CORREIO BRAZILIENSE - 28/08
A presidente Dilma Rousseff tem razão: foi grave o erro cometido pelo diplomata Eduardo Saboia, encarregado de negócios da Embaixada do Brasil na Bolívia, ao remover para o território brasileiro, sem a emissão de salvo-conduto pelo governo boliviano, um asilado político naquela embaixada. O senador boliviano Roger Pinto Molina, opositor do governo do presidente Evo Morales, estava abrigado na sede da representação brasileira em La Paz, à qual recorreu alegando perseguição política, o que, segundo ele, teria motivado processos na Justiça daquele país. O Brasil já tinha concedido o asilo e aguardava a liberação do político para removê-lo com segurança.
O governo Evo Morales não viu a coisa com bons olhos. Exigiu o afastamento do titular da embaixada (entregue interinamente a Saboia) e vinha se recusando a conceder o salvo-conduto. O interino assumiu a responsabilidade de levar por via terrestre o asilado, sem que, para isso, tivesse autorização expressa de seus superiores. A vida do asilado foi posta em sério risco, já que o carro que o conduziu por 1.600km, até Corumbá, em Mato Grosso do Sul, embora contasse com o apoio de fuzileiros navais, passou para áreas bolivianas dominadas por lideranças que o senador tinha acusado de traficantes de cocaína.
Para a sorte das autoridades brasileiras, a operação foi bem-sucedida. Mas, nessa condição de clandestinidade, se tivesse ocorrido um atentado contra a vida ou mesmo um acidente contra a saúde do asilado, o Brasil ficaria em situação ainda mais constrangedora do que a provocada pela remoção irregular. Por enquanto, a única vítima foi o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, afastado do cargo. Saboia vai responder a inquérito administrativo.
Mas essa não foi a única trapalhada nem é certo que Saboia tenha agido sozinho ou sem o conhecimento de importantes autoridades federais. Afinal, os militares que deram segurança à operação eram brasileiros e alguém os escalou para a perigosa missão. Assim, o episódio não parece estar encerrado. E ainda que estivesse, continuaria realçando a urgente necessidade de Brasília rever a desvantajosa relação que tem mantido com o governo de La Paz.
Temos que ser solidários e cooperativos com os vizinhos mais pobres. Mas isso tem limite, ainda que o protegido seja fornecedor de gás para parte de nossas indústrias. Nada deveria dar ao presidente da Bolívia o direito de, à frente de tropas do Exército, comandar a tomada de instalações da Petrobras, como em 1º de maio de 2006. Tampouco mandar revistar o avião do ministro Celso Amorim, da Defesa, em busca do senador Molina. Nem é preciso lembrar a injustificável prisão de torcedores do Corinthians.
A tudo isso, o governo brasileiro tem assistido com passividade e leniência. Não foi diferente com o caso atual. A própria presidente declarou que seu governo negociou em vários momentos o salvo-conduto. "Não conseguimos", disse ela. Ora, se nem isso o Brasil obteve da Bolívia - mesmo depois de 452 dias de tentativas e embora a concessão de salvo-conduto a asilados seja regra mundialmente aceita -, fica difícil negar uma submissão inexplicável aos caprichos de Evo Morales. Simpatias pessoais e proximidades ideológicas não autorizam ninguém a deixar de colocar os interesses nacionais acima de tudo. Sem isso, o Brasil não terá como ser respeitado.
O governo Evo Morales não viu a coisa com bons olhos. Exigiu o afastamento do titular da embaixada (entregue interinamente a Saboia) e vinha se recusando a conceder o salvo-conduto. O interino assumiu a responsabilidade de levar por via terrestre o asilado, sem que, para isso, tivesse autorização expressa de seus superiores. A vida do asilado foi posta em sério risco, já que o carro que o conduziu por 1.600km, até Corumbá, em Mato Grosso do Sul, embora contasse com o apoio de fuzileiros navais, passou para áreas bolivianas dominadas por lideranças que o senador tinha acusado de traficantes de cocaína.
Para a sorte das autoridades brasileiras, a operação foi bem-sucedida. Mas, nessa condição de clandestinidade, se tivesse ocorrido um atentado contra a vida ou mesmo um acidente contra a saúde do asilado, o Brasil ficaria em situação ainda mais constrangedora do que a provocada pela remoção irregular. Por enquanto, a única vítima foi o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, afastado do cargo. Saboia vai responder a inquérito administrativo.
Mas essa não foi a única trapalhada nem é certo que Saboia tenha agido sozinho ou sem o conhecimento de importantes autoridades federais. Afinal, os militares que deram segurança à operação eram brasileiros e alguém os escalou para a perigosa missão. Assim, o episódio não parece estar encerrado. E ainda que estivesse, continuaria realçando a urgente necessidade de Brasília rever a desvantajosa relação que tem mantido com o governo de La Paz.
Temos que ser solidários e cooperativos com os vizinhos mais pobres. Mas isso tem limite, ainda que o protegido seja fornecedor de gás para parte de nossas indústrias. Nada deveria dar ao presidente da Bolívia o direito de, à frente de tropas do Exército, comandar a tomada de instalações da Petrobras, como em 1º de maio de 2006. Tampouco mandar revistar o avião do ministro Celso Amorim, da Defesa, em busca do senador Molina. Nem é preciso lembrar a injustificável prisão de torcedores do Corinthians.
A tudo isso, o governo brasileiro tem assistido com passividade e leniência. Não foi diferente com o caso atual. A própria presidente declarou que seu governo negociou em vários momentos o salvo-conduto. "Não conseguimos", disse ela. Ora, se nem isso o Brasil obteve da Bolívia - mesmo depois de 452 dias de tentativas e embora a concessão de salvo-conduto a asilados seja regra mundialmente aceita -, fica difícil negar uma submissão inexplicável aos caprichos de Evo Morales. Simpatias pessoais e proximidades ideológicas não autorizam ninguém a deixar de colocar os interesses nacionais acima de tudo. Sem isso, o Brasil não terá como ser respeitado.
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