Defensores de Dilma Rousseff comemoraram a conclusão da perícia do Senado que não detectou a participação da presidente hoje afastada nas ditas pedaladas fiscais -nome dado, não custa recordar, ao uso indevido de dinheiro dos bancos federais no pagamento de despesas do governo.
O laudo técnico pode ter lá sua importância nas formalidades do processo de impeachment, mas não basta para reescrever a história. Independentemente de quem assinava os papéis, as pedaladas já eram de conhecimento público bem antes da popularização do apelido.
Num exemplo particularmente revelador, noticiou-se, em agosto de 2014, que a Caixa Econômica estava em conflito com o Tesouro Nacional porque não conseguia receber os recursos necessários para o pagamento de benefícios como o seguro-desemprego e o Bolsa Família.
O caso havia chegado à Advocacia-Geral da União em maio daquele ano, e os atrasos se acumulavam desde 2013. Com isso, a CEF era obrigada a assumir a conta descoberta, enquanto o Tesouro ostentava despesas menores em seus balanços. A partir do episódio, pendências com o BNDES e o Banco do Brasil foram recordadas e/ou reveladas.
Compreensivelmente, a tese principal da defesa de Dilma nunca foi a do "eu não sabia". Procurava-se, isso sim, caracterizar a pedalada como uma operação corriqueira, praticada em outros governos (evitando, porém, comparar dimensões).
É provável -e lamentável- que tais desmandos tivessem merecido vista grossa se a ruína das contas públicas, mascarada até o desfecho das eleições, não tivesse levado o país a um colapso econômico e político.
Não por acaso, os aliados da presidente afastada se concentram em questionar em separado, até a minúcia jurídica, cada pedaço da acusação. Já os defensores do impeachment, explicitamente ou não, se apoiam no conjunto da obra.
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