quarta-feira, agosto 28, 2013

Guerra e bombas no mercado - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 28/08

Espera-se que crise síria acabe rapidamente, para o bem dos sírios e da economia mundial


UMA SEMANA de confusão na Síria não vai ser capaz de fazer ainda mais estragos na economia brasileira do que o revertério das taxas de juros dos Estados Unidos e a decorrente escalada do dólar têm provocado. Nem de longe. Mas:

1) Quem pode dizer que vai durar uma semana?

2) Quem pode dizer que uma semana de confusão na Síria determina o que ocorre nos mercados financeiros, no brasileiro em particular?

Sim, o preço do petróleo subiu bastante ontem, seguindo uma reação entre razoável e estereotipada dos povos do mercado. Mas o dólar ficou mais baratinho ontem no Brasil, na direção contrária de outras moedas de emergentes importantes. Essas seguiram a direção "normal" dos momentos de faniquito ou suposto faniquito, quando se vendem ativos de risco (Bolsa, moedas de países mais pobres etc.) e se compram ativos americanos (títulos da dívida), moedas de país rico, ouro.

O pessoal do mercado brasileiro dizia que o dólar caiu porque entrou dinheiro grosso, ontem. A Bovespa seguiu a manada mundial. Mas sempre pode haver desculpas furadas no mercado. De qualquer modo, não precisávamos de mais incerteza e, em seguida aos prováveis ataques à Síria, de mais riscos.

Não se sabe quando os ataques começam (se a tensão vai ser prolongada, afora o tempo do bombardeio em si). Não se sabe se haverá um bombardeio "cirúrgico", durante dois ou três dias. Se, depois da primeira onda de bombas, haverá necessidade de completar o estrago ou de convencer mais decisivamente Assad de restringir a carnificina ao "business as usual", à rotina, por assim dizer.

Não se sabe se as bombas "cirúrgicas" vão acabar, como de costume, matando um monte de gente inocente, causando revolta adicional pelo Oriente Médio. Segundo os entendidos, nem é possível saber agora se os EUA e companhia pretendem dar uma balançada mais decisiva na ditadura síria.

A opinião convencional é que os EUA não querem forçar a barra, pois podem acabar com um governo islâmico doidivanas no colo. Mas há especialista no assunto para quem um piparote mais forte em Assad não é carta fora do baralho. Enfim, uma consequência impremeditada do ataque pode ser uma reação contra Assad vinda do próprio regime.

E daí?

Daí que não se pode descartar desdobramento mais longo para a crise. Pode haver reação doidivanas de Assad. Pode haver reação maluca de seus amigos no Iraque (grande petroleiro) ou alhures, nas zonas de transporte de petróleo. Quanto mais duradoura a confusão, pior para o preço do petróleo, óbvio, mais ainda se coajduvada por uma alta rápida e adicional do dólar.

Ainda assim, seria preciso algo parecido com uma guerra, série feia de atentados ou crises sérias entre países da região para que o desarranjo provocasse danos duradouros no mercado de petróleo.

Duas semanas de crise vão colocar um dedo na ferida, mas não vão fazer muita diferença na toada principal da mudança pela qual vamos passar, que depende dos juros americanos e da ordem das nossas contas (públicas, externas, inflação). Claro, guerra no Oriente Médio e petróleo em disparada causam recessão até nos Estados Unidos. No entanto, ainda não há guerra.

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