CORREIO BRAZILIENSE - 29/08
Ditadores são, por princípio, violadores de toda espécie de direito. Mas o que dizer de chefes de governos e de Estados democráticos que, sob o pretexto de punir tais violações, se postam acima da jurisprudência internacional? A prática, contrária ao concerto das nações e ao cânone diplomático, vem perigosamente sendo incorporada pelas potências mundiais. Sem constrangimento ou acanhamento por precedentes - mais do que malsucedidos - desastrosos, passa-se por cima até mesmo do fechado clube do Conselho de Segurança (CS) da ONU, com poder de veto, restrito a cinco países: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia.
À revelia desse fórum mundial, coalizão liderada por Washington e Londres invadiu o Iraque em 2003. A desculpa era destruir suposto arsenal de armas de destruição em massa, inclusive químicas, jamais encontrado. Derrubado o regime de Saddam Hussein e enforcado o ditador ao custo da vida de mais de uma centena de milhares de civis e da destruição de boa parte da infraestrutura nacional, o país, uma década depois de iniciada a ofensiva, é o signo da instabilidade. Disputas étnicas e religiosas se radicalizaram e atentados terroristas estão integrados ao cotidiano de completa insegurança.
Mesmo assim, novamente se fala numa invasão unilateral, sem o endosso das Nações Unidas e por causa de suposto uso de armas químicas. Desta vez, o alvo é a Síria, que tem como aliados dois dos membros permanentes do CS: a China e a Rússia. Mais uma vez, a orquestração do ataque parte dos Estados Unidos e do Reino Unido. Com a diferença de que já não são George W. Bush e Tony Blair os ocupantes da Casa Branca e de Downing Street, mas Barack Obama e David Cameron. Grave sinal de que a política internacional imperalista não é questão de governo, mas de Estado. Muda-se o presidente e o primeiro-ministro, mantém-se o modus operandi.
É razoável supor que agora haja de fato um tirano sanguinário fazendo uso de armas químicas contra populações civis. Mas o massacre da semana passada na periferia de Damasco segue sob investigação e ainda não foi possível determinar se teve a condução de forças leais ao presidente sírio, Bashar Al-Assad, ou de rebeldes que lutam para tirá-lo do poder. De todo modo, as consequências de uma intervenção externa são previsíveis. Primeiro, a ONU estaria mais uma vez desmoralizada. Segundo, a morte de inocentes é mais do que uma probabilidade, uma certeza diante da hipótese de ataque. Terceiro, o recrudescimento da ira de grupos terroristas, com a disseminação de atentados mundo afora, é evidência irrefutável.
A falta de bom senso no encaminhamento da solução bélica é tamanha que, na lista de pelo menos 50 alvos em poder do comando militar americano, segundo admitiu fonte do Pentágono ao New York Times, não constam depósitos de arsenal tóxico. Ora, não seriam as armas químicas a razão do ataque? E, por óbvio, não seriam elas detonadas com disparos de foguetes, causando o desastre humanitário e ambiental que justamente se diz querer evitar? Os riscos da estupidez de uma ação armada crescem na exata medida em que ela vai se tornando iminente. O uso da força não deve ser descartado a priori. Mas a montagem do teatro da guerra não pode ir além de ensaio destinado a dissuadir a Síria a aceitar a saída diplomática.
À revelia desse fórum mundial, coalizão liderada por Washington e Londres invadiu o Iraque em 2003. A desculpa era destruir suposto arsenal de armas de destruição em massa, inclusive químicas, jamais encontrado. Derrubado o regime de Saddam Hussein e enforcado o ditador ao custo da vida de mais de uma centena de milhares de civis e da destruição de boa parte da infraestrutura nacional, o país, uma década depois de iniciada a ofensiva, é o signo da instabilidade. Disputas étnicas e religiosas se radicalizaram e atentados terroristas estão integrados ao cotidiano de completa insegurança.
Mesmo assim, novamente se fala numa invasão unilateral, sem o endosso das Nações Unidas e por causa de suposto uso de armas químicas. Desta vez, o alvo é a Síria, que tem como aliados dois dos membros permanentes do CS: a China e a Rússia. Mais uma vez, a orquestração do ataque parte dos Estados Unidos e do Reino Unido. Com a diferença de que já não são George W. Bush e Tony Blair os ocupantes da Casa Branca e de Downing Street, mas Barack Obama e David Cameron. Grave sinal de que a política internacional imperalista não é questão de governo, mas de Estado. Muda-se o presidente e o primeiro-ministro, mantém-se o modus operandi.
É razoável supor que agora haja de fato um tirano sanguinário fazendo uso de armas químicas contra populações civis. Mas o massacre da semana passada na periferia de Damasco segue sob investigação e ainda não foi possível determinar se teve a condução de forças leais ao presidente sírio, Bashar Al-Assad, ou de rebeldes que lutam para tirá-lo do poder. De todo modo, as consequências de uma intervenção externa são previsíveis. Primeiro, a ONU estaria mais uma vez desmoralizada. Segundo, a morte de inocentes é mais do que uma probabilidade, uma certeza diante da hipótese de ataque. Terceiro, o recrudescimento da ira de grupos terroristas, com a disseminação de atentados mundo afora, é evidência irrefutável.
A falta de bom senso no encaminhamento da solução bélica é tamanha que, na lista de pelo menos 50 alvos em poder do comando militar americano, segundo admitiu fonte do Pentágono ao New York Times, não constam depósitos de arsenal tóxico. Ora, não seriam as armas químicas a razão do ataque? E, por óbvio, não seriam elas detonadas com disparos de foguetes, causando o desastre humanitário e ambiental que justamente se diz querer evitar? Os riscos da estupidez de uma ação armada crescem na exata medida em que ela vai se tornando iminente. O uso da força não deve ser descartado a priori. Mas a montagem do teatro da guerra não pode ir além de ensaio destinado a dissuadir a Síria a aceitar a saída diplomática.
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