O ESTADÃO - 28/08
A fuga do senador boliviano Roger Pinto da Embaixada do Brasil em La Paz e uma história mal contada. O que poderia ser um incidente localizado custou o cargo do chanceler Antonio Patriota. Eram três os atores com capacidade decisória envolvidos no caso: o governo boliviano, o Itamaraty e o encarregado de negócios da embaixada na Bolívia, Eduardo Saboia.
A reação inicial de La Paz foi de cautela e moderação. Seus ministros ressaltaram a importância do Brasil como principal parceiro da Bolívia, destacando que o ocorrido não deveria afetar as relações bilaterais.
Saboia assegurou que "o governo boliviano deu sinais de que não atrapalharia". A imprensa publicou declarações atribuídas a integrantes do governo de Dilma Rousseff, segundo as quais foram as autoridades de La Paz que sugeriram a retirada de Pinto da embaixada e a viagem por terra ao Brasil.
Questionado se havia tido autorização do Itamaraty, Saboia desconversou, mencionando que não precisava de autorização para tomar decisões emergenciais. O Itamaraty anunciou que estava examinando o assunto e adiantou que "tomará as medidas administrativas e disciplinares cabíveis", uma advertência implícita à ação de seu encarregado de negócios em La Paz. Sentindo-se alvo das tais medidas, Saboia resolveu botar a boca no trombone e revelou os detalhes da operação, que contou com a participação de fuzileiros navais brasileiros.
Ao chegar a Corumbá, já estavam à espera do senador o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço, policiais federais, médicos e um jato executivo para levar o boliviano a Brasília. Custa crer que tamanho aparato logístico foi fruto de uma decisão solitária do chefe interino da embaixada.
Diz-se que Dilma só foi informada dos fatos quando o senador já estava no Brasil. Irritada, ela aceitou o pedido de demissão do chanceler que será designado para representar o Brasil na ONU, em Nova York, um dos postos mais cobiçados do Itamaraty. Se confirmado. Patriota trocará de lugar com o chanceler já anunciado, Luiz Alberto Figueiredo.
Resta saber o que acontecerá com Saboia, que ficou com a batata quente nas mãos. O Itamaraty não parece ter sido feliz nas bizarras operações em que se meteu (ou foi metido) nos últimos anos, como a invasão da embaixada em Tegucigalpa pelo presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e o confuso episódio que levou à suspensão do Paraguai do Mercosul e permitiu o ingresso da Venezuela no bloco.
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