "acho que você não me entendeu..."; os selvagens "mas essa não era minha intenção..."; os rústicos "eu sempre quis te dizer isso, mas teu marido estava por perto..."; e os contratos desapareceram.

O pensamento - invisível e inaudível, sinuoso, permanente, incontrolável e invasivo como uma enchente - tornava a compreensão entre os seres humanos um ato absoluto. E, justamente por isso, ele impedia tudo, principalmente os sentimentos. Os primeiros a serem liquidados foram atos fundamentais: o fingir, o disfarçar e o mentir. E, sem poder mentir, houve uma tal sinceridade que a individualidade, com suas escolhas e seus planos essencialmente secretos; as paixões, com suas fúrias, inibições e gozos; e as esperanças, com suas expectativas, desvaneceram-se. E assim muita gente se matou, especialmente no governo, nas igrejas e na universidade. Muitos isolaram-se em casas com paredes de chumbo que, descobriu-se, tornavam fracas as ondas mentais, diminuindo, mas infelizmente não impedindo, a telepatia e a tragicomédia de um entendimento total, completo e absoluto.

Em poucos anos, o drama que é justamente o que jaz eternamente entre o dito e o não dito; o que fica encerrado dentro de cada qual sem ruído ou palavra; ou o que se transforma em silêncio ou suspiro reprimido, tornou-se coisa do passado, e as pessoas ficaram muito amargas e tristes porque não havia mais a distinção entre o manifesto e o oculto, de modo que a comédia e o riso ficaram escassos. E, sem riso e comédia, sumiram igualmente as lágrimas e o choro, pois não havia mais o que se poderia exprimir além dos pensamentos. Ou melhor, sem as palavras e os seus sons, não havia mais a vontade de exprimir sentimentos, os quais dependiam exatamente das palavras, pois, como se sabe, nenhuma sentença verbal ou canto traduz uma amizade, um desejo, um perdão, uma bênção, um ódio ou uma esperança. Sem sons, o ato de dar, de receber e de retribuir palavras, músicas, brindes, beijos e presentes sumiu. As descontinuidades entre os sons foram suprimidas pelas continuidades dos pensamentos, o que fez com que a humanidade fosse atingida por um enorme silêncio, pois ninguém precisava produzir sons para implorar, dar, perdoar, perguntar, discutir, rir, protestar ou jogar conversa fora. Viviam todos num silêncio profundo lançando mensagens telepáticas uns aos outros e, quando souberam que seus ancestrais usavam da fala para a comunicação, ficaram intrigados e com inveja. Foram ouvir o mar e os ventos cujos sons lhes pareceram encantadores.

Como todas as portas humanas, a novidade da telepatia também trouxe seus problemas, pois o pensamento decorria de línguas naturais que eram variadas, mas que, com a evolução da comunicação pelo pensamento, perderam seus lastros, suas concretudes e suas diferenças. Agora ninguém podia dizer aquilo que só poderia ser dito em inglês, alemão, russo, português, tupi ou chinês. A universalização absoluta do telepático produziu uma perda irreparável nos modos de dizer porque o pensamento puro se fazia numa só língua: uma espécie de Esperanto que juntava todos os idiomas vivos e mortos, antigos e modernos, mas que não era língua nenhuma. Dizem que a partir da telepatia, a poesia, a literatura, a música e os mitos acabaram.

E os homens, como sempre, arrependeram-se e pediram de volta as suas línguas antigas que permitiam o milagre das compreensões sempre incompreendidas. Mas era tarde demais....

Bolas no nariz - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 28/08

RIO DE JANEIRO - Se você sempre admirou aquela frase, "Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja" --sim, é o começo de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa--, e se imaginou reescrevendo o livro a partir daí com suas próprias palavras, saiba que isso logo será possível. É só o Brasil adotar a nova plataforma da Amazon, a Kindle Words, pela qual os fãs de um livro terão o direito de imiscuir-se nele e se apoderar de seus personagens, podendo até vender sua "criação", aliás chamada de "fan fiction".

Para que o autor original ou seus herdeiros não fiquem aborrecidos ou se sintam roubados, a Amazon pensou em tudo. Por um valor xis, o autor ou herdeiros terão "licenciado" o livro para quem quiser meter-lhe o bedelho --e esta será uma maneira de ganhar algum dinheiro com literatura, já que, pelo que a Amazon decidiu, os royalties dos escritores deixarão de existir. No novo mundo digital, o direito de apropriar-se, copiar, reproduzir, parodiar e negociar textos alheios estará assegurado.

Segundo os ideólogos dessa pirataria, a receita de um escritor não virá mais dos livros que ele vender, mas do que estes lhe renderão em aparições pessoais, palestras, programas de TV, mesas-redondas na Flip e "produtos associados" --por exemplo, o escritor só dará entrevistas usando um boné do Gatorade ou do Fosfosol, sendo pago por isso. Autores capazes de equilibrar bolas no nariz levarão vantagem sobre os gagos, os com língua presa ou qualquer dificuldade para falar em público e que prefeririam ficar em casa, quietinhos, escrevendo.

Enfim, é o futuro. O mesmo que os compositores de música popular, que não têm saúde ou disposição para fazer shows, já estão vivendo. Se não cantarem para uma plateia ao vivo, não comerão.

Por via das dúvidas, vou começar a treinar as bolas no nariz.

Uma forma de censura - ZUENIR VENTURA

O GLOBO 28/08

Censura de natureza artística é constitucionalmente vedada sob qualquer disfarce. E a exigência de permissão prévia está criando um ‘balcão de negócios de valores vultosos’


Como não sou biógrafo e nem pretendo ser, não é em causa própria que defendo a liberdade de um escritor contar a história de uma personalidade pública — político, artista, jogador de futebol, cientista — sem autorização prévia dele ou de seus familiares quando ele não está mais aqui. É o que se faz nas grandes democracias. Só na nossa é que vigora a “biografia autorizada”, um artifício legal que confere ao biografado ou a seus herdeiros o poder de decidir o que deve ou não chegar ao leitor. Assim, no país que lutou tanto para abolir a censura do Estado, pratica-se nos livros a censura privada, já que, como diz o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ayres Brito, liberdade de expressão é “antes de tudo liberdade de informação”, e a ela tem direito todo cidadão. Alega-se que é para resguardar a intimidade alheia. Tudo bem, mas essa dispensa de consentimento antecipado não concede ao autor imunidade, não o isenta de responsabilidade em casos de informações falsas ou ofensivas à honra. Não se trata de um liberou geral. O que se quer evitar é a proliferação da prática perniciosa de busca e apreensão, ou seja, o recolhimento compulsório de obras literárias para impedir o acesso de terceiros. Essa restrição caracteriza-se como censura, e censura de natureza artística é constitucionalmente vedada sob qualquer disfarce. Outro efeito nocivo é que a exigência de permissão prévia está criando um “balcão de negócios de valores vultosos”, conforme denúncia dos editores de livros, que há anos vêm se movimentando por meio de seu sindicato para derrubar o que consideram ser uma “ditadura da biografia chapa-branca”.

Eles estão lutando em duas frentes: uma no Congresso, onde tramita um projeto propondo a modificação do artigo 20 do Código Civil, que permite a apreensão de biografias não autorizadas. A outra, no STF, no qual ingressaram com uma ação direta de inconstitucionalidade do tal artigo, com o objetivo de acabar com a necessidade de autorização prévia. Afinal, a Constituição de 1988 garante, junto com a liberdade de imprensa e de expressão, o direito à informação. Com pedido de liminar, a ação foi distribuída à ministra Cármen Lúcia, abrindo uma perspectiva de luz no fim do túnel. Por sua sensatez, ela costuma ser chamada de “Carmen lúcida”.

Desde o início, uma história mal contada - LUÍZ AUGUSTO DE CASTRO NEVES

O ESTADÃO - 28/08

A fuga do senador boliviano Roger Pinto da Embaixada do Brasil em La Paz e uma história mal contada. O que poderia ser um incidente localizado custou o cargo do chanceler Antonio Patriota. Eram três os atores com capacidade decisória envolvidos no caso: o governo boliviano, o Itamaraty e o encarregado de negócios da embaixada na Bolívia, Eduardo Saboia.
A reação inicial de La Paz foi de cautela e moderação. Seus ministros ressaltaram a importância do Brasil como principal parceiro da Bolívia, destacando que o ocorrido não deveria afetar as relações bilaterais.
Saboia assegurou que "o governo boliviano deu sinais de que não atrapalharia". A imprensa publicou declarações atribuídas a integrantes do governo de Dilma Rousseff, segundo as quais foram as autoridades de La Paz que sugeriram a retirada de Pinto da embaixada e a viagem por terra ao Brasil.
Questionado se havia tido autorização do Itamaraty, Saboia desconversou, mencionando que não precisava de autorização para tomar decisões emergenciais. O Itamaraty anunciou que estava examinando o assunto e adiantou que "tomará as medidas administrativas e disciplinares cabíveis", uma advertência implícita à ação de seu encarregado de negócios em La Paz. Sentindo-se alvo das tais medidas, Saboia resolveu botar a boca no trombone e revelou os detalhes da operação, que contou com a participação de fuzileiros navais brasileiros.
Ao chegar a Corumbá, já estavam à espera do senador o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço, policiais federais, médicos e um jato executivo para levar o boliviano a Brasília. Custa crer que tamanho aparato logístico foi fruto de uma decisão solitária do chefe interino da embaixada.
Diz-se que Dilma só foi informada dos fatos quando o senador já estava no Brasil. Irritada, ela aceitou o pedido de demissão do chanceler que será designado para representar o Brasil na ONU, em Nova York, um dos postos mais cobiçados do Itamaraty. Se confirmado. Patriota trocará de lugar com o chanceler já anunciado, Luiz Alberto Figueiredo.
Resta saber o que acontecerá com Saboia, que ficou com a batata quente nas mãos. O Itamaraty não parece ter sido feliz nas bizarras operações em que se meteu (ou foi metido) nos últimos anos, como a invasão da embaixada em Tegucigalpa pelo presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e o confuso episódio que levou à suspensão do Paraguai do Mercosul e permitiu o ingresso da Venezuela no bloco.

O eterno masculino - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 28/08

Quadrinhos clássicos do Fantasma, personagem criado em 1936, voltam às bancas de jornal


É sempre estranho que os heróis de histórias em quadrinhos tenham de usar algum tipo de uniforme. Qual a razão daquelas roupas inteiriças, daquelas capas bandeirosas e sungões tamanho GG?

Corrijo o pensamento, ao imaginar a alternativa absurda. Ninguém de paletó, gravata e chapéu poderia sobrevoar os céus de Metrópolis sem ridículo. Um Super-Homem de azul esvoaçante pode ser absurdo, mas seria ainda mais absurdo em roupagens civis.

Joaquim Barbosa talvez fosse menos implacável se o despojassem da toga de morcego. Verdade que outros ministros do STF, capazes de mostrar larga indulgência frente aos réus do mensalão, usam também a capa protocolar.

Só que, sentados, deixam que predomine o paletó comum, a camisa neutra, a gravata banalíssima. Os males da coluna forçam Barbosa a manter-se de pé. Pior que isso. Apoiado no espaldar da poltrona giratória, o presidente do STF parece uma águia no alto do penhasco, pronto para a arremetida fatal.

Não me estendo na comparação. Concluo que a roupa ajuda e volto ao tema dos uniformes dos super-heróis.

Nenhum mais absurdo, pensando bem, que o do meu preferido na infância. Tratava-se do Fantasma, "o espírito que anda". Em plena selva do interior da Índia, ou talvez na África Equatorial, ele não tirava nunca a malha roxa, que lhe cobria a cabeça inclusive.

Por cima, o maiô de listras pretas em diagonal, do qual pendia o prosaico acessório de uma pistola automática, no coldre antigo. O mais estranho era a máscara, sumária como a parte de cima de um biquíni, mas que por alguma razão velava seus olhos atrás de uma borracha branca.

Naquela indumentária grudenta, meio de mergulhador, meio de Fanta Uva, o Fantasma sentava-se sozinho no Trono da Caveira, afagando seu lobo Capeto, e dava audiência a seus súditos --uma tribo de pigmeus, dotada de rei próprio, a quem distinguia um chapéu cônico de galhos secos, à guisa de coroa.

Com tudo isso, o Fantasma me parecia mais interessante do que Mandrake, Tarzã, Super-Homem e mesmo o Batman. Seria, provavelmente, mais "sexy" que todos esses rivais.

Tinha, também, aparência mais maligna. Cercava-se de caveiras; longe do ambiente urbano, na escuridão da jângal, cultivava a própria lenda.

Ao mesmo tempo, não tinha nenhum poder sobrenatural. Apenas a credulidade dos nativos --sempre ela-- cuidava de aumentar suas façanhas. Era tido por imortal. Mas não; representava apenas o último descendente de uma dinastia que há 400 anos, com o mesmo uniforme, jurara combater os malfeitores daquelas bandas.

Teria voado até as nuvens para derrotar um gigante de dez andares. Não, não. A própria narrativa dos quadrinhos ironizava a licença poética dos selvagens. No máximo, esmurrara um gângster grandalhão.

Claro que, destituído de superpoderes, o Fantasma se tornava ainda mais formidável aos olhos de um menino. Representava o luxo de uma completa autonomia; era realista em seu delírio; não tinha nada com que contar, exceto a imaginação dos pigmeus que o seguissem.

Sai nas bancas, pela editora Pixel, um livro com as primeiras histórias do Fantasma. Com história de Lee Falk e desenhos de Ray Moore, a saga dos "Piratas do Céu" foi publicada pela primeira vez em fins de 1936.

Embora a publicação da Pixel se apresente como o primeiro volume de uma série, já pegamos a aventura pela metade. Nessas 126 páginas, em quadrinhos bem pequenos, o herói está às voltas com uma quadrilha composta exclusivamente de belíssimas aviadoras.

Eu tinha a impressão --mas pode ser devido a versões posteriores-- que os desenhos do Fantasma fossem menos primitivos. Os movimentos do herói são rígidos, os enquadramentos se prendem ao convencional, as expressões faciais caem no tosco e no amadorístico.

Eram só isso aqueles quadrinhos? Não. A aventura tem boas reviravoltas, e todas devido a um só fator: a inconstância do sexo feminino. Várias vilãs --sempre lindas-- se apaixonam sucessivamente pelo herói. Ele as manipula como quer, mesmo que na maior parte do tempo algemado e atrás das grades.

As aviadoras se dividem, brigam, reconciliam-se, traem-se umas às outras. Não apenas um colonizador levando paz às tribos primitivas, o Fantasma também triunfa, intacto, sobre tantas sedutoras. É o eterno masculino. Talvez por isso mesmo não dispense o collant roxo e o maiô listradinho.

Metáfora do voo cego - TUTTY VASQUES

ESTADÃO - 28/08

A situação de Antonio Patriota em seus últimos movimentos à frente do Ministério das Relações Exteriores lembrava um pouco a do instrutor de parapente que nesse meio tempo virou hit na internet perdido nas nuvens em voo duplo no Rio. A presidente Dilma demitiu o chanceler, salvo engano, quando ele sugeriu que rezassem juntos a "Ave-maria"!
Num país em que a metáfora do voo cego é cada vez mais frequente nas entrelinhas do noticiário, o descontrole de quem estava no comando daquele parapente traduz em desespero no YouTube o que o ministro Guido Mantega jamais deixará transparecer em entrevistas: "Ai, meu Deus, não sei onde estou! Deixa eu ver alguma coisa, meu Pai, mostra o caminho pra mim!".
Impávido até quando o piloto, do nada, perguntou se ele sabia nadar, o turista de carona no pânico que sobrevoava São Conrado deu o exemplo de como a gente deve se comportar nessas circunstâncias: não deu um pio quando tudo parecia irremediavelmente perdido!
Falar o que, né não? Reze!

Desequilíbrio ambiental
Já tem cisne negro do Ibirapuera chamando urubu de meu louro depois que funcionários do parque passaram a alimentar as aves ornamentais do lago com ração de camundongo.

Pela estrada afora
Dá gosto ver a empolgação dos médicos estrangeiros que chegam ao Brasil para trabalhar nas regiões mais carentes do País. Parece até que não sabem o que os espera!

Nanico
Depois do advento do "PIBinho", Guido Mantega inventou agora a "minicrise". É o Brasil na era da nano economia!

Só o que faltava!
Entreouvido nos corredores do Ministério das Relações Exteriores: "Não falei que um dia agente ia sentir saudades do Celso Amorim?".

Elas por elas
O Itamaraty está virando uma caixinha de surpresas! Corre por lá agora a ideia de sugerir à diplomacia boliviana que leve Renan Calheiros para La Paz do mesmo jeito que o senador Roger Pinto, opositor de Evo Morales, foi parar em Brasília. Ainda que não esteja muito claro o que o estado bolivariano ganharia com isso, não custa nada tentar!

Perda maior
E a fuga espetacular do botafoguense Vitinho, maior revelação do Brasileirão 2013, para o futebol russo, hein?
Por muito menos caiu o chanceler Antonio Patriota!

GOSTOSA


Ueba! Pinto derruba Patriota! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 28/08

Acho que essa rede da Marina é do Paraguai. Rede paraguaia. Ela vai vender rede na 25 de Março


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Por que tudo no Brasil tudo tem que ser engraçado? Por que o senador boliviano tinha que se chamar Pinto? Pinto Molina. Ops, Pinto Molinha!

"Fuga de senador boliviano derruba ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota." Ou seja, um pinto derrubou um patriota.

Esse pinto fez um estrago! E aí perguntaram pro Pinto: "Como foi a fuga?" Resposta: "Mole! Mole!". Rarará.

E um leitor quer saber se o Pinto fugindo da Bolívia passou por Cochabamba! Pinto passa por Cochabamba e Cuiabá!

E agora, com todo respeito: o que a Dilma vai fazer com esse Pinto? Ela vai gritar: "Maaaaantega, bota esse Pinto pra lá". Devolve o Pinto pro Evo! Rarará!

Então, estamos assim: 400 médicos cubanos e um pinto boliviano!

E a Marina? Com aquele partido não partido, a Rede? Marinárvore declara: "A Rede é o anseio da sociedade". Errado.

A rede é o meu anseio quando entro em férias. A rede é o anseio de todo estressado. A rede é o ESTEIO da sociedade. E é mesmo!

E as assinaturas do partido fraudadas? Acho que essa rede da Marina é do Paraguai. Rede paraguaia. Ela vai vender rede na 25 de Março. "Rede do Paraguai! Rede do Paraguai!"

E a manchete do Piauí Herald: "Partido da Marina importará 3.000 correligionários cubanos". Trinta iguanas, 12 rãs, sete morcegos, centenas de pássaros-mosca e comunistas em extinção!

A Marina tem que chamar os gremlins pro partido dela. Só assim ela alcança as assinaturas necessárias.

Ela pega um gremlin, joga um copo d'água, ele se multiplica e formam um partido. O Partido dos Gremlins! Rarará.

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! É que o prefeito interino de Marituba, no Pará, se chama Francisco BESTEIRO.

E um vereador de Meridiano, interior de São Paulo: Claudio Tranqueira! Rarará.

Podiam formar uma nova dupla sertaneja: Besteiro e Tranqueira. Rarará!

Informação de última hora: o Pinto é pastor!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Hoje é dia de bons jogos - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 28/08

Fora Marcelo Oliveira e Oswaldo de Oliveira, sempre elogiados, a cada semana, outro técnico é festejado


Nesta semana, os técnicos mais badalados do Brasileirão são Renato Gaúcho, do Grêmio, e Vágner Mancini, do Atlético-PR. Em outros períodos, foram Cristóvão Borges, Caio Júnior, Marquinhos Santos, Dunga e outros. Os preferidos costumam mudar a cada rodada. Bastam duas ou três derrotas seguidas para o que era "ótimo trabalho" ser esquecido. Como Cruzeiro e Botafogo se mantêm na frente desde o início, Marcelo e Oswaldo são sempre elogiados. Nestes dias, Marcelo mais que Oswaldo.

Cruzeiro e Botafogo têm jogado um futebol eficiente, com muita troca de passes e triangulações. Outra qualidade das duas equipes é não depender de um único artilheiro. O Cruzeiro, mesmo sem ter um craque, possui um elenco maior e melhor que o do Botafogo, ainda mais sem Vitinho.

Fluminense, São Paulo e Inter não seguem o modelo atual, jogado pela maioria dos times brasileiros e de todo o mundo, com meias e atacantes pelos lados, que atacam, marcam e fazem duplas com os laterais, na defesa e no ataque. Preferem um modelo de dez a 15 atrás, período em que o futebol brasileiro ficou para trás.

São Paulo x Fluminense foi um bom exemplo de um mau jogo coletivo, com o ataque embolado pelo centro, dependendo demais dos avanços dos laterais. Nas últimas quatro vitórias seguidas do Grêmio, não vi, coletivamente, nada convincente. Obviamente, há várias maneiras de vencer. Mais importante que o sistema tático é a qualidade dos jogadores e a competência na execução do que foi planejado.

Hoje e amanhã, teremos jogos decisivos pela Copa do Brasil. O Flamengo, ao contrário do que se esperava, regrediu nos últimos jogos. O Cruzeiro é muito melhor, mas, com o Maracanã lotado, o Flamengo pode fazer uma partida heroica, como é frequente em times e seleções que jogam em casa. O mesmo pode ocorrer no Independência. O Atlético- -MG, além de ter um bom time, quer reviver as viradas da Libertadores, com o estilo Galo Doido, de muita pressão e de jogadas aéreas.

Outro clássico, na sexta-feira, será entre Chelsea, dirigido por Mourinho, e Bayern, sob o comando de Guardiola, o melhor time do mundo, pelo que jogou na última temporada. A única mudança é que, com Guardiola, o time joga com um volante e dois meias, em vez de dois volantes e um meia. Já o estilo continua o mesmo, com mais troca de passes em velocidade e jogadas aéreas da linha de fundo. O que define o estilo de uma equipe não é somente o técnico. São, principalmente, os jogadores.

Encerro com minhas homenagens a Deco, um craque, que encerrou a carreira, e a De Sordi e Gylmar, campeões do mundo, que morreram no fim de semana. Na Copa-66, eu começava, e Gylmar terminava a carreira da seleção. Foi o maior goleiro da história do futebol brasileiro.

Não é da Cora - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 28/08

O poema "Saber viver': que diz "Não sei... se a vida é curta/Ou longa demais pra nós'; é tão difundido na internet como sendo de Cora Coralina (1889-1985) que Manoel Carlos, o querido dramaturgo e fã da poeta, por um momento acreditou.
Pretendia usar um trecho na abertura de sua próxima novela, "Em familia':

Segue...
Mas a filha de Cora, Vicência Bretas Tahan, garante que o poema não foi escrito por sua mãe.
— Estou há tempos querendo falar com o Manoel Carlos. Esse poema é muito bonito, mas não foi minha mãe que fez. Na internet, as pessoas escrevem o que querem e não dizem quem são.

Aliás...
Maneco já estava ciente do problema.
Vai selecionar outro poema.

O discurso do chanceler
A exemplo do rei George VI, da Inglaterra, o novo chanceler Luiz Alberto Figueiredo, figura querida no Itamaraty, teve problema de gagueira

Varig, Varig, Varig
Este interminável julgamento do mensalão faz com que outros importantes processos fiquem na fila do STF.
Um deles é o dos aposentados da Varig, parado desde que o ministro Joaquim Barbosa pediu vistas.

Cabe numa Kombi
Corre no território livre da internet uma piada envolvendo o Botafogo e o Mais Médicos. É por conta da venda do atacante Vitinho
Diz que, com o dinheiro da negociação, o clube vai poder importar milhares de... torcedores cubanos. Maldade!

Retrovisor no cinema
Mauro Mendonça Filho, diretor-geral de 'Amor à vida'; vai dirigir seu primeiro longa-metragem no ano que vem.
É uma adaptação de "No retrovisor'; peça escrita por Marcelo Rubens Paiva. No elenco, Marcelo Serrado e Otávio Muller.

Vinicius na China
O filme "Vinicius',' de Miguel Faria, vai ser exibido na China, com legendas em mandarim.
É mais uma homenagem ao Poetinha no ano do seu centenário.

Clube do milhão
A comédia cearense "Cine Holliúdy", a grande surpresa do nosso cinema, pode alcançar, quando chegar ao "sul maravilha'; um milhão de espectadores, segundo seus distribuidores Downtown/Paris.
Há três semanas em cartaz em Fortaleza, onde fez 133 mil espectadores, vai estrear, sexta agora, em outras cidades do Nordeste.

É o tal filme falado em "nordestinês" e que traz legenda em... português.

O Maraca é nosso
O Flamengo pediu uma audiência com Sérgio Cabral. Deseja apresentar um modelo de operação do Maracanã compartilhada entre os clubes.
Nela, o governo receberia dos clubes as taxas de utilização do estádio e contrataria um prestador de serviço para cuidar da manutenção do Maraca.

E mais... 
Os clubes seriam responsáveis pelos jogos e por entregar o Maracanã nas mesmas condições que receberam antes da partida.

Digno de piedade
O desembargador Siro Darlan encaminhou ao MP denúncia sobre a situação de 72 presos do manicômio judiciário Heitor Carrilho, no Rio.
— Tem gente há mais de 40 anos lá dentro. Todos já cumpriram a pena, mas continuam presos porque não há para quem devolvê-los — diz Darlan.

Lei Paulo Delgado...
Em 2011, o CNJ aprovou recomendação para que os presos com transtornos mentais, que já cumpriram suas penas, fossem soltos com base na chamada Lei Antimanicomial. Só que estes pobres coitados perderam o vinculo com a família.

Ameaça de morte
A promotora de Tutela Coletiva de Niterói, Renata Scarpa, foi ameaçada por causa das investigações do caso Lúcio do Nevada, vereador eleito da cidade, assassinado em 2012. Ela pediu escolta ao MP.
Agora, o inquérito cível, aberto contra o vereador Carlos Macedo, suspeito do crime, passou para outros promotores.

Só dá Saboia
O diplomata Eduardo Saboia, que ajudou o senador boliviano a fugir para o Brasil, virou celebridade. Receberá a Medalha Pedro Ernesto do vereador César Maia. Acaba na Ilha de Caras.


Alckmin quer o PMDB - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 28/08

Candidato à reeleição, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) costura um amplo apoio partidário. Sua prioridade nessa fase é atrair o PMDB. Alckmin já se reuniu com prefeitos e deputados estaduais do partido e recebeu a sinalização que eles não apoiam Paulo Skaf para o governo estadual. O tucano tem a vaga do vice, ocupada por Afif Domingos (PSD) e a candidatura ao Senado para negociar.

Roger, Battisti e o refúgio
O destino do senador Roger Pinto será decidido pelo Comitê Nacional para os Refugiados. Roger, a exemplo de Cesare Battisti, recorreu ao pedido de refúgio, que tem regras mais elásticas que as do asilo para sua concessão. O caso do adversário do presidente Evo Morales só chegará à mesa da presidente Dilma se o Conare negar o refúgio. Foi o que ocorreu no caso Battisti, gerando recurso ao então ministro Tarso Genro (Justiça), que o concedeu para posterior ratificação ou não do presidente da República. O então presidente Lula permitiu que Battisti ficasse no país mesmo após o STF julgar que ele não se enquadrava, nos acordos com a Itália, na condição de refugiado.


"Fizemos uma prévia em Pernambuco. Ela implodiu o partido. Não entrem nessa. Ficam feridas e cicatrizes"
Fernando Ferro (PT-PE), em conversa com o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro

Experiência em desastres naturais
O Brasil assinou acordo com o Japão e vai implantar projetos-piloto para prevenção de desastres naturais. Petrópolis (RJ), Nova Friburgo (RJ) e Blumenau (SC) recebem, no mês que vem, uma equipe de peritos japoneses.

Sempre alerta
A ministra Ideli Salvatti consultou o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB), minutos antes de a presidente Dilma sair do Planalto para sessão solene na Casa. Sondou sobre o humor dos senadores e se seria questionada sobre a fuga do senador boliviano e a queda de Antônio Patriota. Braga avisou que o céu era de brigadeiro.

Língua solta
Os políticos gostam dos arroubos verbais do presidente do STF, Joaquim Barbosa. Dizem que ele não iria longe como candidato ao Planalto. Eles comparam seu "destempero" ao de Ciro Gomes, candidato do PPS em 1998 e 2002.

As coisas como elas são
No governo Lula, o problema era o Senado. No governo Dilma, o enrosco é na Câmara. Na equipe da presidente, existe uma avaliação de que o drama está no PMDB, cuja relação degringolou com a eleição do deputado Eduardo Cunha (RJ) para líder da bancada. Esse fato teria contribuído para reduzir o controle sobre a bancada do vice Michel Temer e do presidente da Casa, Henrique Alves.

Dança das cadeiras
Desafetos, os deputados Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) e Augusto Carvalho (PPS-DF) fizeram as pazes. Durante jantar, Carvalho avisou que está de malas prontas para o Solidariedade.

Expectativa
Depois de Marina Silva, ontem o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) foi ao TSE conversar com o relator da criação do Solidariedade, ministro Henrique Neves da Silva. Ele aguarda a liberação do registro oficial de seu partido.

O PT gaúcho diz em nota que é contra as emendas parlamentares. Adversários, de fora e de dentro, esperam que esses petistas abram mão das suas.

Dois à mesa - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 28/08

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), receberá o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) para jantar em sua casa amanhã, no Recife. Na conversa, os dois potenciais presidenciáveis devem discutir o cenário de 2014. O último encontro ocorreu na casa do tucano, há cerca de um mês. Embora não vislumbrem acordo no primeiro turno, não descartam composição caso um deles avance na disputa, e discutem palanques comuns em Estados como São Paulo e Paraná.

Respiro Pesquisas que chegaram ao PT e ao Palácio do Planalto mostraram que a avaliação de Dilma Rousseff atingiu 41% de ótimo e bom.

Redinha À espera do registro da Rede, Marina Silva respondeu na segunda-feira a perguntas sobre sua vida na gravação do quadro "Crianças Curiosas'' do "Programa Raul Gil", do SBT. A participação da ex-senadora vai ao ar no dia 14 de setembro.

Wally A assessoria do Planalto só decidiu na última hora convidar o ministro Antônio Andrade (Agricultura) para acompanhar Dilma na visita a Belo Horizonte. O peemedebista estava em São Paulo e teve de se desdobrar para embarcar a tempo.

Resta um O senador Álvaro Dias, que já nutriu esperança de se candidatar à Presidência pelo PSDB, diz que agora é tarde para essa empreitada. "O partido já assumiu sua candidatura. É preciso aceitar o fato consumado."

Santo... Paulo Maluf rasgou elogios a Dilma na festa de aniversário de um dirigente do PP organizada dentro da CDHU, companhia de desenvolvimento habitacional do governo Geraldo Alckmin (PSDB), na última sexta-feira. Tucanos não gostaram.

... de casa "Estão chateados com o quê? Com a minha sinceridade?", rebate Maluf. Ele diz que o PP não assumiu "nenhum compromisso" para 2014 em São Paulo.

Sob nova... Dilma dará carta branca ao novo chanceler Luiz Figueiredo para mexer na estrutura do Itamaraty, principalmente em Brasília. Para turbinar a gestão, a presidente pode transferir a agência de cooperação para a África, que seria no Planalto, para o ministério.

... direção Segundo assessores palacianos, o teste do novo ministro será durante visita da presidente a Washington, em outubro.

Veja bem Ministros tentaram até as 18h de anteontem convencer a presidente a não demitir Antonio Patriota, alegando que a decisão ampliaria a repercussão da fuga do senador boliviano Roger Molina para o Brasil.

Redução... O ministro Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral) comunicou ontem ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que a União vai apoiar a ação direta de inconstitucionalidade contra a criação de quatro Tribunais Regionais Federais.

... de danos O recado de Adams foi para não melindrar o Congresso, que promulgou a emenda constitucional que criou os TRFs.

BBB Paulo Bernardo reforçou à Anatel que aplique as regras do código de conduta do Executivo para seus conselheiros e diretores. A medida tem o objetivo de evitar que conselheiros da agência se encontrem com representantes de empresas a sós.

Indeferido O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro tentou novamente no STF desbloquear os bens de Duda Mendonça, absolvido no mensalão. O gabinete de Joaquim Barbosa respondeu que isso só será decidido após os embargos.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Serra está bombardeando uma candidatura de seu próprio partido. Ele sabe que não será candidato, mas atrapalha o projeto do PSDB."
DE XICO GRAZIANO, assessor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre a demanda de José Serra por prévias contra Aécio Neves no PSDB.

contraponto


O dobro ou nada
No início do almoço de Guido Mantega (Fazenda) com cerca de 400 empresários, anteontem em São Paulo, João Doria Jr., do Lide, anunciou que seria feita uma pesquisa expressa sobre expectativas para a economia.

Quanto Mantega terminou sua exposição, comentou:

--Você passou a pesquisa antes de eu falar. Agora que eu expliquei poderia melhorar um ponto e meio...

--Podemos fazer uma pesquisa pré e uma pós, se o senhor topar o risco... --replicou Doria.

O ministro preferiu deixar como estava.

LEGIÃO URBANA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 28/08

Novo round na disputa de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, que integraram a Legião Urbana com Renato Russo (1960-1996), e o herdeiro do líder da banda, Giuliano Manfredini: a Justiça negou há alguns dias a segunda tentativa dos dois de usar a marca com o nome do grupo. O mérito da questão ainda será analisado pelo Tribunal de Justiça do Rio.

PRETÉRITO PERFEITO
E o dinheiro arrecadado com as músicas de Russo será doado, em parte, para um instituto contra o alcoolismo batizado com o nome do cantor, criado por Manfredini. Que alfineta: "É lamentável ver a obra do meu pai ligada ao álcool". Marcelo Bonfá lançou uma cachaça com o nome "Perfeição", igual ao de uma canção que fez em parceria com Russo.

SUBJUNTIVO
"A palavra perfeição' não pertence a ninguém. É um substantivo da língua portuguesa", diz Bonfá. "O problema não está no produto, mas nas pessoas. Eu não sou alcoólatra. Até amor em excesso faz mal". Para o baterista, que diz defender moderação ao beber, alcoolismo é questão "pessoal".

SEM CHORO
Dilma Rousseff há tempos se queixava do chanceler Antonio Patriota. A oportunidade de demiti-lo por causa da crise com a Bolívia não foi lamentada por ela.

JOGO DURO
As relações do Brasil com a Bolívia atravessam fase tão turbulenta que, na negociação para a libertar os corintianos, um dos mediadores foi o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Ele falou com Evo Morales sobre o caso.

JOGO DURO 2
Um dos argumentos usados por outros interlocutores do presidente da Bolívia também acionados foi o de que os milhares de bolivianos que vivem no Brasil poderiam sofrer algum tipo de hostilidade, já que o Corinthians é o time mais popular do país.

CAMINHO LIVRE
Propostas para dispensar do rodízio de carros advogados, cirurgiões-dentistas, policiais militares e civis e guardas civis metropolitanos serão analisadas hoje pelos vereadores de SP. Os projetos tentam acrescentar as categorias à lista de liberadas. Hoje, medida administrativa já isenta deficientes e médicos.

ALVO
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi furtado de novo. Ele teve o GPS surrupiado no domingo, quando deixou seu carro estacionado na rua Jaceguai, entre 18h e 23h30, para assistir à peça "Cacilda!!!", no Teatro Oficina. Quando voltou, encontrou o vidro do passageiro quebrado. "Por sorte não viram o celular", que também estava no veículo.

TRAVESSEIRO
Um espetáculo de teatro com 12 horas de duração. É o tempo que vai durar "Vigília", montagem com ingressos gratuitos que estreia em setembro, na Oficina Cultural Oswald de Andrade. O espectador tanto poderá assistir a toda a peça de uma vez quanto ver algum tempo, sair, descansar e voltar para seguir o restante do enredo. O texto, de Cássio Pires, fala sobre a noite de um insone, com quem a plateia vivenciará a experiência.

CANETA E BISTURI
O cirurgião plástico Ivo Pitanguy já colocou o ponto final na sua biografia. Prevista para ser lançada pela editora Casa da Palavra, a obra foi escrita por ele mesmo, com a ajuda da escritora Lilian Fontes.

REGISTRO MUSICAL
As apresentadoras Mariana Weickert e Astrid Fontenelle assistiram à pré-estreia do documentário "Na Trilha da Canção", projeto dos irmãos Sarah Oliveira e Esmir Filho, para o GNT. Também estiveram no MIS, anteontem, as atrizes Mariana Ximenes e Gabriela Duarte e os cantores Otto, Marina Lima e Wanderléa.

QUASE CENTENÁRIO
O presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, recebeu autoridades e esportistas no jantar de comemoração dos 99 anos do clube, anteontem, no Spaço Quatá. Entre eles, o presidente da CBF, José Maria Marin, o governador de SP, Geraldo Alckmin, e Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol.

EM TRÊS ATOS
A pesquisadora Sonia Guarita do Amaral esteve no lançamento do livro "1889", do jornalista e escritor Laurentino Gomes, anteontem, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. A obra é o terceiro volume de uma trilogia que conta a história do Brasil. "1808" e "1822" são, respectivamente, o primeiro e o segundo volumes.

CURTO-CIRCUITO
A School of Rock, escola de rock para crianças, foi aberta ontem, na rua dos Chanés, 263, em Moema.

Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula, lança hoje, na feira PhotoImage Brasil, o Portal Fotos Públicas, banco de imagens com atualização diária.

Emerson Fittipaldi e Paulo Skaf realizam jantar hoje, na Fiesp, para celebrar a corrida Le Mans 6 Horas São Paulo.

A Fundação Energia e Saneamento lança hoje, no Museu da Energia, o livro "Transformações Urbanas: São Paulo 1893 a 1940".

O BANDIDO E A VAGABUNDA!


Pacto com os bancos - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 28/08

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez ontem um pacto com os presidentes dos grandes bancos privados do país para que financiem o programa de concessões do governo Dilma Rousseff, que corre risco de ir a pique se não mobilizar a iniciativa privada. É a contrapartida da política de elevação de juros que está sendo empreendida pelo Banco Central (BC), que hoje deve aumentar a taxa Selic para 8,75% ou 9%. Os bancos públicos também vão entrar no consórcio financeiro.

Participaram da reunião os banqueiros Luiz Carlos Trabuco Cappi, do Bradesco; Roberto Setubal, do Itaú; Jesús Zabalza Lotina, do Santander; e André Esteves, do BTG. Os presidentes do Banco do Brasil, Aldemir Bendine; da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda; e do BNDES, Luciano Coutinho, também estavam presentes.

O consórcio financiará os grupos vencedores dos leilões de concessões. Nenhuma instituição financeira isoladamente tem condições de bancar as concessões de ferrovias, rodovias, portos, aeroportos e exploração de petróleo. Mantega aposta todas as fichas no acordo. Precisa reverter as expectativas pessimistas do mercado, que colocam em xeque o sucesso do programa de concessões. Houve muito desentendimento entre a Fazenda e as empresas interessadas, por causa das taxas de retorno das concessões estabelecidas pelo governo.

Riscos
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, considerou a reunião positiva e está otimista com o acordo. “O Brasil, comparado com o bloco dos países emergentes, tem taxa de risco e de retorno dos mais adequados. Num momento como este, as concessões têm tudo para dar certo, pois o Brasil tem escala, mercado interno forte e emprego, e isso o torna atraente para os investidores globais”, disse.

Estão na muda
Roger Pinto cancelou a entrevista coletiva ontem porque teme a retaliação do Planalto, principalmente depois da demissão do ministro Antonio Patriota pela presidente Dilma Rousseff. O diplomata Eduardo Saboia, que trouxe o político boliviano para o Brasil, também cancelou a participação na reunião da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Saboia responderá a um inquérito administrativo e, se depender da presidente Dilma Rousseff, será expulso do serviço público.

Radicalização
O debate sobre as relações do Brasil com a Bolívia está se radicalizando. Ontem, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), criticou o governo. “Ao expor à execração pública o diplomata Eduardo Saboia, o governo brasileiro se curva, mais uma vez, a conveniências ideológicas. Mais grave ainda, abandona as melhores tradições da nossa diplomacia”, disparou. O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, parabenizou Saboia. “Cumprimos uma tradição, própria do povo latino e brasileiro, que é abrigar. Tenho, por dever de consciência, que cumprimentar o diplomata que fez isso.”

Não gostou
A presidente Dilma Rousseff está irritadíssima com o caso Roger Pinto desde sábado, quando tomou conhecimento da chegada do boliviano ao Brasil. No domingo, com o vazamento da informação, decidiu defenestrar o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. A demissão foi consumada na terça-feira, depois de o ministro da Defesa, Celso Amorim, comunicar ao chanceler que deveria pedir demissão e aceitar o cargo de novo representante do Brasil na ONU, no lugar de Luiz Alberto Figueiredo Machado, o novo ministro, a ser empossado hoje.

Garimpo/ O deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA) protestou ontem contra a repressão aos 7 mil garimpeiros de Serra Pelada que se manifestaram contra a empresa canadense Colossus Minerals no último domingo. “Foi uma das cenas mais brutais e injustas que vi nos últimos tempos”, disse. Os garimpeiros recebem 25% da extração de ouro e outros minérios da mina. Os 75% restantes ficam com a empresa.

Maracutaia/ Concurseiros ameaçam pedir na Justiça a anulação do concurso para o Ministério da Fazenda, aplicado no domingo passado. Segundo eles, a prova favorecia os petistas. Uma das questões exigia que o candidato conhecesse a posição do PT sobre financiamento de campanha.

Verdade
O governo deve preencher as duas vagas abertas na Comissão Nacional da Verdade até quinta-feira. Enfrenta uma fogueira de vaidades no próprio colegiado e entre militantes dos movimentos de defesa dos direitos humanos. A comissão, que investiga os casos de tortura durante a ditadura militar, pretende ouvir mais 400 pessoas

Plebiscito já// O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), está exultante: conseguiu ultrapassar as 171 assinaturas necessárias para apresentar a proposta de decreto legislativo convocando imediatamente um plebiscito sobre a reforma política, para que vigore já nas eleições de 2014. Tem apoio de mais de 200 parlamentares.