Os números do PIB sugerem que, sim, batemos em um fundo de poço. As profundas do inferno recessivo em que ainda nos demoramos parece ter ocorrido na virada de 2015 para 2016. Daqui em diante, o "cálculo das probabilidades é uma pilhéria", como dizia o tuberculoso Manuel Bandeira.
As incertezas não advêm apenas do fato de que previsões econômicas são um gênero tedioso de ficção científica, na "boutade" de Paul Krugman, o Nobel de economia. O PIB depende de política, bidu, como sempre, mas de imediato e em grande parte de arranjos do novo "bloco de poder", nome elegante que FHC deu ao que ora é uma barafunda com uma carta de intenções.
Os arranjos vão do acordão contra efeitos da Lava Jato à nova redistribuição de favores e aos pactos com as castas política, burocrática, Judiciária e empresarial (a que vive no mercado de acertos com o Estado).
Os esteios mínimos de uma recuperação econômica dependem da contenção da dívida pública que cresce sem limite ("teto" e reformas previdenciárias), da decorrente baixa de juros e de programa de investimentos em infraestrutura. Em qualquer situação, seria uma reviravolta socioeconômica enorme. Há mais.
Além de enfrentar o conflito sociopolítico, o "teto" de gastos pode ser triturado ou diluído a depender de barganhas tais como a da avacalhação da Lava Jato.
Um protótipo de lambanças foi desenhado ontem mesmo, na condenação com jeitinho de Dilma Rousseff, cassada por crime do qual, a seguir, parece ter sido quase absolvida. Como ficou óbvio, o experimento parece uma "emenda Cunha", passaporte da alegria que pode ser estendido a comparsas desse deputado.
Como se não bastasse, há os primeiros passos da dança de 2018, com o PSDB dando piruetas no muro de seu apoio a Michel Temer.
Em breve, a casta política vai pagar agrados à casta judiciária e burocrática de elite, com aumentos salariais impagáveis.
De resto, há ainda os embrionários e nebulosos pactos do governo com o setor privado, que uns podem ser legítimos, uns, daninhos, e outros, negociatas.
Há propostas de mexidas mui suspeitas na lei de licitações. Há um sinal esquisito como o desse crédito do BNDES para a compra de empresas com problemas. Um governo "liberal" que tem planos retrógrados para agências reguladoras. Não se sabe o que será dos acordos de leniência com empresas corruptas. Etc.
Com o plano econômico básico e as ditas reformas microeconômicas vão atravessar esse mar de barganhas, talvez negócios?
Quanto ao PIB, persiste a fé na reviravolta, no ponto de inflexão, o nome que se dê. Os dois maiores bancos privados sugerem que chegamos ao fundo.
Os economistas do Bradesco diziam nesta quarta (31) que "a sensação térmica, considerando vários índices de atividade já divulgados, é de estabilidade, e não de contração". Acreditam em recessão de 3% neste ano.
Os do Itaú ainda estimam baixa de 3,5%, mas acreditam em crescimento no trimestre final do ano; devem revisar os números para cima. Ontem ainda, o BC falava em "evidências de que a economia brasileira tenha se estabilizado recentemente e sinais de possível retomada gradual da atividade econômica".
Falta só combinar com esse indizível Congresso.
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