O GLOBO - 11/06
Com inflação tão alta, não há agenda positiva que se sustente. A inflação não dá trégua este ano. Continua subindo e surpreendendo negativamente. A taxa em maio veio mais alta que o esperado, e o acumulado em 12 meses atingiu o maior valor desde dezembro de 2003. Os economistas voltaram para seus modelos de projeção e aumentaram as estimativas para o ano. Alguns estão prevendo 9% para a taxa anual de 2015.
Em apenas cinco meses, o IPCA chegou a 5,34%, acima da meta de 4,5% para o ano todo. O INPC, índice que mede o custo de vida de quem recebe até cinco salários mínimos, está em 5,99%. A energia elétrica já subiu mais de 50% este ano, mas isso não explica tudo. Os alimentos foram o item que mais subiu no mês. E esta é a época em que normalmente os alimentos começam a reduzir a pressão.
Segundo a coordenadora de índices de preços ao consumidor do IBGE, Eulina Nunes, os alimentos foram pressionados não só pelo clima, mas também pela alta do dólar. De abril para maio, esses preços, junto com as bebidas, aceleraram de 0,97% para 1,37%.
- No caso dos alimentos, além do clima, o dólar tem influenciado bastante. O pão francês tem sido pressionado pelo trigo, que é importado e cotado em dólar. O dólar também tem pressionado os custos da carne, pela exportação, e outros itens básicos do orçamento das famílias - disse.
O mercado previa uma taxa menor do que a de abril, mas ela veio maior. As previsões estavam em torno de 0,59% e ficou em 0,74%. Como no mesmo mês de 2014 a taxa também foi de 0,46%, o acumulado em 12 meses continuou subindo, de 8,17% para 8,47%. Esse é o valor mais alto desde dezembro de 2003.
A inflação dos preços administrados chegou a 14%, acumulada em 12 meses até maio, e isso em grande parte é por causa da energia. A expectativa é de que a pressão daqui para frente seja menor, mas outro problema apareceu no radar, como já falado aqui na coluna: a defasagem do preço da gasolina voltou a preocupar. Com o petróleo baixo, a Petrobras tinha passado a ter lucro com a venda da gasolina e agora a estatal voltou a ter prejuízos. O consumidor já enfrentou um aumento este ano para que o governo pudesse recompor a Cide, que havia sido zerada no primeiro mandato da presidente Dilma. Agora, pode ter que amargar nova alta para compensar o aumento do petróleo e do dólar.
Com uma taxa assim tão alta, o risco é o percentual se propagar na economia, ainda que a demanda esteja fraca. A grande preocupação do Banco Central atualmente é evitar que essa taxa em 12 meses sirva de parâmetro para outros reajustes, como nos salários e na renovação de contratos de serviços e produtos. Há uma queda de braço entre a indústria, que tenta repassar seus custos para os preços, e o varejo, que não aceita porque sabe que poderá enfrentar uma queda maior do consumo. A taxa de juros ao esfriar a economia acaba sendo um aliado de quem está tentando impedir o repasse dos custos. Isso significa, no final das contas, manter o ambiente recessivo com juros altos.
Os economistas esperavam que houvesse uma queda da inflação de serviços, que esteve alta nos últimos anos. Mas ela permanece em 8% ao ano. As despesas pessoais aumentaram 8,13% em 12 meses. Os itens ligados a educação subiram 8,44%. O grupo de saúde e cuidados pessoais aumentou 7,38%. O índice de difusão, que mede os preços que subiram, entre todos os pesquisados, ficou em 70%, ou seja, sete em cada 10 produtos ficaram mais caros.
Hoje, o Banco Central vai divulgar a ata da última reunião do Copom em que deve dar indicações sobre seus próximos movimentos. No mercado, cresceram as apostas de que os juros possam chegar a 14,75%, com altas de mais um ponto em relação ao patamar atual, de 13,75%.
Infelizmente, não há trégua em nenhum dos fronts: inflação alta, juros subindo, e atividade em queda. Na economia, o ambiente alimenta o pessimismo, que acaba reduzindo ainda mais o impulso dos empresários para investir. Na política, a inflação alta mantém baixa a popularidade do governo. O que mais tira apoio de um presidente é a carestia, principalmente quando ela afeta itens básicos, como alimentos. Não há agenda positiva que ajude o governo quando a inflação mina o orçamento doméstico.
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