ESTADÃO - 01/09
A queda de Collor e a posse de Itamar foram uma festa quase apoteótica, mas a troca de comando do País de Dilma Rousseff para Michel Temer foi formal, protocolar, sem “povo” nos gramados do Congresso e, pior, em clima de racha da nova base aliada.
Durante todos os longos meses do processo de impeachment, todas as previsões eram de derrota de Dilma. O que não se esperava é que, aos 48 do segundo tempo, o Senado fatiasse o artigo da Constituição sobre o impeachment e criasse uma excrescência jurídica: o artigo diz que o presidente é cassado com perda dos direitos políticos, mas Dilma foi cassada sem perder os direitos políticos.
Como assim? Um destaque apresentado pelo PT e encampado pelo presidente da sessão e do Supremo, Ricardo Lewandowski, pode jogar no lixo um artigo – ou meio artigo – da Constituição? A questão pode ir parar no próprio Supremo, que ficaria numa saia-justa, mas ontem mesmo o PSDB e o DEM recuaram da ideia de recorrer à alta Corte.
Se o questionamento jurídico parece estar afastado, até segunda ordem, o racha na base aliada de Temer já explode no seu primeiro dia de governo efetivo, o próprio dia da posse. Com quem o PT negociou o fatiamento da Constituição? Com Temer? Com a cúpula do PMDB? Com o PSDB e o DEM?
Todos eles juram de pés juntos que não têm nada com isso e apontam o dedo para o senador Renan Calheiros. Aí tem. Desconfia-se que, por trás da colher de chá para Dilma, esteja um interesse comum: livrar os futuros réus da Lava Jato da inelegibilidade. O Senado ontem abriu a porteira e onde passa boi, passa boiada. E passa Eduardo Cunha. Por isonomia, ora, ora.
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