ESTADÃO - 01/09
Confirmado o impedimento de Dilma Rousseff, inicia-se oficialmente não apenas o governo de transição chefiado por Michel Temer, mas também (talvez principalmente do ponto de vista político) o retorno do PT ao campo da oposição – seu berço e residência durante 22 anos, antes de tornar-se situação pelo período agora findo de 13 anos. Ironia do destino, número mítico do partido.
Na votação os senadores decidiram-se por gesto de benevolência ao não aprovar (por falta de quórum, não de votos) a inabilitação para o exercício de cargos públicos, adotando aí peso e medida diferentes aos aplicados a Fernando Collor, cujo rito do impeachment de 1992 serviu de modelo ao processo atual.
Isso permitiu aos petistas contabilizar uma decisão favorável no placar eletrônico, mas não os autoriza a comemorações. Muito se fala em Brasília sobre a expertise do PT no exercício da oposição e, portanto, no protagonismo que estaria prestes a reocupar nessa função.
É verdade que o partido fez oposição competente – falando pragmaticamente – e foi por isso reconhecido pelo eleitorado quando o País resolveu que era hora de mudar. Ocorre que fez isso a bordo de uma trajetória cujos pontos cruciais já não existem: defesa da ética, da promessa de levar a classe operária ao paraíso e adotar novo modo de fazer política. Mitos derrubados pela realidade dos escândalos, das alianças carcomidas e no resultado desastroso (principalmente para a classe operária) e ilusório da condução da economia.
O PT do passado que venceu não é o PT do presente que perdeu e terá trabalho para convencer a população de que, no futuro, um outro PT é possível.
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