O Estado de S.Paulo - 28/08
O mais difícil para a decisão a ser tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira não será aumentar os juros básicos (Selic), providência que está na previsão geral, mas projetar duas variáveis importantes da economia brasileira: o novo patamar das cotações do dólar e a inflação futura.
Não há segurança de que as decisões tomadas na semana passada sejam suficientes para segurar o câmbio à altura em que está, aí por volta de R$ 2,35 ou R$ 2,40. Até mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, um dos defensores do real desvalorizado, já avisou que considera essa cotação alta demais.
A aposta declarada do Ministério da Fazenda é a de que as atuais pressões sobre o dólar são "passageiras". Baseiam-se no pressuposto de que sua principal causa eficiente seja a já anunciada reversão da política monetária fortemente expansionista do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) que estaria provocando expectativas exageradas demais de escassez de dólares no mercado global. Assim, tão logo a operação desmonte seja colocada em prática, a crise (aliás, "minicrise", como prefere chamar o ministro Mantega) deverá dissipar-se. É um jeito de dizer que não é preciso fazer nada. Ou melhor, é um jeito de dizer que o governo Dilma não quer enfrentar nenhum problema de fundo da economia, porque acredita em que esta seja a melhor postura para dar cumprimento ao calendário eleitoral.
Essa postura de deixar rolar não é inteiramente partilhada pelo Banco Central, hoje mais empenhado em recuperar credibilidade. Seus dirigentes vêm reconhecendo as debilidades da economia e já deixaram claro que a atual condução da política de despesas públicas não está ajudando a empurrar a inflação para a meta; que a falta de confiança dos agentes econômicos é fatal; e que o rombo crescente nas contas externas é fator que concorre para provocar a corrida em direção à proteção (hedge).
O Banco Central sabe que é difícil inverter uma tendência firme do câmbio, especialmente quando nada de eficaz se faz para reverter o pessimismo que prevalece sobre a atividade econômica. Mas, aparentemente, esperava que a nova estratégia do câmbio, baseada na "ração diária" de US$ 500 milhões em leilões de swaps de segunda a quinta-feira mais os leilões de linha de US$ 1 bilhão às sextas-feiras, fosse suficiente para empurrar as cotações do dólar para baixo. Não é certo que seja.
Por essas e outras, o Banco Central terá de trabalhar em estrada sinuosa, barrenta e carregada de neblina para projetar o comportamento futuro do câmbio e seu impacto sobre a inflação.
Mas essa não é hoje a única incógnita que impede uma boa avaliação da inflação que vem vindo aí. O aquecimento desigual do mercado de trabalho é uma delas. A necessidade premente de corrigir as tarifas dos combustíveis é outra. E, dependendo para a que alturas for o reajuste do óleo diesel, será inevitável, também, que se revejam as tarifas dos transportes urbanos - e aí sobram as pressões das manifestações de junho e o que já veio depois disso.
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