CORREIO BRAZILIENSE - 29/08
Aliados começam a achar que algumas propostas que em princípio pareceram uma boa iniciativa do governo Dilma podem resultar em verdadeiros escoadouro de votos, incluindo o Programa Mais Médicos e o acordo com Cuba
Aos poucos, deputados e senadores da base aliada vão olhando com uma certa cautela para o que os espera logo ali na frente em termos de ações de governo. Grosso modo, muitos calculam que sobrará para a presidente Dilma Rousseff apenas as ações sociais e olhe lá. Isso porque até aqui tudo o que parecia pensado para mostrar que o país seguia seu curso com potência total se tornou arriscado. Não por acaso, muitos adotam o discurso de “muita calma nessa hora” quando o tema é a aliança para o ano que vem.
O primeiro projeto que citam é a redução da tarifa de energia elétrica. Algo pensado para aliviar o bolso do brasileiro e, de quebra, servir de cartão de visita no horário eleitoral, mas que causa uma série de problemas. A redução terminou por ajudar a secar o caixa dos estados, das prefeituras e das distribuidoras de energia. As chuvas, também escassas, fizeram acionar as termelétricas, cuja conta vai pingar no ano eleitoral e terá de ser paga, dada a situação de dificuldade das empresas de energia.
O segundo ponto mencionado nas conversas é o plebiscito sobre a reforma política, defendido pela presidente como uma resposta às manifestações que pediam mais qualidade de serviços públicos nas áreas de educação, saúde e mobilidade urbana. A iniciativa foi entendida por muitos como uma forma de jogar as ruas contra o Congresso Nacional. E terminou por obrigar a presidente a chamar os caciques partidários e líderes para jantares e almoços, de forma a reatar laços.
O assunto ficou esquecido nas últimas semanas, era dado como morto, mas ontem PT, PCdoB, PSB e PDT entregaram a proposta de plebiscito para ser levada ao plenário das duas Casas. Apesar disso, não há a menor garantia de que a consulta será feita.
Depois do plebiscito, veio a proposta de R$ 50 bilhões para projetos de mobilidade urbana. No entanto, falta definir de onde virão os recursos, uma vez que os estados, as prefeituras e o próprio governo federal não têm toda essa dinheirama para aplicar em investimentos. Ou seja, é projeto para longo prazo. Falou-se ainda que a arrecadação do pré-sal iria para educação e o máximo que se conseguiu até agora é a promessa de que, no futuro, virá mais dinheiro.
Nos últimos dias, essas propostas com alto índice de possível frustração no ano que vem foram acrescidas de, pelo menos, mais uma: a importação de médicos. Ok, o governo tem razão quando diz que é melhor do que nada. Ocorre que as ponderações dos oposicionistas fazem sentido, quando se referem aos riscos e levantam críticas ao modelo fechado para trazer médicos cubanos.
Primeiro, pagar US$ 27 aos médicos daquele país e entregar o grosso do dinheiro ao governo de Cuba dá o discurso de que o governo petista patrocina a semiescravidão. Em segundo lugar, se um paciente tiver problemas agravados nas mãos desses profissionais, o projeto do governo feito para atender a população pode ir pelo ralo com os votos de Dilma na busca pela reeleição no ano que vem. Afinal, não dá para esquecer que os médicos têm mais capilaridade do que o PMDB, que hoje tanto preocupa o governo. Não se surpreendam se os políticos foram vistos nas missas rezando com afinco. Afinal, estão todos tentando afastar esses receios que insistem em acompanhá-los na maioria das conversas políticas.
Por falar em insistência…
A luta do presidente da Bolívia, Evo Morales, em favor da extradição do senador Roger Pinto Molina vai esbarrar em aspectos que dizem respeito à política interna brasileira. Primeiro, se Dilma entregar o senador ao governo boliviano e algo de ruim acontecer a ele, a oposição brasileira cairá sobre a presidente e o PT de uma forma estrondosa. Segundo, o diplomata Eduardo Saboia, que ajudou na fuga do senador, conquistou mais simpatias do que desafetos depois do episódio. Portanto, até mesmo do ponto de vista da política interna, todo cuidado é pouco.
E o Donadon, hein?
A fórmula que a Câmara escolheu para votar a cassação do deputado Natan Donadon (RO) valerá para todos os envolvidos no processo do mensalão. Ou seja, votação secreta em plenário e não ato de ofício da Mesa Diretora. Donadon está preso sob acusação de desvio de dinheiro da Assembleia Legislativa de Rondônia.
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